Mundo ficciónIniciar sesiónA caminho do cartório para enfim oficializar o amor que julgava inabalável, Júlia Alves tem sua vida despedaçada em segundos. O carro em que está com o noivo sofre um acidente devastador — e, no momento decisivo, ele escolhe salvar a própria irmã adotiva de Júlia, deixando Júlia para trás. Entre chamas e o som distante da explosão, é Daniel Moretti, tio do noivo e o homem mais improvável de sua vida, quem a resgata. Quando desperta, Júlia está sem memória… e acredita que Daniel é seu marido. Dividido entre a verdade e o impulso irresistível de protegê-la, Daniel se vê diante de uma escolha impossível. Ao perceber a fragilidade de Júlia, seu medo e sua total confiança nele, ele decide manter o segredo — e aceita seu inesperado pedido de casamento. Agora, enquanto Júlia se apaixona cada dia mais pelo homem que acredita ser seu, Daniel vive atormentado pelo passado, pela culpa e por um amor que nasceu no silêncio das mentiras. Mas a verdade tem o hábito cruel de vir à tona. E quando a memória de Júlia retornar, será o amor… ou a traição… que sobreviverá?
Leer másO sol ainda mal tinha subido quando Júlia Alves abriu os olhos, mas seu coração já estava acelerado — daquele jeito gostoso que só dias muito especiais conseguem provocar. Era o dia. O dia em que ela e o noivo finalmente iriam ao cartório assinar seus nomes lado a lado. Nada de festa, nada de cerimônia grandiosa. Só os dois e um começo simples, leve… do jeitinho que ela sempre sonhou.
Ela ficou ali por alguns segundos, espremendo o rosto contra o travesseiro, como se quisesse guardar aquele instante para sempre. O quarto ainda estava meio escuro, silencioso, mas Júlia sentia tudo vibrando de expectativa por dentro.
O celular vibrou na mesinha.
“Acordei cedo. Passo aí em uma hora ❤️”
Ela sorriu, sentindo o rosto esquentar como se tivesse quinze anos de novo.
“Eu também. Te amo.”
Depois se levantou e foi até a cozinha, preparando café e deixando a mente se encher de pequenos detalhes. O perfume do pão quente, a luz suave entrando pela janela, a playlist tranquila tocando no fundo… tudo parecia mágico. Tudo parecia perfeito.
Até pensar em Helena.
A lembrança veio como um pontinho incômodo.
As duas haviam discutido na noite anterior — algo bobo, mas Helena tinha o dom de transformar coisas pequenas em tempestades emocionais. Júlia suspirou. Ela sabia que a irmã adotiva carregava marcas profundas, inseguranças que nunca verbalizava direito… mas mesmo assim, doía.E, no fundo, Júlia só queria que Helena se sentisse parte. Só isso.
Quando terminou o café, foi se arrumar. Um vestido branco simples, nada exagerado. Olhou-se no espelho e encontrou seus próprios olhos brilhando — nervosos, felizes, esperançosos.
A buzina lá fora a fez sorrir ainda mais.
Desceu animada, quase tropeçando nos próprios pés, e encontrou o noivo encostado no carro, com aquele sorriso torto que sempre a desmontava.
— Pronta? — ele perguntou, abrindo a porta.
— Mais do que pronta.
Mas, antes que Júlia entrasse, uma voz veio de trás:
— Espera! Ei… espera por mim!
Helena desceu correndo a pequena rua, ainda ajeitando o cabelo preso de qualquer jeito. Usava uma blusa simples, rosto sem maquiagem, e parecia ter acabado de acordar.
— O que você está fazendo aqui? — Júlia perguntou, surpresa, mas sem hostilidade.
Helena respirou fundo, nervosa.
Parecia carregar um monte de palavras atrapalhadas tentando sair ao mesmo tempo.— Eu… eu queria ir com vocês. — Seus olhos brilharam por um segundo, inseguros. — Ontem eu falei besteira. Eu sei. Mas você é minha irmã, Júlia. Eu queria estar lá… nem que fosse só pra ver vocês entrarem.
Júlia sentiu o coração amolecer.
Helena sempre escondia seus sentimentos atrás de impulsividade e ironia, mas quando abaixava a guarda… ela era só uma garota tentando pertencer.— Claro que você pode vir — Júlia disse, abrindo a porta de trás. — Vem. Não quero você longe hoje.
O noivo concordou com um sorriso discreto, embora surpreso.
Helena entrou, meio sem jeito, agradecendo em voz baixa.— Eu prometo não atrapalhar — ela murmurou.
— Helena… — Júlia virou no banco, segurando sua mão — você não atrapalha. É da família. Sempre foi.
Helena mordeu o lábio, emocionada, e desviou o olhar. Era o máximo de vulnerabilidade que ela conseguia demonstrar.
Júlia entrou no carro logo depois. Sentou-se, prendeu o cinto, respirou fundo e deixou a felicidade preencher tudo de novo. Tinha sua irmã ali, tinha o homem que amava ao lado, e estava a minutos de começar uma nova vida.
Por alguns quilômetros, o clima foi leve.
Helena fez uma ou outra brincadeira sobre a roupa simples de Júlia, Júlia brincou de volta dizendo que ela parecia ter saído correndo do apocalipse, e o noivo ria das duas como se apreciasse aquele caos familiar.Tudo parecia normal. Tudo parecia certo.
Até que o noivo ficou tenso de repente.
— Segura.
O tom da voz dele mudou.
Júlia abriu os olhos na mesma hora… e viu.Um caminhão.
Vindo rápido demais. Na contramão.O impacto veio como um soco no universo.
O mundo rodou. Vidros estilhaçaram. Helena gritou no banco de trás. O carro rodopiou até parar de forma brutal contra a grade metálica da estrada.O cheiro de gasolina inundou o ar.
Júlia tentou se mexer, mas uma fisgada violenta cortou seu peito. Tudo estava embaralhado — os sons, as luzes, as respirações desesperadas.
Ouviu a voz do noivo primeiro.
— Helena… Helena! Consegue me ouvir?
Ele tentou soltar o cinto, tossindo entre a fumaça.
— Eu vou te tirar daqui, calma — disse, virando-se para trás.
Júlia tentou falar, mas sua voz saiu falha, presa na garganta.
— Eu… eu tô aqui…
Mas ele não a ouviu.
Ou, talvez, não conseguiu.Helena chorava, presa, tremendo.
E ele se virou inteiro para ela.— Fica comigo, tá? Eu te protejo — a voz dele quebrava.
O calor aumentava.
A visão de Júlia ficava turva.
Tudo estava se apagando… quando uma voz que ela não conhecia surgiu próxima, urgente, masculina, firme:
— Ei! Ei! Fica comigo. Não fecha os olhos.
Alguém a puxou com força calculada, braços sólidos envolvendo seu corpo frágil.
Ela tentou focar o rosto dele — não era o do noivo. Era um homem mais velho, desesperado, determinado, com uma expressão que misturava medo e coragem.
— Você vai ficar bem — ele prometeu, carregando-a para longe.
E, segundos depois, o carro explodiu atrás deles, iluminando tudo com uma luz que Júlia não veria acordada.
O mundo escureceu antes que ela pudesse entender quem a salvava.
Quem a segurava como se sua vida importasse.
Como se ela fosse tudo naquele momento.A casa acordou diferente naquela manhã. Havia vozes na cozinha, passos leves, o som de xícaras sendo colocadas sobre a mesa. Júlia demorou alguns segundos para entender aquela sensação nova — a de pertencimento pleno. Não era apenas estar em um lugar. Era habitar.Ela saiu do quarto e encontrou a mãe mexendo no fogão, o pai lendo algo no celular, e Daniel encostado no balcão, observando tudo com um sorriso discreto, quase incrédulo.— Bom dia — Júlia disse.A mãe virou-se imediatamente, abrindo os braços.— Dormiu bem?— Pela primeira vez em muito tempo — Júlia respondeu, deixando-se abraçar.Daniel se aproximou e depositou um beijo calmo na têmpora dela. Um gesto simples, mas carregado de intimidade suficiente para dizer a todos ali: é aqui que eu fico.Durante o café, as conversas fluíram com naturalidade. Assuntos leves se misturavam a planos práticos: consultas, documentos, passos legais contra Helena. Nada parecia pesado demais, porque tudo estava sendo dividido.— Eu queria dize
O aeroporto estava cheio demais para aquele momento que Júlia precisava que fosse só dela. Pessoas passando apressadas, vozes se misturando, malas rodando. Ainda assim, quando avistou os pais atravessando a porta de desembarque, o mundo pareceu desacelerar.A mãe foi a primeira a vê-la.— Júlia… — o nome saiu como um choro contido, quebrado pela pressa.Não houve tempo para palavras. O abraço veio forte, urgente, apertado demais para ser educado. Um abraço que dizia você está aqui, você voltou, eu te encontrei. O pai chegou logo depois, envolvendo as duas com braços firmes, a mão grande pousando na cabeça da filha como fazia quando ela era pequena.— Minha menina — ele disse, a voz rouca. — Graças a Deus.Júlia fechou os olhos por um instante, respirando o cheiro deles, o peso daquele amor antigo e constante. Ali, no centro daquele abraço, algo dentro dela se alinhou.— Eu senti tanto a falta de vocês — ela confessou, com a voz embargada.A mãe se afastou só o suficiente para examiná-
A madrugada chegou mansa, trazendo consigo uma quietude rara. Júlia estava acordada, deitada de lado, observando Daniel dormir. Havia algo profundamente bonito naquele descanso tranquilo, como se o corpo dele finalmente tivesse entendido que, por algumas horas, não precisava vigiar o mundo.Ela tocou de leve o peito dele, sentindo o ritmo constante do coração.Era ali que tudo fazia sentido.Quando Daniel abriu os olhos, encontrou o olhar dela pousado nele com cuidado e carinho.— Você não dormiu — ele murmurou, a voz rouca.— Dormi um pouco — ela respondeu. — Mas acordei com vontade de ficar te olhando.Ele sorriu, puxando-a para mais perto.— Isso parece perigoso — brincou.— É — ela concordou. — Mas eu nunca fui tão corajosa.O beijo que trocaram foi lento, preguiçoso, carregado de intimidade. Nada urgente. Nada desesperado. Apenas a confirmação silenciosa de que estavam exatamente onde deveriam estar.— Sabe o que mais me assusta? — Júlia disse, apoiando a cabeça no peito dele.—
Helena entendeu que tinha perdido no instante em que Caio não atendeu à décima ligação.Não houve grito.Não houve choro.Houve silêncio.E para alguém como Helena, o silêncio era o maior sinal de fracasso.Ela encarou o celular por longos minutos, os dedos rígidos, a mente trabalhando em velocidade cruel. Caio sempre foi fácil. Sempre precisou ser guiado, protegido, conduzido. Mas agora… agora ele estava fora do alcance. E isso só podia significar uma coisa:Júlia tinha vencido.— Não — murmurou para si mesma. — Ainda não.Ela se levantou abruptamente, caminhando pelo apartamento como um animal encurralado. Não podia mais agir pela emoção. Precisava ser definitiva. Se não podia ter Caio… então também não permitiria que Júlia tivesse Daniel.Helena pegou a bolsa.Era hora de jogar a última carta.Daniel e Júlia estavam sentados no chão da sala, encostados no sofá, dividindo uma pizza fria e rindo de algo bobo demais para importar. Era uma felicidade simples. Quase doméstica. E exatame
O dia amanheceu tranquilo demais para ser inocente.Júlia percebeu isso enquanto observava Daniel sair para resolver pendências com a advogada. Havia algo no ar, uma espécie de pausa estranha, como o silêncio que antecede uma tempestade. Mesmo assim, ela respirou fundo e decidiu não recuar. Não iria viver esperando o pior.Sozinha na casa, abriu uma caixa antiga que Daniel guardava no armário do escritório. Não era curiosidade invasiva, era intuição. Fotografias antigas, algumas cartas, recortes de jornal. Fragmentos de uma vida que, de alguma forma, sempre a cercou.Quando tocou uma foto específica, o mundo pareceu inclinar.Ela estava mais jovem.Caio ao seu lado.Helena um pouco atrás, com aquele mesmo sorriso que agora sabia reconhecer como falso.A lembrança veio inteira dessa vez.Ela se viu sentada em um banco de praça, esperando. O celular na mão. Mensagens não respondidas. Depois, a voz de Caio, apressada, distante:“A Helena não está bem. Eu preciso ir.”Sempre isso.Sempre
Júlia acordou com o sol desenhando linhas douradas no quarto. Por um instante, ficou imóvel, respirando devagar, como quem testa a própria realidade. O braço de Daniel estava ao redor de sua cintura, firme, protetor, e o ritmo calmo da respiração dele dizia que aquela paz não era um sonho.Ela sorriu.Virou-se com cuidado, estudando o rosto dele de perto. As linhas suaves quando dormia, o cansaço escondido atrás de um semblante forte demais para ser apenas aparência. Passou a ponta dos dedos pelo maxilar dele, leve, quase reverente.Daniel abriu os olhos.— Bom dia — murmurou, a voz rouca, ainda meio presa ao sono.— Bom dia — ela respondeu. — Eu gosto de acordar aqui.Ele a puxou para mais perto, beijando-lhe a testa.— Então fica.Ela ficou.O beijo veio depois, lento, íntimo, daqueles que não pedem nada além de presença. Júlia sentiu o corpo inteiro aquecer, não de pressa, mas de pertencimento. Quando se separaram, ela apoiou a testa na dele.— Eu tenho medo — confessou, sem desvia





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