Valentina achava que já tinha visto de tudo no mundo dos aplicativos de namoro - até marcar um encontro no Dia dos Namorados com o match errado. Ela só queria fugir da solidão e esquecer o ex que a trocou por uma influencer fitness, mas acabou jantando com Rafael, um cara sarcástico, espontâneo e completamente diferente do que ela achava que queria. O problema? Ele não era seu match. O pior? Ela também não era o dele. Entre mensagens confusas, encontros desastrosos e uma química inexplicável, Valentina e Rafael descobrem que, às vezes, o amor aparece no erro mais improvável. Será que um match nada perfeito pode virar o par ideal?
Leer másFaltavam exatamente três dias para o Dia dos Namorados, e Valentina já estava se preparando psicologicamente para a enxurrada de posts com buquês de rosas, jantares à luz de velas e legendas cafonas no I*******m.
Ela respirou fundo, largou o celular no sofá e bufou como quem acabara de carregar uma geladeira nas costas. O problema não era estar solteira. O problema era estar solteira pela primeira vez em cinco anos — e ainda por cima depois de ser trocada por uma mulher que postava frases motivacionais e receitas fit. — Não é possível que eu tenha sido largada por uma mulher que usa “gratidão” como vírgula — murmurou, afundando o rosto no travesseiro. O apartamento estava silencioso, exceto pelo som do ventilador rangendo no canto do quarto. Valentina estava de moletom, com uma máscara de argila no rosto e um pacote de batata chips equilibrado na barriga. Aquela era sua rotina desde que Leandro, o ex, saíra de casa três meses antes com sua air fryer e metade dos talheres. A amiga, Fernanda, dizia que ela precisava “voltar pro jogo”. Valentina dizia que não era uma partida de futebol. Era a vida dela. Um coração partido. E um ego pisoteado por um personal trainer de sorrisinho falso. Mas naquele fim de semana, algo mudou. Enquanto comia cereal direto da caixa, viu um anúncio no celular: “Jantares exclusivos para casais e solteiros! Encontre o seu par no Dia dos Namorados com o aplicativo LoveSpark.” Ela riu. Alto. Quase engasgou com os flocos de milho. — Aplicativo de namoro no Dia dos Namorados? Nem se me pagarem. Corta para: duas horas depois, Valentina estava baixando o aplicativo, criando perfil e tentando escolher entre fotos em que parecia misteriosa, simpática ou “naturalmente desinteressada”, como Fernanda sugerira. Nome: Valentina Idade: 29 Profissão: Analista de marketing Hobbies: Café forte, séries ruins e reclamar da vida Procura por: Alguém que saiba usar vírgula e não tenha medo de compromisso A descrição era sincera demais? Talvez. Mas ela estava cansada de jogar. Queria alguém que não fingisse ser profundo só porque lia Paulo Coelho. Em menos de vinte minutos, ela tinha três matches. Um cara que dizia “se não for pra causar, nem saio de casa”. Um que mandou uma figurinha de um cachorro com coraçãozinho. E o terceiro — Lucas, 32 anos, advogado, amante de vinhos, cachorros e trilhas — parecia promissor. Valentina ficou olhando para a foto dele como se pudesse decifrar sua alma por trás de um blazer e um sorriso branco demais. — Ok, Lucas... Você é bonito demais pra ser real, mas vou fingir que acredito. Conversaram por dois dias. Ele era educado, engraçado na medida certa, e não usava abreviações como “vc” ou “td bem?”. Isso já era um milagre. Na véspera do Dia dos Namorados, ele a convidou para jantar em um restaurante elegante do centro. Valentina hesitou. Era arriscado. E se ele fosse esquisito? E se fosse casado? E se ela mesma surtar e desistir na última hora? Mas ela aceitou. — O que pode dar errado? — perguntou para o espelho enquanto passava batom vermelho. No dia do encontro, o céu estava nublado e o trânsito infernal. Valentina chegou ao restaurante com cinco minutos de atraso, usando um vestido preto justo e salto médio. Nada chamativo demais. Nada casual demais. Ela foi conduzida até uma mesa perto da janela, com uma vista bonita da cidade iluminada. Sentou-se, ajeitou o cabelo e checou o celular. Lucas ainda não tinha chegado. “Trânsito, imagino”, pensou, enquanto bebia o vinho que o garçom trouxe sem ela pedir. Cinco minutos depois, um homem alto, de barba por fazer e cabelo bagunçado entrou no restaurante. Vestia jeans escuros e uma camisa branca com as mangas dobradas. Parou, olhou em volta e veio na direção dela. Valentina sorriu. Era ele. Só podia ser. — Oi! Você é... — ele tenta falar, mas ansiosa Valentina pula a etapa inicial. — Valentina. E você, Lucas, né? Ele fez uma careta confusa. — Lucas? Não... Rafael. Silêncio. Valentina olhou para ele. Depois olhou ao redor, tentando entender. — Espera... Você não é o cara do aplicativo LoveSpark? — LoveSpark? Eu nem sei o que é isso. Ela arregalou os olhos. — Você... não tá aqui pra um encontro? — Tô, mas com a Camila. Minha amiga. A gente marcou de conversar. Tô tentando convencer ela a voltar com o ex. Ela piscou, sem acreditar. — Então você sentou aqui por engano? Ele olhou para o número da mesa, depois para o celular. — É... Acho que a Camila falou “mesa 7”. E essa é... — Mesa 7. Eles se olharam. E, por um instante, começaram a rir. — Ok, isso é oficialmente o pior começo de encontro da história — disse ela. — Ainda nem é um encontro — respondeu ele, puxando a cadeira e sentando. — Mas pode ser, se você quiser. Valentina riu mais alto ainda. — Você tá me cantando depois de invadir minha mesa? — Tô tentando salvar sua noite. Parece que seu match deu o cano. Ela respirou fundo e olhou para o celular novamente. Nenhuma mensagem. Nenhuma explicação. — Ele me deu um bolo. Literalmente. Nem avisou. — Então deixa eu te pagar um jantar e a gente finge que isso tudo foi planejado. Ela hesitou por dois segundos. Depois sorriu. — Por que não? O garçom voltou e eles fizeram os pedidos. Rafael era engraçado, espontâneo e um pouco sem filtro. Contava histórias absurdas sobre os clientes da agência de publicidade onde trabalhava e imitava vozes como se estivesse num stand-up. Valentina se pegou rindo com vontade pela primeira vez em meses. Eles comeram, beberam vinho, dividiram uma sobremesa de chocolate e ignoraram completamente o fato de que tinham se conhecido por acaso. Quase três horas depois, do lado de fora do restaurante, o vento estava frio e a cidade mais silenciosa. — Eu devia te agradecer por esse jantar acidental — disse ela, cruzando os braços. — Foi... inesperadamente bom. — Eu devia te agradecer por não ter me mandado embora assim que descobriu que eu não era seu Lucas. — Não foi tão difícil aceitar. Você fala melhor do que ele. — E você é mais bonita do que qualquer uma das minhas amigas. Mas não conta pra Camila. Ela sorriu. — Então... é isso? Boa noite, valeu pelo jantar, a gente nunca mais se vê? Ele enfiou as mãos nos bolsos. — Pode ser. Ou pode ser que eu te mande uma mensagem amanhã. — Mas você nem tem meu número. — Tenho certeza que se esse jantar aconteceu, o universo dá um jeito de te entregar pra mim de novo. — Poético. — Ou só confiante. Valentina sorriu, deu um passo para trás e acenou. — Boa noite, Rafael. — Boa noite, Valentina. Ela entrou no carro, ligou o rádio e deixou o motor roncar enquanto olhava para o espelho. O batom já tinha sumido, o cabelo estava um pouco bagunçado, mas algo nela estava diferente. Talvez fosse o vinho. Talvez a risada. Ou talvez o fato de que, pela primeira vez desde o fim do seu relacionamento, ela se sentia... leve. E tudo por causa de um encontro errado no Dia dos Namorados.O sol se despedia no horizonte quando Rafael parou na porta da sala, com a testa franzida e um embrulho pequeno nas mãos. O céu estava pintado de tons laranjas e cor-de-rosa, como se o universo tivesse decidido dar o seu toque final num dia que, até então, tinha sido… peculiar.— Valentina? — ele chamou, tentando manter a voz firme.Do outro lado da casa, um barulho semelhante a uma avalanche precedeu o grito:— Se o Joaquim colocar mais um brinquedo molhado na geladeira, eu vou criar uma lei municipal aqui dentro!Rafael sorriu. A rotina tinha se tornado uma montanha-russa, mas era a única onde ele queria estar preso para sempre. Ele se aproximou devagar, o embrulho escondido atrás das costas.Valentina surgiu na cozinha com uma toalha no ombro, o cabelo preso em um coque bagunçado e um rolo de papel-toalha como arma improvisada.— Adivinha quem achou um dinossauro de borracha mergulhado no suco de uva?— Joaquim? — Rafael chutou.— Não, Bruce. Claro que foi o Joaquim! — ela responde
Valentina e Rafael estavam sentados lado a lado no sofá cor de creme do consultório, com os corpos rígidos e os braços cruzados como dois adolescentes de mal um com o outro. Entre eles, o silêncio era cortante, o tipo que não gritava, mas murmurava irritação passiva-agressiva.Joaquim, agora com cinco anos, alheio ao clima tenso, brincava alegremente no tapetinho de borracha com um dinossauro verde e um gato de pelúcia com uma faixa ninja na cabeça. O mesmo combo temático do aniversário passado, porque, como dizia ele, "dinossauros e gatos ninjas são eternos".A psicóloga, uma mulher de expressão serena e blazer bege, observava o casal com um bloquinho no colo. Seu nome era Dra. Ivana. E, honestamente, ela já ouvira de tudo. Mas aquele casal prometia render mais do que uma temporada de reality.— Então vocês vieram para a terapia de casal? — ela perguntou com gentileza, tentando abrir o campo de batalha com diplomacia.Valentina bufou, os olhos faiscando.— Não. A gente veio porque di
Três Anos Depois…Valentina corria pela casa com uma coroa de princesa na cabeça, segurando um brigadeiro torto e com metade da cobertura derretida escorrendo pelo braço. Estava ofegante, com os olhos arregalados e o vestido rosa cheio de marcas de tinta verde.— Joaquim! Não joga bolo no amiguinho! — ela gritou, desviando de uma bexiga voadora que passou raspando sua orelha, tentando salvar o que restava da decoração da festa.O tema era "Dinos contra Gatos Ninjas". Uma escolha inusitada, claro, feita pelo aniversariante mais excêntrico da escola. Joaquim, agora com cinco anos recém-completados, usava um macacão de dinossauro com uma faixa preta amarrada na testa, e carregava um nunchaku de brinquedo com a habilidade de um guerreiro que claramente nunca teve limites.No canto da sala, Rafael, suando mais que tampa de marmita, tentava distrair um grupo de crianças enlouquecidas com um show de mágica improvisado — que estava mais para desastre do que qualquer coisa remotamente mágica.
Dois anos depois.A casa continuava sendo um caos arquitetônico com alma. Meia parede descascada, sofá manchado de suco de uva e cheiro permanente de bolo quase queimado. A diferença? Agora tinha ainda mais vida, mais som, mais cor. Mais bagunça que qualquer arquiteto toleraria, mas também mais amor do que qualquer projeto de revista conseguiria transmitir.Joaquim — que antes era um bebê ranzinza e bochechudo — agora era um furacão de quatro anos que acreditava piamente ser um cavaleiro Jedi. Corria pelos corredores com um sabre de luz azul numa mão, um balde virado na cabeça como capacete e um grito de guerra ensaiado:— BRUUUUCE, EU VOU TE SALVAAAAR!Bruce, o cachorro mais dramático da galáxia, estava deitado em cima de três almofadas na sala, completamente resignado com seu destino de prisioneiro do “Planeta Sofá”. Ele soltou um suspiro digno de novela mexicana.Conde de Meow, por sua vez, seguia sendo o emo oficial da casa. Agora com uma capa preta feita por Valentina e um olhar
Era véspera do Dia dos Namorados. E Valentina, com o coração agitado como festa junina, decidiu que não deixaria a data passar em branco. Depois de tantos tropeços — do match mais aleatório da história dos aplicativos, dos dias cheios de fraldas, gatos possessivos e crises existenciais com sabor de mamadeira — ela achava que mereciam mais que um “te amo” sussurrado entre um bocejo e um “cadê a chupeta do Joaquim?”.Eles mereciam um momento digno de final de comédia romântica: com trilha sonora, luz baixa, cheiro de comida boa e amor transbordando pelos poros.Mas, claro, com ela, nada era simples. Nunca foi.A cozinha virou uma zona de guerra emocional. O arroz queimou como se tivesse guardado mágoa. A mousse de chocolate derreteu no micro-ondas como um colapso nervoso. E o espumante — ah, o espumante! — estourou dentro da geladeira como se dissesse “chega, vocês já viveram demais hoje.”— Amor? — gritou Valentina, suada, com a blusa manchada de calda, farinha no nariz, o coque desman
O despertador tocou antes das seis.Rafael rolou na cama, buscando um canto onde o som não o alcançasse, mas não havia escapatória. Valentina já estava meio sentada, os cabelos presos de qualquer jeito, os olhos ainda inchados de sono.A viagem parecia um sonho. E agora eles acordavam dele, direto para o campo de batalha dos dias úteis.— Joaquim tem aula hoje. — murmurou ela, se levantando com o peso do mundo nos ombros. — E eu tenho reunião com a coordenadora pedagógica às nove.— Eu tenho vistoria na obra às sete e meia. — respondeu Rafael, sentando-se com esforço.Os dois se olharam por um segundo.Era como se um muro invisível tivesse reaparecido entre eles. Um que a viagem havia derrubado — e que agora se reconstruía sozinho, tijolo por tijolo, feito de prazos, obrigações, lembretes, leite derramado e emails não respondidos.— Café ou banho primeiro? — perguntou ele, já andando em direção à cozinha.— Os dois ao mesmo tempo se eu conseguisse.Joaquim acordou emburrado. Chorou po
Último capítulo