Capítulo 18 - A Voz de E.
O dia amanheceu com o tipo de luz que não aquece.
Cinzenta, pálida, imóvel — como se o tempo tivesse esquecido de nascer.
Thomas ainda dormia.
O vinho secou na borda da taça, as cinzas da carta repousavam como um mapa de ruína sobre a mesa.
A chama havia acabado, mas o cheiro de papel queimado permanecia.
Peguei o celular.
A mensagem ainda estava ali: “Você fez sua escolha. Agora, veremos se consegue viver com ela.”
Assinada: E.
Deletei.
Mas o texto reapareceu.
Uma, duas, três vezes.
O mesmo conteúdo.
A mesma assinatura.
Fechei os olhos e respirei devagar.
Meu coração batia com precisão matemática, o tipo de ritmo que vem quando o medo ainda não entende o próprio nome.
Peguei o diário de E. Walsh.
As páginas pareciam mais escuras do que antes, o papel ligeiramente úmido.
Um traço de tinta vermelha havia surgido onde antes não havia nada — uma linha que cruzava o parágrafo central como corte.
“O poder, quando negado, procura voz.”
Fechei o diário.
Na sala, o relógio parou às 4h44.
Três