A noite desceu sobre Londres como um véu de veludo.
Do lado de fora do apartamento, a chuva fina transformava as luzes da rua em fios dourados que escorriam pelo vidro da janela.
Sarah sentava-se diante da escrivaninha, o envelope preto ainda intocado sobre o tampo.
Ao redor, apenas o som do relógio e o chiado distante da chuva — tudo o que restava entre ela e a escolha que pulsava dentro de si.
Ela o girava entre os dedos, como quem hesita em tocar fogo.
A tinta dourada do nome parecia brilhar sob a luz amarela do abajur: Sarah Hastings.
Ela lembrava da voz dele.
“Se abrir, o convite se torna compromisso.”
O coração batia em compassos irregulares.
Sarah não sabia se temia o professor ou a si mesma.
Pegou a garrafa de vinho que havia aberto na noite anterior. Serviu uma taça.
Um gole, depois outro.
O sabor ácido se misturou à lembrança do perfume de Thomas Walsh — cedro, fumaça e domínio.
Ela apoiou os cotovelos na mesa, observando o envelope.
“Compromisso.”
Palavra perigosa para quem sempre fugiu de tudo.
Quando finalmente rompeu o selo, o som do papel rasgando pareceu alto demais, íntimo demais.
Dentro havia um cartão simples, preto, com letras douradas:
CLUBE DOMINUS
Quinta-feira, 22h.
Endereço: Grosvenor Square, 47.
Código de entrada: Veneno.
E abaixo, uma única frase escrita à mão:
A arte começa quando o medo termina.
— T.
Sarah encostou o cartão nos lábios.
Não era medo o que sentia — era vertigem.
Na manhã seguinte, ela mal conseguiu se concentrar na aula.
Thomas parecia ainda mais impenetrável que o normal; falava sobre a estética do segredo na pintura barroca.
Olivia circulava entre os alunos com um leve sorriso, o olhar afiado.
Em certo momento, Thomas parou de falar e perguntou:
— Alguém gostaria de comentar sobre a diferença entre o que se mostra e o que se insinua?
Sarah ergueu o olhar.
Ele estava observando-a.
— Mostrar é fácil — disse ela, com voz trêmula. — Insinuar… exige coragem.
O leve curvar dos lábios dele foi resposta suficiente.
Olivia cruzou os braços, fitando-a como quem mede uma rival.
Após o término da aula, enquanto recolhia o caderno, Sarah sentiu algo deslizar sob a folha.
Um bilhete, dobrado em quatro.
Não vá sozinha.
Ela olhou em volta, mas Thomas já deixava a sala, passos silenciosos no corredor.
Olivia recolhia os materiais, evitando seu olhar.
Às 21h50 daquela noite, Sarah desceu do táxi diante do número 47 da Grosvenor Square.
A mansão era antiga, revestida em pedra escura, janelas altas e um portão de ferro trabalhado.
Nenhuma placa, nenhum som além do ruído discreto de chuva sobre o mármore.
Entregou o cartão ao porteiro.
— Código?
— Veneno.
O homem assentiu e a conduziu até o interior.
A penumbra a envolveu.
Velas alinhadas ao longo do corredor projetavam sombras que dançavam sobre quadros de corpos entrelaçados.
O ar era espesso, aromático, uma mistura de incenso e algo doce — talvez vinho, talvez pecado.
Uma música suave, quase imperceptível, ecoava ao longe: violinos e respiração.
Quando chegou ao salão principal, viu figuras mascaradas, homens e mulheres conversando em murmúrios, taças nas mãos, risos contidos.
Ninguém parecia estranho ali — apenas livre.
No centro, uma mulher de vestido vinho, cabelo preso em coque elegante, reconheceu-a.
Olivia.
— Você veio — disse ela, aproximando-se.
— Sim. O professor…
— Thomas não virá ainda. — Olivia sorriu, e o som soou como provocação. — Ele gosta de observar primeiro.
Sarah sentiu um arrepio percorrer-lhe a nuca.
— Observar?
— Digamos que o Clube é uma galeria viva. E, hoje à noite, você é a obra.
Olivia entregou-lhe uma máscara dourada e segurou-lhe o queixo com delicadeza.
— Não tenha medo. O medo é apenas o prelúdio do desejo.
A música aumentou.
As luzes se suavizaram.
Sarah respirou fundo, colocando a máscara.
No instante em que a colocou, uma voz ecoou atrás dela — baixa, grave, inconfundível:
— Linda escolha.
Ela se virou.
Thomas estava ali, sem terno, apenas camisa preta e olhar de aço envolto em sombra.
Entre eles, o ar pareceu vibrar.
— Achei que não viria — disse ela.
— Eu nunca falto à minha própria aula.
Ele estendeu a mão.
— Pronta para a segunda lição?
Sarah hesitou, o coração disparando.
Mas antes que pudesse responder, Olivia surgiu atrás dele, sorrindo com os olhos.
— Professor, lembre-se da regra.
— Sim — disse ele, sem desviar o olhar de Sarah. — Nenhum toque… até que ela peça.
O salão inteiro pareceu congelar por um segundo.
Thomas deu um passo em direção a ela, e o leve toque de seus dedos no ar foi mais provocante que qualquer contato.
— Então, senhorita Hastings… — a voz dele roçou nela como seda. — Você vai pedir?
A pergunta pairando entre eles — o convite implícito, o desejo explícito.