Cativeiro de Segredos

Cativeiro de SegredosPT

Romance
Última atualização: 2025-07-21
Schana Fockink  Atualizado agora
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Índice

Ela cruzou fronteiras para vingar o nome do pai. Mas nenhum plano é à prova do desejo. Helena Costa deixou Lisboa rumo a Londres com uma pasta de documentos — e a determinação de destruir o homem que arruinou sua família. Arthur Valente, CEO de um dos maiores grupos financeiros da Europa, é implacável nos negócios e indecifrável na vida pessoal. Para ele, o passado foi enterrado junto com os nomes que precisaram cair para que ele chegasse ao topo. Quando Helena conquista um cargo na sede londrina da Valente Enterprises, está pronta para executar seu plano de infiltração. Seus relatórios são impecáveis, sua lealdade inquestionável — e ninguém imagina quem ela é de verdade. Mas à medida que a convivência se intensifica, Helena começa a enxergar nuances no homem que jurou derrubar. O vilão da sua história tem rachaduras. Humanidade. Silêncios que ecoam os dela. Apaixonar-se por ele pode ser seu erro mais imperdoável. Em uma cidade onde os segredos se escondem atrás de portas envidraçadas, amar pode ser o maior risco — e a única chance de salvação.

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Capítulo 1

Capítulo 1

O prédio da Valente Enterprises se erguia diante dela como um monumento de vidro, aço e promessas quebradas.

Helena Costa parou na calçada movimentada de Canary Wharf e ergueu o queixo, observando as linhas verticais que pareciam não ter fim. O céu de Londres se refletia na fachada espelhada — uma cidade que não era sua, um idioma que ela aprendera tarde demais, um homem lá dentro que não suspeitava que, naquele instante, ela estava prestes a atravessar suas portas.

O frio de março passou pelo sobretudo preto que ela comprara num brechó em Shoreditch, mas Helena não se moveu. Ficou ali por mais um momento, como se esperasse que o vento levasse embora aquela pontada antiga de medo. Talvez, se respirasse fundo o suficiente, lembrasse que não era mais a filha de um empresário falido. Não era mais a garota que viu a mãe se desfazer em lágrimas na sala de estar, segurando cartas de cobrança que ninguém conseguia pagar.

Agora ela era outra.

Era a mulher que atravessaria a recepção, sorriria com contenção e entregaria documentos perfeitamente falsificados que comprovavam seu histórico profissional. A mulher que ia se infiltrar, ganhar a confiança dele, destruir o legado que Arthur Valente construiu.

A mulher que nunca, jamais, se deixaria fraquejar.

Helena apertou a pasta de couro contra o peito e finalmente deu o primeiro passo. Cada passada soava no mármore da recepção como um lembrete de que não havia volta. A assistente atrás do balcão ergueu os olhos, avaliando seu rosto com interesse educado.

— Bom dia. Em que posso ajudá-la?

— Helena Costa. Tenho entrevista às nove e meia — disse, num inglês suave, quase sem sotaque.

A assistente digitou algo no sistema, balançou a cabeça em aprovação e sorriu.

— Sétimo andar, sala de entrevistas B. Pode seguir por ali, senhorita Costa.

Helena agradeceu, ignorando o aperto no estômago. O elevador a engoliu num instante, espelhado por todos os lados. Ali, ela se viu multiplicada em dezenas de reflexos: o cabelo castanho preso num coque impecável, o rosto contido, a blusa branca sem detalhes. Uma mulher invisível. Exatamente como precisava parecer.

Quando as portas se abriram, o corredor parecia silencioso demais. O piso cinza, as luminárias discretas, os quadros minimalistas — tudo gritava dinheiro antigo, poder consolidado. Helena passou por algumas portas fechadas até encontrar a sala B.

Dentro, três pessoas esperavam por ela. Nenhum deles era Arthur Valente. Ainda não.

O homem do centro — cabelos grisalhos, terno azul-marinho — se apresentou como Marcus Halloway, diretor de recursos humanos. Os outros dois, uma mulher de olhar atento e um analista que não ergueu os olhos do tablet.

— Senhorita Costa, certo? — Marcus disse, indicando a cadeira à frente da mesa. — Recebemos seu currículo. Experiência interessante. Por que a Valente Enterprises?

Helena sentou-se com calma, cruzando as mãos sobre os joelhos. Treinara aquela resposta tantas vezes que se tornou automática.

— Porque acredito que minha formação internacional e minha experiência em processos de fusão podem agregar valor à empresa. E, pessoalmente, admiro o trabalho de expansão que a Valente Enterprises fez nos últimos cinco anos.

Mentira. Ela desprezava cada contrato, cada aquisição agressiva. Mas seu tom era calmo, estudado.

— Sua última função foi em Lisboa, correto? — a mulher perguntou. — Por que saiu?

— Por motivos pessoais. — Outra meia-verdade. Por que saiu? Porque a empresa do pai dela afundou enquanto ela fazia pós-graduação, e quando voltou, encontrou tudo em ruínas. Mas isso não estava no currículo.

O analista ergueu os olhos por um segundo. Helena sustentou o contato visual com a serenidade que não sentia.

— Muito bem. — Marcus fechou a pasta com seu nome. — Vamos dar prosseguimento ao processo. Se for aprovada nesta etapa, receberá o contato do nosso escritório até amanhã.

Helena sorriu, agradeceu, e saiu da sala com passos que não vacilavam. O corredor parecia mais silencioso do que antes. Quando virou à direita em direção aos elevadores, sentiu um movimento vindo da outra extremidade.

Ela ergueu os olhos — e o viu.

Arthur Valente caminhava na direção oposta, falando ao celular. O terno cinza-escuro parecia feito sob medida, marcando os ombros largos, o corpo alto. Ele não sorriu. Não pareceu notar nada além do visor do telefone. Mas Helena parou.

Por um instante, foi como se o coração quisesse arrebentar seu peito.

Ali estava o homem que ela culpava por todas as noites insones do pai, por cada dívida, por cada humilhação que a família sofreu. O homem que transformou o nome Costa numa piada.

E ele nem sequer levantou os olhos.

Era isso que doía mais.

Helena voltou a andar antes que ele chegasse perto o suficiente para notar sua expressão. Entrou no elevador com a respiração descompassada, e só quando as portas se fecharam teve coragem de encostar na parede fria.

Na pasta que segurava, havia cópias de contratos antigos, relatórios financeiros, documentos que seu pai guardou como última esperança de provar que havia sido traído. Nenhum daqueles papéis importava se ela não fosse forte o bastante para cumprir o que prometeu a si mesma.

Quando chegou ao térreo, o telefone vibrou em sua bolsa. Uma mensagem da irmã.

E então? Você conseguiu?

Helena olhou para o saguão envidraçado, onde executivos passavam apressados, segurando copos de café e pastas de couro. E depois voltou a fitar a entrada, como se pudesse ver Arthur Valente surgindo por trás do vidro.

Ainda não. Mas estou perto. Mais perto do que jamais estive.

Guardou o telefone e saiu para o frio de Londres, sabendo que aquele foi apenas o primeiro passo.

E que, na próxima vez que cruzasse com ele, não se permitiria fraquejar.

Helena seguiu pela calçada estreita, desviando de engravatados que pareciam não vê-la. O vento úmido fazia o sobretudo bater nas pernas, mas ela caminhou com o queixo erguido, como se ninguém pudesse atravessar a bolha que a separava do resto do mundo.

Ao dobrar a esquina, parou diante de um café pequeno, onde vitrines embaçadas protegiam clientes absortos em notebooks. Empurrou a porta de vidro, sentindo o aroma de café torrado, e escolheu uma mesa perto da janela. Precisava de um lugar para recuperar o controle antes de voltar ao flat.

Quando o atendente se aproximou, ela pediu um cappuccino com voz baixa e tirou da pasta uma folha amarelada. No canto superior, lia-se o nome do pai em letras sóbrias, seguido pelo logotipo antigo da empresa dele. E logo abaixo, a assinatura de Arthur Valente.

Era só um contrato. Um pedaço de papel. Mas em cada cláusula existia o início do fim.

Por que você fez isso?

A pergunta latejava na mente desde que Helena encontrara aquelas pastas guardadas no fundo de uma mala. Talvez nunca obtivesse resposta. Talvez não importasse. A ruína da família Costa fora só um degrau no caminho dele até o topo.

Ela respirou fundo e dobrou o documento com cuidado, como se temesse que qualquer rasgo pudesse desfazer a coragem que demorou anos para construir.

— Desculpe — murmurou ao atendente que trouxe o café. Ela não percebeu que ele já estava parado ali, aguardando espaço na mesa. — Obrigada.

O celular vibrou de novo. Outra mensagem, dessa vez da mãe.

Ligue quando puder. Seu pai não dorme há dias.

Helena apoiou a testa contra a vidraça fria. Não podia contar nada. Nem que tinha estado a menos de cinco metros do homem que odiava. Nem que, por um segundo, sentiu algo parecido com curiosidade ao olhar para ele.

Eu só preciso que vocês confiem em mim, pensou. Que me deixem fazer do meu jeito.

Quando levantou o rosto, viu seu próprio reflexo nos vidros. Parecia cansada demais para seus vinte e sete anos. Cansada e determinada.

Pagou a conta e saiu do café com passos firmes. O vento havia ficado mais frio, cortando a pele. Ela atravessou a rua e caminhou até a estação de metrô. Cada parada, cada vagão lotado, cada olhar vazio de desconhecidos era parte do preço que escolhera pagar.

No flat minúsculo que alugava por semana, Helena trancou a porta e apoiou a testa contra a madeira. Deixou a pasta cair sobre a cama estreita, respirando como quem correu uma maratona.

O cheiro de tinta velha e isolamento barato encheu seus pulmões. Ela não se importava. Podia dormir num chão duro se fosse preciso.

No celular, abriu o calendário. Amanhã, se fosse chamada para a próxima etapa, teria entrevista direta com Marcus Halloway e — possivelmente — Arthur Valente.

O coração bateu num compasso frenético. Não podia hesitar. Não podia se distrair.

Helena sentou-se na beirada da cama, passou a mão pelo rosto e fechou os olhos. Na memória, viu o vulto dele atravessando o corredor, a postura ereta, o semblante concentrado. Odiava admitir que, por trás daquele desprezo, havia uma pontada de curiosidade venenosa.

Eu vou te destruir, prometeu em silêncio.

E quando tudo acabasse, quando a empresa dele estivesse em ruínas e o nome Valente finalmente manchado, talvez ela conseguisse dormir sem sonhar com aquele dia em que perderam tudo.

Ou talvez não.

Helena abriu os olhos, afundou o rosto nas mãos e deixou o silêncio do flat lembrá-la de que não havia ninguém para consolá-la. E isso também era bom.

Se quisesse vencer, teria que fazer sozinha.

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