O mundo não acabou.
Ele apenas despiu-se.
Por séculos, civilizações rastejaram sobre camadas de mentiras: dogmas, mitos, pactos esquecidos e deuses forjados por medo. Mas, depois que Selena abriu a Quarta Boca, o véu que separava o mundo real do mundo verdadeiro rasgou-se com violência. Não sobrou espaço para fé cega. Só restou o que sempre esteve ali, escondido entre as pedras, sob as unhas, nas lacunas da linguagem.
Na primeira noite, a lua ficou vermelha.
Na segunda, ela desapareceu.
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Selena passou três dias inconsciente. Quando despertou, havia musgo em seu cabelo e cicatrizes novas nos pulsos — finas, como fios costurando o que foi rompido por dentro. A pele da marca já não brilhava, mas estava gravada em alto relevo, como um brasão.
Rurik estava ao seu lado.
Não dormia.
Não saía.
— O mundo está desmoronando — disse ela, a voz fraca, mas firme.
— Não — respondeu ele, acariciando seus dedos. — Ele só está reaprendendo a ser.
Ela ergueu os olhos. As sombras na íris haviam desapa