Rafaella Ferraro é a irmã mais nova de Erich Ferraro, o consigliere da temida Cosa Nostra. Órfãos desde cedo, os dois sempre foram o porto seguro um do outro — até que Salvattore Bianchi, subchefe da máfia, cruza o caminho de Rafaella e desperta nela uma paixão avassaladora. O sentimento é recíproco: Salvattore sabe que a ama mais do que a si mesmo. Mas no mundo cruel e implacável da máfia, o amor é visto como uma fraqueza. Estará ele disposto a desafiar tudo para viver esse amor? Ou o destino implacável do submundo os separará para sempre?
Ler maisPonto de vista de Erich FerraroErich olhava para o relógio pela terceira vez em menos de cinco minutos. Os dedos tamborilavam nervosos sobre a mesa de madeira maciça do salão principal da casa, o velho salão que por tanto tempo abrigara as decisões mais brutais da máfia Ferraro — e que agora servia como palco de um momento que ele esperara por meses.Rafaella estava voltando. Sua irmã. Sua menina. Aquela por quem ele cruzaria oceanos e incendiaria o mundo, se fosse necessário. Estava viva. E ele mal podia acreditar que, em poucos minutos, a veria entrar por aquela porta com o filho nos braços.Seu sobrinho. Máximo.O nome havia atravessado seus sonhos mais de uma vez. Ele tentava imaginar o rostinho, os olhos, o sorriso. Tentava imaginar como seria segurar aquele pedaço de sua irmã nos braços. A ideia era absurda e maravilhosa ao mesmo tempo. Ele tinha sido privado de tantos momentos. Não a vira grávida, não esteve ao seu lado no parto. E agora... tudo aquilo o atropelava de uma só v
Ponto de vista de Rafaella Bianchi. O apartamento estava mergulhado em um silêncio denso, cortado apenas pelos ruídos suaves do mar ao longe e pelo sussurro do vento que entrava pela varanda. Rafaella embalava Máximo em seus braços, o corpo pequeno e quente aninhado contra seu peito. Ele dormia tranquilo, com o semblante sereno de quem ainda não conhecia as dores do mundo.Ela passou os dedos pelos fios finos de cabelo dele, tentando conter a avalanche de sentimentos que a engolia desde o momento em que Salvattore cruzou aquela porta. A imagem do rosto dele, o som da voz que ela conhecia como parte de si mesma, ainda martelavam em sua mente como um eco constante. O beijo... O tapa... As palavras carregadas de dor, de verdade, de amor.Como se decide entre o perdão e a autopreservação?Ela inclinou-se e deixou um beijo demorado na testa do filho. Havia uma calma indescritível em tê-lo nos braços, como se Máximo fosse seu porto seguro em meio à tempestade. Foi por ele que ela resistiu
Aron observava pai e filho como se estivesse vendo um milagre diante de seus olhos. O silêncio denso era cortado apenas pelo som das pequenas respirações de Máximo, adormecido no colo de Salvattore.Com um suspiro contido e expressão terna, Aron se aproximou, estendendo os braços com cuidado.— Me dá ele... — pediu em voz baixa. — Vou levá-lo pro quartinho. Vocês dois têm assuntos pendentes demais pra resolver aqui na sala.Salvattore hesitou por um segundo, como se entregar o filho fosse abrir mão da única âncora que o mantinha inteiro. Mas, por fim, passou Máximo com todo o cuidado para os braços de Aron, que ajeitou o bebê contra o peito com uma leve reverência de respeito.— Vou deixá-lo confortável. A porta tá aberta — informou, e seguiu pelo corredor.Quando ele desapareceu no quarto, um silêncio cruel tomou conta do ambiente. Salvattore virou-se para Rafaella, que o encarava com uma mistura de mágoa, resistência e um amor sufocado demais para ser ignorado.Ele deu um passo.Dep
POV Salvattore BianchiTrês meses. Noventa dias. Duas mil e cento e sessenta horas. Desde que recebi a foto do nosso filho e a carta que ela deixou com aquele entregador.Foi tudo o que tive dela.Rafaella desapareceu como fumaça no vento e eu fiquei com uma imagem tremendo nas mãos, o nome “Máximo Giuseppe Ferraro Bianchi” ardendo como ferro quente no meu peito. Eu lia e relia cada palavra da carta como se pudesse arrancar dela um pouco do perfume que ela costumava usar.E agora...Ela estava diante de mim.A porta se abriu devagar. E ali estava a mulher que me assombrava todos os meus sonhos. Só que diferente.O cabelo, antes escuro como a noite siciliana, agora estava mais claro, puxando para um mel que brilhava à luz do sol de Mallorca. E os olhos... verdes. Não os castanhos que eu conhecia de cor e salteado, mas verdes, como o mar revolto atrás dela. Lentes, talvez. Mas absurdamente belos.Ela estava linda. Devastadoramente linda.E havia algo novo nela. Uma aura serena, poderosa
POV Salvattore BianchiTrês meses.Noventa e dois dias.Dois mil duzentos e oito intermináveis momentos de saudade.Era assim que Salvattore contava o tempo agora. Desde que recebera a foto do filho, não havia mais nada. Nenhuma nova carta. Nenhum sinal de Rafaella. Nada além daquela imagem gravada na retina e no peito — Máximo, ainda recém-nascido, com os olhos de pedra azul e o nariz afilado como o dele.Aquela foto já estava amassada de tanto ser tocada. Dormia com ela e quando acordava a colocava no bolso do paletó. Sonhava com ela. Respirava por eles.Naquela manhã, estava sentado em sua cadeira de couro, no escritório silencioso da casa de campo onde passara a se esconder dos olhares da Máfia. Os negócios continuavam, mas a chama dentro dele estava apagada.O tempo não curava e nem amenizava aquela dor.Só deixava as perguntas gritarem mais alto.Será que Máximo já deu o primeiro sorriso? Será que Rafaella está bem? Ela ainda me ama? Ele me reconheceria? Reconheceria minha voz ?
POV Rafaella Ferraro BianchiO relógio marcava 3h27 da madrugada quando Rafaella acordou com uma sede absurda. O verão espanhol era abafado mesmo à noite, e o calor insistente a fazia suar por todos os poros. Levantou-se com dificuldade, acariciando o ventre pesado de quase quarenta semanas.— Está quase na hora, meu amor… — sussurrou, atravessando a pequena sala em direção à cozinha.Mal deu dois passos e sentiu algo estranho. Um estalo surdo. Um fluxo quente escorrendo por suas pernas. Quando olhou para baixo, uma poça alagava seus pés descalços.Seu coração acelerou.— A bolsa… — murmurou, trêmula.Correu — ou melhor, andou o mais rápido que pôde — até o banheiro, jogou uma toalha sobre o chão da sala para não escorregar, e pegou rapidamente sua bolsa e a de Máximo, que já estavam prontas havia semanas.Saiu pela porta, atravessou o pequeno jardim e bateu com força na casa da frente.Maria apareceu com os olhos arregalados e o cabelo preso de qualquer jeito.— Alicia?! — exclamou,
POV Rafaella Ferraro BianchiO som das ondas era constante, como uma canção de ninar que embalava os dias longos da reta final da gravidez. O apartamento de frente para o mar, em Palma de Mallorca, parecia pequeno diante das emoções que transbordavam dentro de Rafaella.O ventre já estava grande, firme e redondo como uma lua cheia. Oito meses haviam passado em um suspiro denso e silencioso. Por vezes, ela ainda acordava no meio da noite com a mão sobre o abdômen, como se precisasse confirmar que tudo aquilo era real — que havia mesmo uma vida crescendo dentro dela. Que Máximo Giuseppe estava ali, firme, forte, pulsando.Arianna foi quem trouxe luz para os dias nebulosos.A menina de nove anos, com seus olhos vivos e sorriso contagiante, aparecia todas as tardes com seus lápis coloridos, suas perguntas engraçadas e aquele jeitinho doce de criança que ainda não conheceu a maldade do mundo.— Vamos pintar mais uma parede hoje? — perguntou, com um pincel torto na mão e tinta azul clara re
POV Salvattore BianchiTrês semanas.Vinte dias e algumas horas.Era o tempo exato desde que Rafaella desaparecera da vida dele — deixando para trás um vazio que nenhum poder, nenhuma posição, nenhuma vitória dentro da Cosa Nostra era capaz de preencher.Salvattore mantinha a fachada. Seguia indo às reuniões, assinando papéis, tomando decisões. Mas sua mente não estava ali. Seus olhos vagavam como os de um homem que já havia morrido por dentro, mas continuava respirando.Naquela manhã, estava no escritório principal da casa, diante de um relatório de movimentações financeiras da família. Tentava, em vão, manter o foco. O ponteiro do relógio soava mais alto que tudo ao redor.Até que a porta se abriu com um estalo contido.Era Erich.— Posso entrar? — perguntou, a voz contida, mas tensa.Salvattore apenas assentiu com um leve movimento da cabeça. Erich entrou e depositou um envelope sobre a mesa de mogno, sem dizer nada. O olhar do cunhado era estranho, carregado de emoções que ele não
Ponto de vista de Rafaella Ferraro Bianchi. O tempo em Palma de Mallorca parecia correr de forma diferente. O sol nascia devagar, aquecia as pedras das calçadas e brilhava sobre o mar com um dourado calmo. Mas dentro de Rafaella, tudo era tempestade.A semana passara arrastada. Entre longas caminhadas à beira-mar, cafés silenciosos e noites insones, ela tentava convencer a si mesma de que estava segura, de que tinha feito a escolha certa.Agora, no entanto, seu coração batia acelerado enquanto esperava na recepção da clínica. O ambiente era moderno e acolhedor. Mães com barrigas salientes, casais sorridentes, vozes baixas trocando promessas e planos. Ela se sentia deslocada.Estava sozinha.E esse seria apenas o primeiro de muitos momentos em que enfrentaria o mundo assim.Quando a enfermeira chamou “Alicia Vidal”, Rafaella levantou com um leve tremor nas pernas. O nome falso já havia se tornado instintivo. Ela o repetia mentalmente todos os dias, para não errar.O consultório era cl