O salão do Clube Dominus parecia respirar.
A música lenta, quase inaudível, marcava o compasso das respirações. As chamas das velas oscilavam como se também observassem o que acontecia ali.
Sarah ainda sentia o peso da pergunta de Thomas vibrando em sua pele:
“Você vai pedir?”
Ela queria dizer sim.
Mas as palavras ficaram presas, presas entre o medo e a vertigem.
Thomas deu um passo à frente — só um — e o mundo pareceu encolher.
O perfume dele misturou-se ao do vinho e da cera derretida.
— Ainda não — disse ela, a voz trêmula, mas firme.
O leve arquear da sobrancelha dele foi quase um sorriso.
— Muito bem. A segunda lição começa exatamente aí: saber quando não ceder.
As pessoas ao redor se afastaram discretamente, abrindo espaço.
Thomas caminhou devagar, contornando-a como quem estuda uma escultura.
— No desejo — murmurou ele — o poder não está em tocar, mas em esperar.
Sarah sentiu o calor subir pelo pescoço, o corpo reagindo à proximidade.
Ele estendeu a mão, mas parou a poucos centímetros do rosto dela.
— Feche os olhos.
Ela obedeceu.
O som de seus passos circulando-a era quase um sussurro no chão de mármore.
— O que sente? — perguntou ele.
— Tudo — respondeu.
— Descreva.
— O ar. A distância. A vontade de acabar com ela.
Thomas se inclinou até que o hálito dele roçasse o ouvido dela.
— Isso é arte — sussurrou. — O espaço entre o impulso e o ato.
Quando ela abriu os olhos, viu Olivia observando da escada, taça de vinho na mão, o sorriso frio.
Thomas recuou um passo.
— Esta é a segunda lição, senhorita Hastings: resistir não é negar; é dominar o próprio veneno.
Ele virou-se para o grupo, a voz assumindo o tom de quem conduz uma exposição.
— O desejo é disciplina. Quem perde o controle, perde o prazer.
Olivia desceu as escadas lentamente, o som dos saltos ecoando como batidas de coração.
— Professor, talvez a senhorita Hastings prefira uma demonstração mais… concreta.
— Cuidado, Olivia — disse Thomas sem olhar para ela. — Sua lição já foi aprendida.
— Mas nem todos aprendem pelo mesmo método.
O olhar entre eles era fogo contido.
Sarah sentiu-se observando algo íntimo demais, antigo demais para entender.
Olivia aproximou-se de Sarah e, sem pedir permissão, tocou o colarinho de sua blusa.
— O medo é bonito em você. — O sussurro dela tinha gosto de provocação. — E perigoso.
Thomas interveio, a voz calma porém cortante:
— Basta.
Olivia sorriu, soltando o tecido lentamente.
— Está com ciúmes, Thomas?
— Estou mantendo a ordem.
— Então talvez devesse se lembrar de quem criou o caos.
O silêncio seguinte era pesado.
Thomas a fitou por um longo instante — algo entre raiva e compaixão — e então se voltou para Sarah.
— Volte para casa — disse, com voz baixa. — Hoje, aprendeu o suficiente.
Sarah hesitou.
— Fiz algo errado?
— Não. Mas o corpo fala antes da mente estar pronta.
Ele retirou do bolso um pequeno cartão preto e colocou na mão dela.
“A lição continua quando o coração decidir.”
Sarah o observou se afastar, o casaco escuro se confundindo com as sombras.
Olivia o seguiu com o olhar, os olhos cheios de uma tristeza que ela não disfarçava mais.
Horas depois
Deitada na cama, Sarah encarava o teto.
Ainda podia ouvir a música do salão, o timbre da voz dele, o toque de Olivia.
O cartão preto repousava sobre o travesseiro.
Ela passou o dedo sobre a frase e percebeu algo gravado em relevo na parte de trás — uma data e um horário:
Sexta-feira, 23h30. Sala Verde.
Um novo convite.
Ou um teste.
Ela o virou entre os dedos e sussurrou para o quarto silencioso:
— Estou pronta.
Mas do lado de fora, no corredor do prédio, uma figura observava sua janela acesa — Olivia, envolta em um sobretudo escuro, um cigarro aceso entre os dedos.
O sorriso dela era lento, perigoso.
“Veremos se está mesmo.”
O novo convite e o olhar de Olivia — promessa de desejo, ciúme e traição iminente