A cidade parecia respirar diferente naquela madrugada.
Depois da destruição do espelho, Londres tinha o silêncio suspenso de quem acabara de assistir a algo que não entende, mas sente.
Chovia leve, mas constante, e o vento trazia o cheiro de tinta molhada das ruas — um perfume estranho de limpeza e confissão.
Caminhamos sem falar.
Thomas ao meu lado, mãos nos bolsos, a respiração controlada demais para ser natural.
Ele estava se contendo — e eu sabia: o controle era o último refúgio de um homem que acabara de abrir mão do poder.
Parou diante do carro, olhou o próprio reflexo no vidro.
O rosto dele parecia outro — mais humano, menos esculpido.
Sem o espelho, não havia mais moldura para a persona de mestre.
— Você sabia o que estava fazendo? — perguntou por fim.
— Sim — respondi. — E você também.
Ele respirou fundo.
— Evelyn vai transformar isso em escândalo.
— Deixe que transforme. O que ela tem agora é ruído, não poder.
O silêncio que se seguiu não era tenso — era cheio