Na manhã da apresentação ao conselho, Helena acordou antes do despertador tocar.
Tomou banho em silêncio, prendeu o cabelo num coque firme e escolheu uma blusa de seda preta — neutra, discreta, impossível de interpretar como vaidade. Queria parecer apenas competente, nada além disso.
Mas ao olhar seu reflexo no espelho, soube que qualquer esforço seria inútil. Por dentro, ela não estava neutra. Nem fria.
No metrô, revisou mentalmente cada dado do relatório. Fechou os olhos e repetiu as projeções de economia fiscal, o histórico de fraudes, as sugestões de nova licitação. Precisava se lembrar de quem era ali dentro: a mulher que veio para destruí-lo.
Quando chegou ao prédio, já havia movimento. Assistentes carregavam pastas e laptops, advogados conversavam em voz baixa junto ao elevador.
Ela passou direto, como se pertencesse àquele ambiente há anos.
No sétimo andar, Sean a aguardava perto da recepção. Ele usava gravata azul-marinho e tinha um semblante ainda mais atento que o normal.
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