Capítulo 3 — O Convite

A noite desceu sobre Londres como um véu de veludo.

Do lado de fora do apartamento, a chuva fina transformava as luzes da rua em fios dourados que escorriam pelo vidro da janela.

Sarah sentava-se diante da escrivaninha, o envelope preto ainda intocado sobre o tampo.

Ao redor, apenas o som do relógio e o chiado distante da chuva — tudo o que restava entre ela e a escolha que pulsava dentro de si.

Ela o girava entre os dedos, como quem hesita em tocar fogo.

A tinta dourada do nome parecia brilhar sob a luz amarela do abajur: Sarah Hastings.

Ela lembrava da voz dele.

“Se abrir, o convite se torna compromisso.”

O coração batia em compassos irregulares.

Sarah não sabia se temia o professor ou a si mesma.

Pegou a garrafa de vinho que havia aberto na noite anterior. Serviu uma taça.

Um gole, depois outro.

O sabor ácido se misturou à lembrança do perfume de Thomas Walsh — cedro, fumaça e domínio.

Ela apoiou os cotovelos na mesa, observando o envelope.

“Compromisso.”

Palavra perigosa para quem sempre fugiu de tudo.

Quando finalmente rompeu o selo, o som do papel rasgando pareceu alto demais, íntimo demais.

Dentro havia um cartão simples, preto, com letras douradas:

CLUBE DOMINUS

Quinta-feira, 22h.

Endereço: Grosvenor Square, 47.

Código de entrada: Veneno.

E abaixo, uma única frase escrita à mão:

A arte começa quando o medo termina.

— T.

Sarah encostou o cartão nos lábios.

Não era medo o que sentia — era vertigem.

Na manhã seguinte, ela mal conseguiu se concentrar na aula.

Thomas parecia ainda mais impenetrável que o normal; falava sobre a estética do segredo na pintura barroca.

Olivia circulava entre os alunos com um leve sorriso, o olhar afiado.

Em certo momento, Thomas parou de falar e perguntou:

— Alguém gostaria de comentar sobre a diferença entre o que se mostra e o que se insinua?

Sarah ergueu o olhar.

Ele estava observando-a.

— Mostrar é fácil — disse ela, com voz trêmula. — Insinuar… exige coragem.

O leve curvar dos lábios dele foi resposta suficiente.

Olivia cruzou os braços, fitando-a como quem mede uma rival.

Após o término da aula, enquanto recolhia o caderno, Sarah sentiu algo deslizar sob a folha.

Um bilhete, dobrado em quatro.

Não vá sozinha.

Ela olhou em volta, mas Thomas já deixava a sala, passos silenciosos no corredor.

Olivia recolhia os materiais, evitando seu olhar.

Às 21h50 daquela noite, Sarah desceu do táxi diante do número 47 da Grosvenor Square.

A mansão era antiga, revestida em pedra escura, janelas altas e um portão de ferro trabalhado.

Nenhuma placa, nenhum som além do ruído discreto de chuva sobre o mármore.

Entregou o cartão ao porteiro.

— Código?

— Veneno.

O homem assentiu e a conduziu até o interior.

A penumbra a envolveu.

Velas alinhadas ao longo do corredor projetavam sombras que dançavam sobre quadros de corpos entrelaçados.

O ar era espesso, aromático, uma mistura de incenso e algo doce — talvez vinho, talvez pecado.

Uma música suave, quase imperceptível, ecoava ao longe: violinos e respiração.

Quando chegou ao salão principal, viu figuras mascaradas, homens e mulheres conversando em murmúrios, taças nas mãos, risos contidos.

Ninguém parecia estranho ali — apenas livre.

No centro, uma mulher de vestido vinho, cabelo preso em coque elegante, reconheceu-a.

Olivia.

— Você veio — disse ela, aproximando-se.

— Sim. O professor…

— Thomas não virá ainda. — Olivia sorriu, e o som soou como provocação. — Ele gosta de observar primeiro.

Sarah sentiu um arrepio percorrer-lhe a nuca.

— Observar?

— Digamos que o Clube é uma galeria viva. E, hoje à noite, você é a obra.

Olivia entregou-lhe uma máscara dourada e segurou-lhe o queixo com delicadeza.

— Não tenha medo. O medo é apenas o prelúdio do desejo.

A música aumentou.

As luzes se suavizaram.

Sarah respirou fundo, colocando a máscara.

No instante em que a colocou, uma voz ecoou atrás dela — baixa, grave, inconfundível:

— Linda escolha.

Ela se virou.

Thomas estava ali, sem terno, apenas camisa preta e olhar de aço envolto em sombra.

Entre eles, o ar pareceu vibrar.

— Achei que não viria — disse ela.

— Eu nunca falto à minha própria aula.

Ele estendeu a mão.

— Pronta para a segunda lição?

Sarah hesitou, o coração disparando.

Mas antes que pudesse responder, Olivia surgiu atrás dele, sorrindo com os olhos.

— Professor, lembre-se da regra.

— Sim — disse ele, sem desviar o olhar de Sarah. — Nenhum toque… até que ela peça.

O salão inteiro pareceu congelar por um segundo.

Thomas deu um passo em direção a ela, e o leve toque de seus dedos no ar foi mais provocante que qualquer contato.

— Então, senhorita Hastings… — a voz dele roçou nela como seda. — Você vai pedir?

A pergunta pairando entre eles — o convite implícito, o desejo explícito.

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