O relógio marcava 23h20 quando Sarah desceu do táxi diante do portão de ferro.
A mansão da Grosvenor Square parecia diferente naquela noite — mais silenciosa, mais sombria, como se esperasse apenas por ela.
A chuva fina dava às luzes da fachada um brilho líquido, refletido nas poças do chão.
Sarah segurava o pequeno cartão preto com os dedos trêmulos.
“Sexta-feira, 23h30. Sala Verde.”
Entrou.
O mesmo porteiro fez um aceno breve, e ela caminhou sozinha pelo corredor de velas.
O ar estava impregnado de incenso e vinho, o mesmo aroma que agora parecia ligado ao próprio nome de Thomas Walsh.
Ao chegar à escada de mármore, viu Olivia a esperando no alto, envolta em um vestido verde escuro que parecia feito de sombras líquidas.
— Pontual — disse ela, a voz calma. — Ele aprecia isso.
Sarah hesitou.
— Onde está o professor?
— Lá em cima. Mas antes de subir… há algo que precisa entender.
Olivia desceu um degrau, os olhos fixos nela.
— O Clube não é um jogo para corações frágeis. Thomas… não é como os homens que você conheceu. Ele molda, conduz, destrói. Às vezes na mesma noite.
— E você? — perguntou Sarah. — Ele a moldou também?
Olivia sorriu com algo entre dor e lembrança.
— Eu fui a primeira lição. E talvez, a última que ele tentou esquecer.
As duas ficaram em silêncio por um instante, a tensão flutuando entre elas como perfume.
Então Olivia estendeu a mão.
— Venha. A Sala Verde espera.
O corredor acima era estreito, coberto por quadros de mulheres envoltas em véus.
A porta ao final estava entreaberta, e uma luz esmeralda vazava por ela como névoa.
Ao entrar, Sarah sentiu o impacto da beleza do lugar.
As paredes eram cobertas por seda verde-musgo, iluminadas por lâmpadas de vidro que projetavam sombras delicadas.
No centro, um piano de cauda, e sobre ele, um copo de cristal com vinho tinto.
Nenhum sinal de Thomas.
Olivia se aproximou do piano e passou o dedo pela borda.
— Ele gosta de observar o que o silêncio revela.
Sarah olhou em volta.
— Está me testando?
— Não eu. Ele.
— E você gosta disso?
— Gosto de ver quem sobrevive.
Olivia caminhou até ela, tão perto que Sarah pôde sentir o perfume — jasmim e perigo.
— Diga-me, Sarah… — a voz dela soava como seda rasgando — o que exatamente você quer dele?
— Eu… não sei.
— Claro que sabe. — Olivia inclinou o rosto, os lábios quase roçando o ouvido dela. — Você quer ser a exceção. Todas querem.
O som de uma porta se abrindo cortou o ar.
Thomas entrou.
Camisa branca parcialmente aberta, mangas dobradas, olhar calmo e impenetrável.
O silêncio que o acompanhava tinha peso.
— Olivia. — A voz dele era firme, mas baixa. — Isso não é parte da lição.
Ela ergueu o queixo, desafiadora.
— Então me diga o que é.
Thomas caminhou até as duas, o som dos passos ritmado.
— A Sala Verde é um lugar de equilíbrio — disse ele. — Nenhum gesto aqui é gratuito. Cada movimento revela intenção.
Olivia se afastou, o sorriso voltando a ser máscara.
Thomas se voltou para Sarah.
— Feche a porta.
Ela obedeceu.
O som do trinco ecoou como sentença.
Thomas parou diante dela, mantendo uma distância exata — nem fria, nem íntima.
— O que o medo faz com você, Sarah?
— Paralisa.
— E o desejo?
— Faz esquecer o medo.
— Então aprenda a reconhecê-los. Eles sempre caminham juntos.
Ele passou ao lado dela, sem tocá-la, e acendeu outra vela sobre o piano.
A chama refletiu em seus olhos — um ouro antigo.
— Hoje, você aprenderá a olhar sem possuir.
Ele se virou para Olivia.
— Toque.
Olivia se sentou ao piano e começou uma melodia lenta, melancólica.
Thomas ficou atrás de Sarah, próximo o bastante para que o calor do corpo dele atravessasse o tecido do vestido.
— Ouça — sussurrou ele. — Observe a melodia. Sinta-a antes de entender.
A música cresceu, e por um instante Sarah esqueceu de respirar.
O coração batia no mesmo ritmo das notas.
Quando ele se inclinou, o hálito tocou sua nuca.
— Este é o limite — disse ele. — E é aqui que a arte começa.
Ela virou o rosto, quase tocando o dele.
O olhar de Thomas mergulhou no dela com uma intensidade que queimava e acalmava ao mesmo tempo.
Ele poderia tê-la beijado — e talvez ambos quisessem —, mas recuou.
— A terceira lição virá quando aprender a esperar sem desistir.
A música cessou. Olivia permaneceu imóvel, as mãos sobre as teclas.
Sarah tentou falar, mas a voz falhou.
Thomas olhou para ela uma última vez.
— Agora vá. Antes que o desejo decida por nós.
Ela saiu da sala com o corpo em chamas e a mente em ruínas.
Atrás dela, ouviu Olivia rir baixinho — um som elegante e venenoso.
“Ela ainda não entende que aqui ninguém vence o professor.”
Sarah deixa a Sala Verde — confusa, tocada e marcada. Thomas a afasta para não ceder, e Olivia jura não deixá-lo repetir com outra o que fez com ela.