Valentina achava que já tinha visto de tudo no mundo dos aplicativos de namoro - até marcar um encontro no Dia dos Namorados com o match errado. Ela só queria fugir da solidão e esquecer o ex que a trocou por uma influencer fitness, mas acabou jantando com Rafael, um cara sarcástico, espontâneo e completamente diferente do que ela achava que queria. O problema? Ele não era seu match. O pior? Ela também não era o dele. Entre mensagens confusas, encontros desastrosos e uma química inexplicável, Valentina e Rafael descobrem que, às vezes, o amor aparece no erro mais improvável. Será que um match nada perfeito pode virar o par ideal?
Leer másO sol se despedia no horizonte quando Rafael parou na porta da sala, com a testa franzida e um embrulho pequeno nas mãos. O céu estava pintado de tons laranjas e cor-de-rosa, como se o universo tivesse decidido dar o seu toque final num dia que, até então, tinha sido… peculiar.— Valentina? — ele chamou, tentando manter a voz firme.Do outro lado da casa, um barulho semelhante a uma avalanche precedeu o grito:— Se o Joaquim colocar mais um brinquedo molhado na geladeira, eu vou criar uma lei municipal aqui dentro!Rafael sorriu. A rotina tinha se tornado uma montanha-russa, mas era a única onde ele queria estar preso para sempre. Ele se aproximou devagar, o embrulho escondido atrás das costas.Valentina surgiu na cozinha com uma toalha no ombro, o cabelo preso em um coque bagunçado e um rolo de papel-toalha como arma improvisada.— Adivinha quem achou um dinossauro de borracha mergulhado no suco de uva?— Joaquim? — Rafael chutou.— Não, Bruce. Claro que foi o Joaquim! — ela responde
Valentina e Rafael estavam sentados lado a lado no sofá cor de creme do consultório, com os corpos rígidos e os braços cruzados como dois adolescentes de mal um com o outro. Entre eles, o silêncio era cortante, o tipo que não gritava, mas murmurava irritação passiva-agressiva.Joaquim, agora com cinco anos, alheio ao clima tenso, brincava alegremente no tapetinho de borracha com um dinossauro verde e um gato de pelúcia com uma faixa ninja na cabeça. O mesmo combo temático do aniversário passado, porque, como dizia ele, "dinossauros e gatos ninjas são eternos".A psicóloga, uma mulher de expressão serena e blazer bege, observava o casal com um bloquinho no colo. Seu nome era Dra. Ivana. E, honestamente, ela já ouvira de tudo. Mas aquele casal prometia render mais do que uma temporada de reality.— Então vocês vieram para a terapia de casal? — ela perguntou com gentileza, tentando abrir o campo de batalha com diplomacia.Valentina bufou, os olhos faiscando.— Não. A gente veio porque di
Três Anos Depois…Valentina corria pela casa com uma coroa de princesa na cabeça, segurando um brigadeiro torto e com metade da cobertura derretida escorrendo pelo braço. Estava ofegante, com os olhos arregalados e o vestido rosa cheio de marcas de tinta verde.— Joaquim! Não joga bolo no amiguinho! — ela gritou, desviando de uma bexiga voadora que passou raspando sua orelha, tentando salvar o que restava da decoração da festa.O tema era "Dinos contra Gatos Ninjas". Uma escolha inusitada, claro, feita pelo aniversariante mais excêntrico da escola. Joaquim, agora com cinco anos recém-completados, usava um macacão de dinossauro com uma faixa preta amarrada na testa, e carregava um nunchaku de brinquedo com a habilidade de um guerreiro que claramente nunca teve limites.No canto da sala, Rafael, suando mais que tampa de marmita, tentava distrair um grupo de crianças enlouquecidas com um show de mágica improvisado — que estava mais para desastre do que qualquer coisa remotamente mágica.
Dois anos depois.A casa continuava sendo um caos arquitetônico com alma. Meia parede descascada, sofá manchado de suco de uva e cheiro permanente de bolo quase queimado. A diferença? Agora tinha ainda mais vida, mais som, mais cor. Mais bagunça que qualquer arquiteto toleraria, mas também mais amor do que qualquer projeto de revista conseguiria transmitir.Joaquim — que antes era um bebê ranzinza e bochechudo — agora era um furacão de quatro anos que acreditava piamente ser um cavaleiro Jedi. Corria pelos corredores com um sabre de luz azul numa mão, um balde virado na cabeça como capacete e um grito de guerra ensaiado:— BRUUUUCE, EU VOU TE SALVAAAAR!Bruce, o cachorro mais dramático da galáxia, estava deitado em cima de três almofadas na sala, completamente resignado com seu destino de prisioneiro do “Planeta Sofá”. Ele soltou um suspiro digno de novela mexicana.Conde de Meow, por sua vez, seguia sendo o emo oficial da casa. Agora com uma capa preta feita por Valentina e um olhar
Era véspera do Dia dos Namorados. E Valentina, com o coração agitado como festa junina, decidiu que não deixaria a data passar em branco. Depois de tantos tropeços — do match mais aleatório da história dos aplicativos, dos dias cheios de fraldas, gatos possessivos e crises existenciais com sabor de mamadeira — ela achava que mereciam mais que um “te amo” sussurrado entre um bocejo e um “cadê a chupeta do Joaquim?”.Eles mereciam um momento digno de final de comédia romântica: com trilha sonora, luz baixa, cheiro de comida boa e amor transbordando pelos poros.Mas, claro, com ela, nada era simples. Nunca foi.A cozinha virou uma zona de guerra emocional. O arroz queimou como se tivesse guardado mágoa. A mousse de chocolate derreteu no micro-ondas como um colapso nervoso. E o espumante — ah, o espumante! — estourou dentro da geladeira como se dissesse “chega, vocês já viveram demais hoje.”— Amor? — gritou Valentina, suada, com a blusa manchada de calda, farinha no nariz, o coque desman
O despertador tocou antes das seis.Rafael rolou na cama, buscando um canto onde o som não o alcançasse, mas não havia escapatória. Valentina já estava meio sentada, os cabelos presos de qualquer jeito, os olhos ainda inchados de sono.A viagem parecia um sonho. E agora eles acordavam dele, direto para o campo de batalha dos dias úteis.— Joaquim tem aula hoje. — murmurou ela, se levantando com o peso do mundo nos ombros. — E eu tenho reunião com a coordenadora pedagógica às nove.— Eu tenho vistoria na obra às sete e meia. — respondeu Rafael, sentando-se com esforço.Os dois se olharam por um segundo.Era como se um muro invisível tivesse reaparecido entre eles. Um que a viagem havia derrubado — e que agora se reconstruía sozinho, tijolo por tijolo, feito de prazos, obrigações, lembretes, leite derramado e emails não respondidos.— Café ou banho primeiro? — perguntou ele, já andando em direção à cozinha.— Os dois ao mesmo tempo se eu conseguisse.Joaquim acordou emburrado. Chorou po
Último capítulo