A luz da manhã entrou por entre as cortinas como uma lâmina fina.
Não iluminava — cortava.
Levantei devagar, como quem desperta com metade do corpo próprio e a outra metade pertencendo a algo que não sabe nomear.
O apartamento estava silencioso demais, o tipo de silêncio que não é ausência de som, mas presença de algo que observa.
Thomas dormia no sofá, exausto, o rosto marcado pelo medo que sentira horas antes.
Aquela expressão — mistura de amor e terror — ficou presa na minha mente.
O terror não era de mim.
Era do que ele viu em mim.
E ele não estava errado.
Fui até o banheiro.
A água da torneira escorreu gelada, mas minha pele não reagiu.
Olhei para o espelho.
Por um segundo, nada aconteceu.
Depois, algo mexeu atrás do meu reflexo.
Um movimento sutil, como um segundo corpo se ajeitando dentro de mim.
Meu coração acelerou.
— Eu estou aqui. — a voz dela surgiu, não como sussurro externo, mas como vibração interna.
— E. Walsh…
— Não me chame assim. Não tenho mais nome. Eu tenho você.