Mundo ficciónIniciar sesiónSarah Hastings acreditava que o desejo era um instinto — até conhecer Dr. Thomas Walsh, o professor de Literatura mais enigmático da Universidade de Londres. Em suas aulas de erotismo e censura na arte contemporânea, o prazer se transformava em teoria, o controle em arte e o silêncio em convite. Quando Sarah é atraída para o Clube Dominus, descobre que o amor e o poder caminham em linhas idênticas — e que cada lição ministrada por Thomas carrega um preço. Entre olhares, ordens e segredos, ela mergulha em um mundo onde o toque é proibido, o ciúme tem perfume de luxo e o perigo veste gravata. Mas há olhos sobre ela — Olivia Ward, ex-amante do professor e guardiã do clube, e Marcus Langford, curador sedutor disposto a destruí-los por dentro. Enquanto o jogo entre mente e corpo se intensifica, Sarah precisará escolher entre ser a aluna perfeita ou a mulher que desafia o próprio mestre. "Alguns aprendem o prazer. Outros o ensinam. Mas só quem queima descobre o que é o desejo.”
Leer másNo primeiro dia, a presença dela era apenas isso — presença.Um peso no fundo da mente, uma sombra atrás dos pensamentos, uma respiração a mais dentro do meu peito.No segundo dia, ela começou a sentir por mim.E no terceiro, ela começou a agir.Mas naquela manhã, quando acordei com a luz cinzenta filtrando pelas cortinas, ainda havia a ilusão de que eu era a única dentro do meu corpo.Por alguns segundos.Levantei da cama devagar, cada músculo consciente demais do próprio movimento.A cozinha parecia distante, como se eu a observasse através de um vidro.Thomas estava sentado no balcão, cabelos desgrenhados, a camisa amarrotada.Tinha preparado café, mas não tocara na xícara.Quando me viu, endireitou a postura.— Dormiu?— Não sei.Ele franziu a sobrancelha.— O que isso quer dizer?— Que… eu não lembro.Ele colocou a xícara no balcão com força demais.O som ecoou como uma ameaça involuntária.— Sarah… você precisa ser honesta comigo.— Eu estou sendo.— Não está. — A voz dele saiu
A manhã seguinte chegou tão silenciosa que parecia suspeita.Nenhum vento.Nenhum som de rua.Nenhum ruído do prédio.Apenas a luz — uma luz branca demais, límpida demais, como se alguém tivesse lavado Londres com neve líquida.Acordei sentindo o corpo leve… leve demais.Como se parte de mim tivesse passado a noite em outro lugar.Thomas estava sentado na beira da cama.Não dormira.Os olhos tinham aquele vermelho de quem chorou sem fazer barulho.— Sarah… — a voz dele era quase um sussurro — você desmaiou três vezes ontem à noite.Tentei falar — mas minha língua demorou um segundo para obedecer.Como se fosse preciso “acordar” duas vozes para formar uma.— Eu lembro de tudo — respondi, enfim. — E também lembro dela.Thomas respirou fundo, fechou os olhos por um instante.— Eu achava que podia lidar com fantasmas. Mas isso… isso não é fantasma, Sarah.É invasão.A palavra ficou pairando no ar.Pesada.Verdadeira.— Ela não quer me matar — disse. — Quer usar meu corpo.— E eu não vou d
A luz da manhã entrou por entre as cortinas como uma lâmina fina.Não iluminava — cortava.Levantei devagar, como quem desperta com metade do corpo próprio e a outra metade pertencendo a algo que não sabe nomear.O apartamento estava silencioso demais, o tipo de silêncio que não é ausência de som, mas presença de algo que observa.Thomas dormia no sofá, exausto, o rosto marcado pelo medo que sentira horas antes.Aquela expressão — mistura de amor e terror — ficou presa na minha mente.O terror não era de mim.Era do que ele viu em mim.E ele não estava errado.Fui até o banheiro.A água da torneira escorreu gelada, mas minha pele não reagiu.Olhei para o espelho.Por um segundo, nada aconteceu.Depois, algo mexeu atrás do meu reflexo.Um movimento sutil, como um segundo corpo se ajeitando dentro de mim.Meu coração acelerou.— Eu estou aqui. — a voz dela surgiu, não como sussurro externo, mas como vibração interna.— E. Walsh…— Não me chame assim. Não tenho mais nome. Eu tenho você.
O dia amanheceu com o tipo de luz que não aquece.Cinzenta, pálida, imóvel — como se o tempo tivesse esquecido de nascer.Thomas ainda dormia.O vinho secou na borda da taça, as cinzas da carta repousavam como um mapa de ruína sobre a mesa.A chama havia acabado, mas o cheiro de papel queimado permanecia.Peguei o celular.A mensagem ainda estava ali: “Você fez sua escolha. Agora, veremos se consegue viver com ela.”Assinada: E.Deletei.Mas o texto reapareceu.Uma, duas, três vezes.O mesmo conteúdo.A mesma assinatura.Fechei os olhos e respirei devagar.Meu coração batia com precisão matemática, o tipo de ritmo que vem quando o medo ainda não entende o próprio nome.Peguei o diário de E. Walsh.As páginas pareciam mais escuras do que antes, o papel ligeiramente úmido.Um traço de tinta vermelha havia surgido onde antes não havia nada — uma linha que cruzava o parágrafo central como corte.“O poder, quando negado, procura voz.”Fechei o diário.Na sala, o relógio parou às 4h44.Três
O endereço escrito no bilhete de Evelyn me levou até Belgravia, uma das regiões mais antigas e silenciosas de Londres.As ruas eram simétricas, quase perfeitas, como se tivessem sido desenhadas para esconder algo — e não para guiar.Cada janela acesa parecia uma vigia.Cada sombra, uma testemunha.O número 14 da rua Belgrave Mews era uma casa discreta, fachada branca, portão de ferro e nenhuma campainha.Empurrei o portão. Ele cedeu com facilidade assustadora.Não era convite. Era armadilha.Lá dentro, o ar cheirava a madeira antiga, incenso e vinho.Velas queimavam em fileiras, refletindo em quadros e objetos de cristal.E no centro, de costas, Evelyn.Vestia preto novamente — não como luto, mas como armadura.O som dos meus passos a fez virar-se lentamente.— Pontual. — Ela sorriu, um sorriso de quem sempre está um passo à frente. — Thomas nunca conseguiu ensinar isso a ninguém.— Ele não me ensinou. — Parei diante dela. — Eu aprendi sozinha.Ela observou cada detalhe do meu rosto,
A cidade parecia respirar diferente naquela madrugada. Depois da destruição do espelho, Londres tinha o silêncio suspenso de quem acabara de assistir a algo que não entende, mas sente. Chovia leve, mas constante, e o vento trazia o cheiro de tinta molhada das ruas — um perfume estranho de limpeza e confissão. Caminhamos sem falar. Thomas ao meu lado, mãos nos bolsos, a respiração controlada demais para ser natural. Ele estava se contendo — e eu sabia: o controle era o último refúgio de um homem que acabara de abrir mão do poder. Parou diante do carro, olhou o próprio reflexo no vidro. O rosto dele parecia outro — mais humano, menos esculpido. Sem o espelho, não havia mais moldura para a persona de mestre. — Você sabia o que estava fazendo? — perguntou por fim. — Sim — respondi. — E você também. Ele respirou fundo. — Evelyn vai transformar isso em escândalo. — Deixe que transforme. O que ela tem agora é ruído, não poder. O silêncio que se seguiu não era tenso — era cheio





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