Elena sempre soube que o casamento com Luca, o príncipe herdeiro da família Moretti, era um acordo político. O que ela não esperava era ser entregue como "penhora" ao próprio Don Vittorio Moretti — o temido chefão da máfia e seu sogro — quando Luca fugiu com uma amante. Agora, refém em uma mansão luxuosa sob o domínio de Vittorio, Elena descobre que sua dívida só pode ser paga de uma forma: submissão total. O que começa como um jogo de poder transforma-se em uma atração incontrolável. Vittorio é frio, impiedoso e * decidido a puni-la pela traição do filho… mas cada toque, cada olhar, cada ordem sussurrada no escuro só aumenta o desejo que nenhum dos dois pode negar. Em um mundo onde lealdade e vingança se misturam, Elena precisará decidir: lutar pela liberdade… ou se render ao homem que deveria odiar.
Ler maisO vestido de noiva pesava como uma armadura.
Elena olhou-se no espelho do camarim, os dedos tremendo enquanto ajustavam o véu de renda branca. Não era suposto ser assim. O casamento deveria ser uma celebração, não uma sentença. Mas quando se casa com um Moretti, nada é por amor. — Quase pronta, signorina? — A velha costureira sorriu, alisando as dobras do vestido. — O Don está ansioso. Elena engoliu seco. O Don. Luca Moretti, seu noivo, era apenas o príncipe herdeiro. O verdadeiro poder estava nas mãos do homem que mal a olhava durante os jantares de família: Vittorio Moretti, seu futuro sogro. Um estrondo na porta interrompeu seus pensamentos. — Elena. — A voz era de Luca, mas o tom era estranho, tenso. Ela se virou, e o coração parou. Luca estava lá, sim, mas não com o smoking de noivo. Vestia roupa de viagem, o rosto pálido, os olhos evitando os dela. — O que está acontecendo? — ela perguntou, os dedos se apertando no tecido do vestido. — Eu… não posso fazer isso. O mundo desmoronou em câmera lenta. — O quê? — Eu amo outra pessoa. Estou indo embora. Agora. Elena riu, um som sem humor. — Você está brincando. Seu pai vai te matar. Luca olhou para trás, nervoso, como se esperasse que o próprio diabo surgisse do corredor. — Ele não sabe. E você… bem, você vai cobrir por mim. Antes que ela pudesse responder, ele jogou algo em cima da penteadeira. Um bilhete. — Dê isso a ele quando perguntarem. E então, como um covarde, Luca Moretti fugiu no dia do próprio casamento. Os minutos se arrastaram como horas. Elena ficou paralisada, o bilhete não lido na mão, até que as vozes do corredor ficaram mais altas. Mais violentas. A porta do camarim foi arrombada com um chute. Dois homens de terno preto entraram primeiro, armas à mostra. E então…ele apareceu. Vittorio Moretti. O Don da família Moretti não parecia um homem. Parecia uma tempestade prestes a devastar tudo. Seu terno impecável não escondia a fúria nos ombros tensos, nos olhos negros como azeviche que queimavam através dela. — Onde está meu filho? — a voz dele era suave, mortal. Elena abriu a boca, mas nenhum som saiu. Vittorio avançou, arrancando o bilhete de sua mão. Ele leu, os músculos da mandíbula contraindo. Então, lentamente, levantou o olhar para ela. — Você sabia. — Não!— ela engasgou. — Ele me abandonou também! Vittorio estudou-a por um longo momento, como um predador avaliando a presa. Então, sem aviso, ele agarrou seu braço, os dedos como grilhões de aço. — Então você vai pagar por ele. Elena lutou, mas era inútil. Ele a arrastou para fora do camarim, através do salão de festas em silêncio, onde os convidados olhavam horrorizados. — Você não pode fazer isso! — ela gritou. Vittorio parou, virou-se e aproximou os lábios do seu ouvido. O calor do hálito dele fez seu corpo traiçoeiramente tremer. — Você pertence aos Moretti agora, piccolina. E eu nunca deixo uma dívida sem pagar. Antes que ela pudesse responder, ele a jogou dentro de um carro preto. A porta fechou com um clique final. Elena estava capturada. O lugar para onde a levaram não era uma casa. Era uma fortaleza. Muros altos, câmeras, guardas armados. Vittorio a puxou pelos corredores sombrios até um quarto — não uma cela, mas algo pior. Luxo. Uma suíte enorme, com uma cama enorme, paredes de mármore… e janelas trancadas. — Você vai ficar aqui — ele disse, soltando-a. — Até eu decidir o que fazer com você. Elena esfregou o pulso dolorido. — Eu não sou sua prisioneira. Vittorio riu, um som baixo e perigoso. — Oh, mas é. — Ele se aproximou, cada passo calculado. — Seu noivo fugiu. Você é a única coisa que resta para garantir que a aliança com sua família seja honrada. — Luca é um idiota, mas seu pai não vai deixar você me manter aqui! Ele parou, tão perto que ela podia sentir o calor do corpo dele. — Seu pai? — Vittorio sorriu, cruel. — Ele foi quem sugeriu que eu fizesse uso de você de outra forma. O sangue esfriou nas suas veias. — Você não faria isso. Os olhos dele desceram ao seu corpo, ao vestido de noiva ainda vestido, e algo escuro brilhou no olhar dele. — Não subestime o que um homem como eu é capaz, Elena. Ele virou-se e saiu, trancando a porta atrás de si. Elena caiu de joelhos no tapete, o coração batendo como um tambor. Ela estava nas garras do lobo. E a noite mal tinha começado. O som da fechadura girando ecoou como um tiro na suíte silenciosa. Elena levantou-se tão rápido que a cabeça girou, os dedos se agarrando ao vestido de noiva, agora amassado e manchado de lágrimas. A porta se abriu lentamente, revelando não Vittorio, mas uma mulher de meia-idade com um vestido discreto e olhos impassivos. — Don Vittorio mandou que você se arrumasse para o jantar — anunciou, colocando uma bandeja com roupas sobre a cama. Elena olhou para o conteúdo: um vestido vermelho, justo, com um decote que deixaria pouco à imaginação. — Isso é uma piada? — Ela empurrou a bandeja, fazendo o tecido escorregar para o chão. — Diga ao seu chefe que eu não sou um brinquedo para ele vestir. A mulher nem pestanejou. — Ele disse que você tem uma escolha. Veste isso… ou vai nua. O ar saiu dos pulmões de Elena como se ela tivesse levado um soco. Uma hora depois, ela estava sentada à mesa de jantar mais longa que já vira, o vestido vermelho colado ao corpo como uma segunda pele. As velas projetavam sombras dançantes nas paredes, e o silêncio era quebrado apenas pelo tilintar dos talheres de prata. Do outro lado da mesa, Vittorio observava-a enquanto bebia vinho tinto, os olhos escuros percorrendo cada curva exposta pelo vestido. — Você parece… diferente sem o véu de noiva — comentou, a voz rouca. Elena apertou a faca na mão. — Por que estou aqui? Ele inclinou a cabeça, como um tigre estudando sua presa antes do ataque. — Porque o meu filho foi um tolo. E agora, alguém tem que arcar com as consequências. — Eu não tenho nada a ver com a fuga dele! Vittorio colocou o copo devagar sobre a mesa. — Mas tem. Você era a noiva. Sua família prometeu lealdade. E agora? — Ele sorriu, cruel. — Você é tudo o que resta. Elena sentiu o perigo no ar, espesso como o cheiro do vinho. — O que você quer de mim? Ele levantou-se, andando até ela com passos lentos. Quando parou atrás da sua cadeira, suas mãos se fecharam sobre seus ombros, os dedos queimando através do tecido fino. — Quero obediência. O calor do corpo dele contra suas costas fez algo dentro dela estremecer. — E se eu me recusar? Os lábios de Vittorio se aproximaram do seu ouvido, o hálito quente fazendo seus nervos pegarem fogo. — Então eu te quebro. Depois do jantar, ele a levou para o terraço. A noite estava fria, mas o medo mantinha Elena aquecida. — Você sabe por que Luca fugiu? — perguntou Vittorio, olhando para a cidade abaixo. Elena cruzou os braços. — Porque ele é um covarde. Vittorio riu, um som sem humor. — Porque ele sabia que nunca seria digno de herdar o que é meu. — Virou-se para ela. — E você? É digna de ser uma Moretti? Elena sentiu o desafio no ar. — Eu nunca quis ser. Ele se aproximou, até que ela pudesse sentir o cheiro do seu perfume, uma mistura de tabaco e poder. — Talvez você precise de um… incentivo. Antes que ela pudesse reagir, Vittorio a puxou contra ele, uma mão entrelaçando-se em seus cabelos, puxando sua cabeça para trás. — Me beije. Elena paralisou. — Não. Os olhos dele escureceram. — Não foi uma pergunta. E então… ele a beijou. Foi um beijo de posse, de dominação, seus lábios exigindo submissão. Elena tentou resistir, mas seu corpo traiu-a, respondendo contra sua vontade. Quando ele a soltou, os dois estavam sem fôlego. — Você pertence a mim agora — ele sussurrou. — E eu sempre pego o que é meu. Elena recuou, os lábios ainda ardendo. — Nunca. Vittorio sorriu, como se ela tivesse acabado de cair em uma armadilha. — Então lute. — Ele abriu os braços. — Mostre que você é mais do que apenas um peão. Elena hesitou. Mas então, num ato de pura rebeldia, ela levantou a mão e deu um tapa no seu rosto. O som ecoou como um tiro. Por um segundo, o mundo parou. Então, os olhos de Vittorio incendiaram-se. — Erro grave, piccolina. Ele a agarrou pelo braço, arrastando-a de volta para dentro, em direção aos aposentos privados. Elena sabia que tinha acabado de acender um fogo que não poderia controlar. E a noite ainda não tinha acabado.A noite caía sobre a Villa Morreti quando o primeiro trovão ecoou. Alonso observava a tempestade se aproximar da varanda, um cigarro pendurado nos lábios, o gosto do tabaco misturando-se ao sal do mar. Dentro do quarto, Ekatarina despia-se com movimentos lentos, sua silhueta projetada na parede pelo clarão dos relâmpagos. — *Matteo está em Roma* — comentou ela, soltando os cabelos loiros. — *Os Bartoli estão acabados.* Alonso virou-se, apagando o cigarro no parapeito de mármore. — *E você está pensativa.* Ela sorriu, deslizando os dedos pelo decote do vestido. — *Estou com calor.* O primeiro raio iluminou o quarto quando ele cruzou a distância entre eles. Alonso pegou Ekatarina pela cintura e jogou-a na cama, mas ela rolou para o lado antes que ele pudesse prendê-la. — *Devagar, italiano* — provocou, ajoelhando-se no centro do colchão. Ele puxou-a pelos tornozelos, fazendo-a rir quando ela caiu de costas. — *Você fala demais.* Ela respondeu com um chute no peito
O cheiro de limão e pólvora enchia os jardins da Villa Morreti. **Matteo**, agora com dezesseis anos e pernas longas de predador, observava Nápoles do telhado com binóculos militares. — *Dois carros desconhecidos na Via Partenope* — anunciou em russo perfeito. — *Armas no porta-malas.* Ao seu lado, Alonso baixou seu próprio binóculos. — *Sociais?* — *Muito óbvios para serem Sociais.* Matteo saltou para o chão com a graça de um gato. — *Talvez os Bartoli testando nossos limites.* Ekatarina surgiu na varanda, vestindo apenas a camisa de Alonso e segurando dois cafés. — *Ou Ricci finalmente decidiu morrer.* Matteo pegou um café sem agradecer – um hábito irritante que ela secretamente admirava. — *Posso lidar com isso.* Alonso trocou um olhar com Ekatarina. O menino não era mais um menino. — *Leve Petrovich* — ordenou Alonso. — *E volte até o anoitecer.* Matteo sorriu – um flash de dentes brancos que lembrava demasiado Luciano – antes de desaparecer dentro da mansão.
Um ano se passara desde que os ossos de Luciano foram cimentados nas fundações da nova Villa Morreti. Alonso caminhava pelos corredores de mármore negro, suas botas ecoando como tiros no silêncio da madrugada. O cheiro de pólvora ainda impregnava as paredes – uma lembrança intencional. Ekatarina o esperava na varanda, envolta em pele de lobo siberiano, observando os primeiros flocos de neve do inverno caírem sobre Nápoles. — *Sonhei com ele novamente* — confessou, sem se virar. Alonso parou atrás dela, envolvendo seu corpo com os braços. — *Luciano está morto.* Ela riu, um som sem humor. — *Os fantasmas são teimosos.* Seus dedos encontraram o pequeno relevo em seu ventre – quase imperceptível, mas ali. **A cicatriz.** A única fraqueza que ela permitira a si mesma. — *Eles estão chegando* — murmurou ele, sentindo a tensão em seus músculos. Os *krysha* – os chefes regionais – chegariam ao amanhecer. Pela primeira vez em décadas, as famílias italianas e a Bratva se reun
A carta dos Socia chegou envolta em seda negra, com um selo de cera vermelha que cheirava a jasmim e morte. Alonso a abriu com a adaga que Ekatarina lhe dera – um presente de noivado que já havia cortado dez gargantas. **"A filha da puta russa por minha irmã. Encontro-nos na Capela dos Ossos. Vem só."** Assinado: **Don Vittorio Socia** Ekatarina riu ao ler, esfregando o papel entre os dedos até sentir o veneno impregnado. — *Ingênuo. Acha que não reconheceríamos o veneno dos Socia?* Alonso queimou a carta no fogo da lareira, observando as chamas devorarem o convite para sua própria morte. — *Ele não quer negociar. Quer um espetáculo.* Ela puxou o coldre com suas armas preferidas – duas facas curtas de gelo, forjadas na Sibéria. — *Então vamos dar um show.A antiga capela fora construída com fêmures de inimigos e crânios de traidores. Don Vittorio esperava no altar, vestido como para um funeral – o que, Alonso supôs, era exatamente a intenção. — *Só você?* – o velho S
Moscou recebeu-os com neve e aço. O jato particular dos Morreti pousou em Vnukovo sob escolta militar—cortesia do **novo** comando da Bratva. Ekatarina, agora vestida com o sobretudo de pele de raposa branca que fora de sua mãe, observava a pista através da janela embaçada. — *Eles vão te desafiar hoje* — Alonso murmurou, afastando um fio de cabelo loiro de seu rosto. Ela sorriu, mostrando os dentes. — *Espero que sim.* Do lado de fora, vinte homens armados até os dentes alinharam-se na neve. No centro, **Mikhail**, o antigo *brigadier* de Konstantin, segurava uma bandeja de prata com dois copos de vodka congelada. — *Tradição* — ela explicou, descendo os degraus do avião. — *Se eu beber e não morrer, sou digna.* Alonso segurou seu pulso. — *É veneno.* Ela beijou seus dedos antes de se soltar. — *Claro que é.O salão da Bratva cheirava a madeira encerada e medo. Mikhail, um gigante com cicatrizes de guerra no rosto, ajoelhou-se exageradamente ao entregar o copo. —
Nápoles cheirava a chuva e sangue velho. Alonso ajustou o colarinho do sobretudo enquanto observava o beco escuro através da janela do carro blindado. Fiorela, agora com um vestido discreto e os pulsos amarrados sob as mangas, tossiu: — *Ele está aqui. No terceiro andar do prédio azul. Costumava ser um bordel dos Socia.* Ekatarina, ao lado dela, verificou a carga da Tokarev com um *click* satisfatório. — *Mentir agora seria um erro muito estúpido, querida.* Fiorela encolheu-se. — *Eu não quero morrer.* Alonso abriu a porta do carro. — *Então reze para que você esteja certa.O prédio estava silencioso, mas não vazio—garrafas de vodka vazias e cigarros esmagados no chão mostravam atividade recente. Alonso subiu as escadas primeiro, a Beretta pronta. No terceiro andar, uma porta entreaberta. Cheiro de carne podre e pólvora. **Movimento.** Ele atirou antes de pensar. O vidro da janela estilhaçou-se. — *Preguiçoso, Morreti* — a voz de Dmitri veio dos fundos, ecoando.
Último capítulo