Dez anos se passaram desde a queda. Desde que Angeline desapareceu, levando com ela o último sopro de humanidade que Matteo Fontana ainda carregava. Agora, ele reina absoluto como Don de uma máfia mergulhada em sangue e silêncio. Ao seu lado, uma noiva que ele não ama. Atrás de si, um império construído sobre mentiras. À sua frente, o fantasma da mulher que o destruiu. Angeline não é mais a mesma. Agora ela vive como Elena, escondida, apagada, disfarçada entre sombras. Mas seu passado não ficou enterrado, está prestes a engoli-la viva. Um filho que ela não pode abraçar, uma enteada que a despreza, uma família que a quer morta. E um amor doentio, que nunca a soltou. Enquanto alianças desmoronam e a máfia se afunda em traições internas, um novo inimigo se levanta. Alguém que conhece os segredos mais podres dos Fontana. Alguém que vai usar o nome dela para destruir tudo. No meio do caos, crimes não resolvidos voltam à tona, verdades enterradas pedem sangue, e o destino de uma geração inteira depende de quem vai puxar o gatilho primeiro. Amor e ódio. Desejo e vingança. Obsessão e redenção. Prepare-se para um retorno brutal ao submundo, onde ninguém é inocente, e o passado sempre cobra seu preço.
Leer másDedicatória ❤️🔥
Para quem já amou errado. Para quem sobreviveu ao próprio nome. E para quem um dia teve que sumir para continuar viva. O céu da Calábria amanheceu coberto por um véu espesso de nuvens cinzentas, como se até os deuses se recusassem a descer àquela casa marcada por sangue e silêncio. O corpo de Alessandra Fontana repousava no caixão de madeira escura, cercado por flores brancas demais para disfarçar o cheiro de morte. Ela era a última ponte entre o que a família um dia foi... e o que agora estava prestes a se tornar: um império à beira do colapso. Matteo Fontana estava parado. Imóvel. Os olhos fixos no rosto pálido da avó, mas não era luto o que habitava seu peito, era raiva. Uma raiva surda, letal, corroendo por dentro. Porque agora, com ela morta, ninguém mais podia segurá-lo pelo braço e sussurrar: “Não se perca de novo, Matteo.” Mas ele já estava perdido. Havia anos. Agora, não havia mais freio. Não havia mais ninguém. Ela era a única voz que ele ainda escutava. A única capaz de colocar humanidade naquele coração endurecido por traições, prisões e lembranças malditas. Do outro lado da sala, Verônica mantinha a postura impecável de uma boneca de luxo. Vestia o luto por obrigação, não por dor. Os olhos impassíveis diziam tudo: nunca amou aquela mulher. Nunca foi aceita por ela. Alessandra sempre deixou claro que Verônica jamais seria digna do sobrenome Fontana. E mesmo morta... ainda parecia presente. Isabella, com seus quinze anos, ocupava uma das poltronas com desprezo visível. Braços cruzados, olhar entediado, postura desafiadora. A encenação de família unida não a comovia mais. Ela era apenas uma peça jogada num tabuleiro que nunca quis jogar, mas aprendeu as regras cedo demais. Luca, aos dez, estava de pé, próximo ao pai. Silencioso. Atento. Os olhos fixos no caixão. E nos olhos dele... os traços de Angeline. Era um fantasma vivo naquela casa. Matteo evitava encará-lo. Era como olhar para a própria maldição. Sofia entrou na sala segurando a mão da pequena Natália, agora com nove anos. O olhar dela cruzou o de Ivan, que se mantinha distante, frio, mais interessado nos homens da máfia presentes do que na perda da matriarca. Ela não confiava mais nele. Talvez nunca tivesse confiado de verdade. Giovanni permanecia ao lado do caixão, observando. Calculando. Cada gesto. Cada silêncio. Cada tensão não dita. Aquela não era uma família de luto. Era uma bomba-relógio, prestes a explodir. Nos fundos da sala, Luigi Rossi trajava um terno escuro, com o filho Andrea, de oito anos, ao lado, inquieto. Bianca tentava conter o garoto, mas seus olhos estavam fixos em Sofia. A tensão entre elas era densa. Antiga. Quase palpável. Na cozinha, soldados da máfia circulavam em silêncio, prestando homenagens. Mas mesmo entre homens armados, o ar estava diferente. Pesado. Alessandra não era apenas uma velha morta. Ela era um símbolo. E agora, era um aviso. O último freio da família Fontana havia sido enterrado. Agora, o inferno tinha passe livre. A terra da Calábria estava úmida. As pás afundavam com facilidade no barro encharcado. O cheiro de terra molhada subia como um lamento. O céu, fechado, engolia qualquer sinal de sol. Era como se o mundo recusasse testemunhar aquilo. Alessandra Fontana ia para o chão. Literalmente. E com ela, descia a última gota de ordem da famiglia. A lápide, de mármore negro e veios prateados, já estava posicionada. Elegante. Imponente. Como ela sempre foi. Os dizeres em italiano, cravados a sangue e ferro: La famiglia prima di tutto. Alessandra Fontana — 1950 - 2025 Matriarca. Madre. Leggenda. Ao redor do túmulo, a nata da máfia ’Ndrangheta formava um círculo fechado. Capos. Soldados antigos. Aliados de décadas. Roupas escuras. Óculos escuros. Armas ocultas sob casacos longos. Nenhum civil. Nenhuma lágrima. Era um ritual. Uma despedida. Um reinício. O caixão desceu. Sem música. Sem padre. Sem palavras. Só o som seco da madeira tocando o fundo da cova. Como um eco de fim. Matteo então tirou do dedo o anel da avó, o símbolo da linhagem Fontana, e o atirou com força sobre o caixão. O som metálico reverberou como um tiro. Era mais que um gesto. Era uma sentença. Ele aceitava o trono. E a maldição que vinha com ele. Sofia foi a próxima. Lançou uma rosa vermelha com delicadeza. Um adeus silencioso. Depois disso, ninguém mais teve coragem de seguir o gesto. Ninguém queria carregar símbolos. Ninguém queria ser marcado. Quando o buraco foi coberto, Matteo virou as costas e partiu. Sem uma palavra. Sem olhar para trás. Não houve consolo. Não houve abraço. Só silêncio. E cheiro de guerra. A morte de Alessandra não foi apenas um fim. Foi o sinal. O estopim.“O ódio dele me queimava por fora, mas foi o amor que ainda vi nos olhos dele que me destruiu por dentro.” Angeline O coração martelava dentro do meu peito. Parte de mim queria correr. Outra parte queria ser engolida por ele. Sempre foi assim. Sempre. Ele avançou um passo, depois outro. Cada movimento dele era um ataque à minha sanidade. Me prendi contra a parede gelada, a água escorrendo pelo meu corpo como se me denunciasse. Fechei os olhos por um instante. O cheiro dele, o calor, tudo me atingia como um soco. — Insolente. — O rosnado dele vibrou contra a minha pele. E então aconteceu. A boca dele colidiu com a minha, dura, selvagem, cheia de ódio. Eu deveria ter virado o rosto, deveria ter resistido. Mas não consegui. O gosto dele me trouxe de volta a vida que um dia foi minha. Um gosto de whisky, tabaco e inferno. Meus dedos traíram a mim mesma, agarrando o ombro dele. E quando ele apertou minha cintura com brutalidade, eu gemi contra a boca dele, misturando raiva e desejo.
“O amor que carrego por ela é o mesmo que me apodrece por dentro.” Matteo Martina saiu batendo a porta, e o silêncio voltou a reinar no quarto. Tirei o paletó e joguei sobre a poltrona, os dedos ainda latejando de raiva. Mas não era dela que eu estava com ódio. Nunca foi. Fechei os olhos e vi Angeline. Não a mulher que conheci há anos, com seus cabelos longos e ruivos caindo em ondas, mas a que vi hoje. Diferente. Marcada. Envelhecida pela dor. Ainda mais linda. Ainda mais maldita. O ódio me corroía porque a saudade ainda estava viva. Eu deveria querer a morte dela, mas, quando a vi novamente, percebi a verdade que tentei enterrar por dez anos: Angeline é a minha maldição. A lembrança do leilão me perseguiu. Ela em pé, frágil, como se fosse mais uma mercadoria barata. Ridículo. Ninguém tinha o direito de olhar para ela daquela forma. Ninguém tinha o direito de colocar preço no que já era meu. E esse era o problema. Ela ainda era minha. Sempre seria. Caminhei até o espelho e enc
“O passado nunca morre. Ele só espera a hora certa para foder com o seu presente.” Matteo A mansão estava mergulhada em silêncio quando cheguei. Meus homens se dispersaram com um simples aceno, e eu subi as escadas em passos pesados, ainda com a adrenalina queimando nas veias. O leilão, Angeline, aquele olhar perdido dela… nada me deixava em paz. Abri a porta do meu quarto e encontrei Martina sentada na beira da minha cama, como se fosse dona de algo que nunca lhe pertenceu. Estava arrumada demais para quem deveria estar dormindo. Vestido curto, salto ao lado, perfume doce que invadia minhas narinas sem pedir permissão. — Estava te esperando, Matteo. — a voz dela saiu doce, ensaiada, carregada de um charme forçado que me enojava. Fechei a porta com força. — Você não aprende mesmo, não é, Martina? Ela se levantou, o sorriso estampado como uma máscara. — Só queria saber onde você estava. São quase três da manhã. — Onde eu estava não te diz respeito. O sorriso dela se contraiu,
“A dor da alma sempre grita mais alto que a do corpo.” Angeline Os olhos dele não negavam o ódio que sentia por mim, era algo tão estranho de se ver, os olhos que um dia me olharam com desejo e obsessão, agora me fitavam com nojo e rancor. Eu queria poder abraçá-lo, dizer que sentia muito, mas como eu faria isso? Eu ainda conseguia sentir o seu gosto quando ele se afastou completamente, e um vazio estranho tomou conta de mim sem tê-lo por perto. — Matteo... — murmurei, sem forças. — Você vai ficar aqui, eu preciso pensar no que vou fazer com você. — a voz dele foi firme, cortante, carregada de um veneno que me atravessou inteira. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele virou as costas e saiu, a porta batendo atrás de si como uma sentença. Fiquei sozinha. Meu corpo deslizou contra a parede até eu sentar no chão frio do apartamento. Meus olhos marejavam, mas eu me recusava a chorar. Não na frente dele, nunca. Só que agora eu estava só, e as lembranças começaram a vir como
“Ela me destruiu, me entregou… mas mesmo assim continua sendo só minha.” Matteo Joguei Angeline dentro do apartamento como se ela fosse um fardo que eu carreguei por anos, um peso que nunca me abandonou, mesmo quando tentei arrancar a porra da lembrança dela da minha cabeça. A porta bateu atrás de nós, e o silêncio foi preenchido apenas pelo som da respiração dela, acelerada, nervosa. — O que você vai fazer comigo agora? — a voz dela saiu trêmula, mas tinha um toque de desafio. Aquilo me fez cerrar os dentes. Aproximei-me devagar, como um predador prestes a dilacerar a presa. Segurei seu queixo com força, erguendo o rosto dela para me encarar. Aqueles olhos… os mesmos que me perseguiram em cada noite de prisão, estavam ali, cheios de medo, mas também com a insolência que eu lembrava muito bem. — O que eu vou fazer? — soltei uma risada seca, sem humor. — Eu devia quebrar cada osso do seu corpo, Angeline. Eu devia apagar você da face da terra pelo que fez comigo. Ela engoliu em se
"O silêncio dele doía mais do que qualquer soco, porque era nesse silêncio que moravam todos os monstros que me perseguiam." Angeline O carro avançava pela estrada deserta, engolindo o breu da noite. A janela ao meu lado refletia um rosto que eu mal reconhecia: pálido, ferido, com os olhos marejados, mas ainda vivos. Eu ainda respirava, e só isso parecia irritá-lo. Matteo dirigia em silêncio. A mão firme no volante, a outra batendo de leve sobre o câmbio, num ritmo que denunciava sua impaciência. O terno impecável agora estava desarrumado, a gravata frouxa, mas ele não deixava de exalar poder. Ele não precisava de postura para ser temido; a própria sombra dele já sufocava. Eu respirei fundo. A coragem não vinha fácil, mas a pergunta me corroía por dentro, queimando como ácido na garganta. — E Luca? — minha voz saiu mais fraca do que eu gostaria. — Onde está o nosso filho? O silêncio se quebrou como vidro. O ar no carro ficou mais denso. Eu soube, no mesmo instante, que tinha mex
Último capítulo