No bosque onde o tempo parecia não alcançar, havia uma clareira viva — não de flores, mas de memória.
Ali, não se erguia estátua alguma.
Nem altar.
Nem templo.
Apenas uma pedra baixa, enterrada até a metade, com palavras entalhadas de forma simples:
“Ela foi o fogo.
E escolheu arder.”
A menina caminhava entre as árvores com passos firmes demais para sua idade. O cabelo era escuro, rebelde, como se a noite tivesse sido costurada em fios. Carregava no pulso esquerdo a mesma marca — a espiral de runas gravadas com sangue e escolha.
Ela se sentou diante da pedra.
Fechou os olhos.
E o mundo se curvou para ouvir.
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Por um instante breve e eterno, a floresta parou de crescer.
As sombras deixaram de se mover.
As raízes escutaram.
E ela veio.
Não em corpo.
Mas em calor.
Em presença.
Em certeza.
Selena — agora uma lenda encarnada em vento, terra, fogo e lembrança — desceu em silêncio.
A menina sentiu.
Sorriu.
E sussurrou:
— Eu te encontrei.
A voz que respondeu não veio de cima, nem de dentro,