ALESSANDRO
O escritório do meu pai sempre teve cheiro de charuto e pólvora.
Mesmo agora, vazio, ainda parece que ele está aqui — observando, testando minha lealdade uma última vez.
O silêncio é cortado apenas pelo som do relógio antigo sobre a lareira.
Cada tique é uma acusação.
Reviro as gavetas, os cofres ocultos atrás das estantes, os arquivos trancados.
Meu pai era metódico. Raramente deixava pontas soltas.
Mas essa… essa era uma teia que ele mesmo teceu.
Relatórios. Fotografias antigas.
E, entre elas, um nome.
Donatella Moretti é Donatella D’Amato?
Demoro alguns segundos para entender o que estou vendo.
As datas. Os selos da Camorra. Os registros de exílio.
Meu sangue esfria.
Donatella… minha tia.
A mulher que todos acreditavam ter morrido há mais de vinte anos.
Nem todos, aparentemente.
Mas não estava morta.
Estava escondida.
E com ela… a filha do Pakhan da Bratva.
Meu pai sabia.
O tempo todo.
O velho D’Amato carregava esse segredo como um fardo e uma arma.
O equilíbrio entre d