Ela foi forjada na sombra. Ele nasceu para destruir. O Laço entre eles nunca deveria ter despertado. Selena é uma bruxa selvagem, marcada pelo exílio e temida até entre os seus. Sozinha, poderosa, indomável — até sentir o toque de uma presença ancestral no meio de um ritual proibido. Rurik é um lobo sem matilha, traído pelos próprios irmãos e condenado a vagar como fera. Frio, brutal, solitário — até o instinto o arrastar para o rastro de uma mulher que não consegue esquecer. Quando os caminhos deles se cruzam, o vínculo explode: antigo, proibido, impossível de negar. O que os une é mais que desejo. É maldição. É profecia. É o começo do fim. E alguém está disposto a matar para impedir que o Laço se complete.
Leer másNo bosque onde o tempo parecia não alcançar, havia uma clareira viva — não de flores, mas de memória.Ali, não se erguia estátua alguma.Nem altar.Nem templo.Apenas uma pedra baixa, enterrada até a metade, com palavras entalhadas de forma simples:“Ela foi o fogo.E escolheu arder.”A menina caminhava entre as árvores com passos firmes demais para sua idade. O cabelo era escuro, rebelde, como se a noite tivesse sido costurada em fios. Carregava no pulso esquerdo a mesma marca — a espiral de runas gravadas com sangue e escolha.Ela se sentou diante da pedra.Fechou os olhos.E o mundo se curvou para ouvir.---Por um instante breve e eterno, a floresta parou de crescer.As sombras deixaram de se mover.As raízes escutaram.E ela veio.Não em corpo.Mas em calor.Em presença.Em certeza.Selena — agora uma lenda encarnada em vento, terra, fogo e lembrança — desceu em silêncio.A menina sentiu.Sorriu.E sussurrou:— Eu te encontrei.A voz que respondeu não veio de cima, nem de dentro,
A Quinta Boca despertou no décimo dia após o ritual.Não com um rugido, mas com um sussurro.Era o som do próprio mundo se partindo ao meio — suave, imperceptível, como uma rachadura na alma. Todos que haviam sido marcados sentiram. Todos os que ainda respiravam olharam para o céu e souberam: Selena ainda não havia terminado.---Eles estavam em um planalto vazio quando sentiram a terra pulsar.O chão sob os pés de Selena tremeu com precisão rítmica. Como um coração voltando a bater após séculos em silêncio. Rurik colocou a mão sobre a marca em seu peito e gemeu baixo.— Ela acordou.Selena não respondeu. Apenas fechou os olhos e ouviu.O mundo falava com ela agora.Mas não em palavras.Em dores antigas.Em nomes esquecidos.Em gestos de mães que enterraram filhos.Em soldados que mataram amando.Em monstros que só queriam ser compreendidos.A Quinta Boca não era destruição.Ela era memória viva.Tudo aquilo que a humanidade escondeu embaixo da carne — os traumas, as verdades, os erro
O mundo não acabou.Ele apenas despiu-se.Por séculos, civilizações rastejaram sobre camadas de mentiras: dogmas, mitos, pactos esquecidos e deuses forjados por medo. Mas, depois que Selena abriu a Quarta Boca, o véu que separava o mundo real do mundo verdadeiro rasgou-se com violência. Não sobrou espaço para fé cega. Só restou o que sempre esteve ali, escondido entre as pedras, sob as unhas, nas lacunas da linguagem.Na primeira noite, a lua ficou vermelha.Na segunda, ela desapareceu.---Selena passou três dias inconsciente. Quando despertou, havia musgo em seu cabelo e cicatrizes novas nos pulsos — finas, como fios costurando o que foi rompido por dentro. A pele da marca já não brilhava, mas estava gravada em alto relevo, como um brasão.Rurik estava ao seu lado.Não dormia.Não saía.— O mundo está desmoronando — disse ela, a voz fraca, mas firme.— Não — respondeu ele, acariciando seus dedos. — Ele só está reaprendendo a ser.Ela ergueu os olhos. As sombras na íris haviam desapa
A floresta parecia mais escura do que antes. Como se cada árvore soubesse que algo havia sido tomado. O ar era espesso, úmido, e a própria luz do dia parecia vacilar, como se duvidasse da própria existência.Selena avançava sozinha, sem mapa, sem descanso. Cada passo era guiado pela marca em sua mão — agora, mais viva do que o coração no peito. A runa queimava como uma bússola orgânica, apontando para o Norte. Para Kael. Para a última boca.Mas ela sabia. Aquilo não era só um sequestro.Era uma armadilha.Rurik estava vivo — por enquanto. Porque Kael queria que ela o encontrasse. Queria que ela escolhesse.E Selena?Ela estava pronta para escolher o fim.---Dois dias depois, ela atravessou as Montanhas Silentes. Na entrada do cânion, encontrou os primeiros sinais: ossos pendurados por cordas de cabelo humano, pingentes feitos com dentes, totens enterrados de cabeça para baixo. O vento soprava de dentro da terra, e não do céu.Ali, o mundo começava a virar do avesso.Ao cair da tarde,
Quando Selena acordou, a luz já invadia o acampamento como navalhas. A dor no corpo era a boa — aquela que vinha depois do prazer descontrolado, da luxúria crua. Mas havia outra também.Uma dor interna.Mais silenciosa.Como se algo tivesse se remexido em suas entranhas durante a noite… e tivesse gostado.Ela se sentou, nua, os cabelos desgrenhados grudando nas costas suadas. O cobertor estava jogado longe, o corpo ainda latejando com o toque de Rurik. Mas o calor dele já não estava ali.— Rurik?Nenhuma resposta.Levantou-se, sentindo as pernas cederem por um instante. A cena da noite anterior ainda se repetia atrás dos olhos. Os gritos abafados, as mordidas, as mãos cravadas na terra. Ela montando nele como um rito ancestral. Mas não fora só desejo. Aquilo tinha um nome.Fome.Encontrou Rurik à beira do rio. O corpo nu dentro da água. Estava parado, imóvel, como uma estátua submersa. Só a cabeça para fora, os olhos fixos em algum ponto invisível.— Desde quando está aí?— Desde que
Dherun não era uma cidade. Era uma cicatriz aberta na terra. Quando Selena e Rurik cruzaram os portões corroídos, o que viram não era feito de pedra ou madeira. Era osso, poeira e sombra. As construções pareciam derretidas, como se tivessem sido moldadas por mãos humanas e depois rearranjadas por algo muito mais antigo — e muito menos preocupado com lógica. A cidade cheirava a ferrugem. A corpos enterrados há milênios. A dor que se recusa a apodrecer. — Sabe o que dizem sobre Dherun? — murmurou Rurik, desmontando. — Que ela foi construída sobre uma cidade anterior, e essa, por sua vez, sobre outra. Cada camada, um mundo esquecido. — Ou um segredo enterrado. Selena caminhou à frente. A runa no colar começou a pulsar. Fraco, mas constante. Como se algo sob seus pés estivesse respondendo. Como se chamasse. Eles passaram por mercados abandonados onde moedas ainda tilintavam sozinhas dentro de bolsas secas. Ruas onde os postes de luz sibilavam nomes em sussurros. E templos ocos,
Último capítulo