O fim da tarde em Lisboa parecia pintado em tons de cobre. As sombras se alongavam pelas calçadas, e a cidade desacelerava num compasso quase imperceptível. Helena e Arthur caminhavam sem rumo definido, lado a lado, os passos em silêncio e os pensamentos em desalinho.
Tinham passado o dia juntos, entre pequenas rotinas e silêncios confortáveis. Tomaram café na cozinha com os pais dela, trocaram palavras simples, olharam álbuns antigos. Helena mostrara a ele uma edição desgastada de Fernando Pessoa, marcada por anotações da adolescência. Arthur, em silêncio, lera um trecho, e depois devolvera o livro com um aceno de cabeça que dizia mais do que qualquer elogio.
Agora, caminhavam pelas ruas estreitas do bairro dela. As casas antigas, com suas janelas de madeira e fachadas descascadas, pareciam conter respirações guardadas de outra época. Um homem varria a calçada diante de uma floricultura. Uma criança soltava bolhas de sabão da varanda. Helena apertou um pouco mais o casaco em torno do