Rafaella Ferraro é a irmã mais nova de Erich Ferraro, o consigliere da temida Cosa Nostra. Órfãos desde cedo, os dois sempre foram o porto seguro um do outro — até que Salvattore Bianchi, subchefe da máfia, cruza o caminho de Rafaella e desperta nela uma paixão avassaladora. O sentimento é recíproco: Salvattore sabe que a ama mais do que a si mesmo. Mas no mundo cruel e implacável da máfia, o amor é visto como uma fraqueza. Estará ele disposto a desafiar tudo para viver esse amor? Ou o destino implacável do submundo os separará para sempre?
Leer másA última lembrança que tenho dos meus pais não é feita de palavras ou rostos. É feita de luz intensa, calor e fumaça. Eu tinha apenas dois anos, mas o dia em que tudo mudou está gravado na minha pele como se tivesse acabado de acontecer.
Estávamos a caminho do aeroporto da Cosa Nostra, indo para o Brasil, para a casa dos meus avós. Papai era consigliere de Giuseppe Bianchi, e os dois eram inseparáveis. A viagem deveria ser rápida, apenas um intervalo antes de reencontrarmos meu irmão, que já estava no Brasil, aos cuidados dos nossos avós. O que deveria ser um reencontro feliz, virou tragédia. Lembro do ronco do motor, do som abafado da voz de minha mãe cantando baixinho no banco da frente... e então, tudo se rompeu. Uma explosão. O carro girou no ar como um brinquedo quebrado antes de cair de cabeça para baixo. Gritos. Vidros. Sangue. Fumaça. Os seguranças do meu pai conseguiram me tirar a tempo. Dizem que fui a única que sobreviveu sem um arranhão. Milagre, chamaram. Mas perder os pais não tem nada de milagroso. Foi naquele instante que a máfia deixou de ser uma palavra distante e virou um fantasma constante na minha vida. Desde então, meu irmão Erich se tornou meu mundo. Ele tinha dez anos na época. Já entendia demais para alguém tão pequeno. Foi ele quem secou minhas lágrimas quando eu não sabia por que chorava. Foi ele quem me ensinou a andar de bicicleta, a esconder cartas no bolso e a não confiar em estranhos, mesmo que eles sorrirem. Hoje, é meu aniversário de 16 anos. Erich agora tem 24 e é o consigliere de Matteo Bianchi, atual chefe da Cosa Nostra. Um título que, para muitos, representa poder. Para mim, representa o peso do que perdemos. Dois anos atrás, quando Matteo o convocou, Erich assumiu o posto com uma seriedade que me doeu. Não pelo que ele se tornou, mas pelo que teve que abrir mão para chegar até aqui. Apesar de tudo, ele sempre foi meu anjo protetor. Entre nós, não há máscaras. Sabemos a verdade um do outro com um simples olhar. Crescemos cercados por códigos, juramentos e armas escondidas atrás de sorrisos — mas dentro do nosso vínculo, sempre houve honestidade. Passei boa parte da infância no Brasil, na casa dos nossos avós. Vovó é uma mulher de fé, mas carrega no rosto a dor de quem perdeu um filho de forma cruel. Vovô tem Alzheimer, e sua mente vive em um tempo onde meu pai ainda entra pela porta com o casaco cheirando a tabaco e chuva. Vovó nunca quis voltar para a Itália. Na cabeça dela, esta terra amaldiçoada roubou tudo o que ela tinha. E vovô, mesmo em seus momentos de lucidez, pensa o mesmo. Foi há um ano que me mudei para a Toscana com Erich. Ele não confiava mais em deixar minha segurança nas mãos de ninguém. Disse que a saúde dos nossos avós já estava frágil demais, e que era hora de estarmos juntos. Desde então, vivemos em uma propriedade cercada de colinas, vinhedos e empregados que parecem estar sempre à espreita, prontos para agir a qualquer sinal de ameaça. No início, odiei estar de volta. Parecia que os fantasmas que minha avó tanto temia andavam mesmo por aqui, sussurrando pelos corredores à noite. Mas então, conheci Chiara. Chiara foi um sopro de leveza na minha rotina cinza. Um ano mais velha do que eu, intensa, risonha e completamente apaixonada pelo meu irmão. É óbvio que ele sente algo também — eu vejo nos olhos dele. Ele nega, claro. Mas sou irmã dele há dezesseis anos. Eu sei quando Erich está tentando esconder alguma coisa. E há algo que compartilho com Chiara: o coração acelerado por um homem que provavelmente é proibido demais para nós. A primeira vez que vi Salvattore Bianchi foi no aeroporto. Ele estava ali, esperando por Erich, mas foi como se estivesse ali só por mim. Alto, tatuado, o paletó escuro contrastando com os olhos claros e um charuto entre os dedos. O perfume amadeirado dele me envolveu como um feitiço. Fiquei paralisada. Eu, que nunca acreditei em amor à primeira vista, fui atingida em cheio. Salvattore tem apenas seis anos a mais que eu, mas carrega nos ombros a experiência de quem já viu mais do que gostaria. Subchefe da máfia. Temido, respeitado, letal. Mas comigo... sempre foi gentil. Delicado. Um cavalheiro nas sombras. Nos últimos meses, criamos uma espécie de vínculo silencioso. Ele sempre deixa algum presente para mim: um livro sublinhado, um doce raro, um perfume francês. Pequenos gestos que, para qualquer outra pessoa, seriam insignificantes. Mas para mim, cada um deles carrega uma confissão silenciosa. Nunca ultrapassamos nenhum limite. Nunca houve um toque mais demorado, um beijo roubado, uma promessa. Mas os olhares... os olhares dizem tudo. Meus pensamentos são interrompidos por uma batida suave na porta. Caminho até ela com o coração acelerado. Ao abrir, me deparo com um buquê enorme de rosas vermelhas e girassóis — minhas flores favoritas. Um bilhete repousa entre as pétalas: “Feliz aniversário, dolcezza. Aproveite seu dia. Estarei te esperando para uma dança durante sua festa. — Salvattore Bianchi.” Meus dedos tremem ao segurar o papel. O cheiro das flores invade o quarto. Um sorriso bobo escapa dos meus lábios. Ele nunca falou sobre o que sente. E eu nunca ousei perguntar. Mas esse bilhete... esse bilhete é tudo o que meu coração romântico e cafona precisava para continuar acreditando. A festa ainda nem começou. E já sinto que esta noite pode mudar tudo. O cheiro das flores ainda pairava no ar quando fechei a porta do quarto com delicadeza, como se o simples gesto pudesse acalmar as batidas do meu coração. Caminhei até o espelho e encarei meu reflexo. Era hora de me arrumar. O escolhido da noite foi um vestido preto, justo, com uma fenda que mostrava um pouco mais do que deveria. Uma escolha ousada, talvez, mas não consegui resistir. Nos olhos, optei por uma maquiagem leve — sombra dourada, delineado suave — e finalizei com um batom vermelho intenso, que contrastava com minha pele clara e revelava o que minha boca ainda não dizia. O cabelo, ondulado com babyliss, caía em ondas sobre meus ombros. Finalizei tudo com meu perfume doce favorito, aquele que sempre fazia Salvattore fechar os olhos por um segundo a mais quando passava por mim. A festa seria na casa principal da vila, a mansão de Matteo — uma construção antiga e imponente no alto da colina, cercada por ciprestes e guardas armados. Matteo sempre foi como um segundo irmão para mim. Cresci ouvindo seu nome nas conversas entre os adultos, e quando o conheci de verdade, vi que ele era exatamente como Erich: leal, protetor, e absurdamente perigoso. Tudo estava mais bonito do que eu imaginava. As luzes da vila brilhavam como se estivessem ali apenas por mim. Mas mesmo com todo o cuidado, todo o luxo, e todo o amor envolvido na organização da festa, meu coração doía. Faltavam eles. Meus avós não estariam ali esta noite. A saúde do vovô, cada vez mais frágil, impediu a viagem. Mas vovó me ligou mais cedo. A ligação durou apenas alguns minutos, mas suas palavras ecoaram como um abraço dentro de mim. — Minha pequena, se eu pudesse, estaria aí te vendo brilhar... Te amo mais que tudo — ela disse, com a voz embargada. Foi impossível conter as lágrimas depois que desliguei. Mas me recompus. Hoje era meu dia. E algo me dizia que ele seria inesquecível.A luz do fim da tarde atravessava os vitrais do antigo salão principal, tingindo as paredes em tons de âmbar e rubi. Máximo Bianchi, agora com dezoito anos, estava sentado à cabeceira da longa mesa de carvalho, com as mãos cruzadas diante de si e o olhar fixo nos dois homens que moldaram sua vida.Matteo Bianchi — Don da família, seu padrinho e líder incontestável — permanecia de pé ao lado de Salvattore, o subchefe e pai de Máximo. O silêncio entre eles era espesso, pesado, como se antecipasse algo que ninguém queria dizer em voz alta.Máximo conhecia aquele tipo de silêncio. Era o mesmo que precedia ordens de execução, declarações de guerra... ou decisões irrevogáveis.— Decidimos mudar a ordem hierárquica da família — disse Matteo, direto, sem rodeios. — Você é o primogênito. Sempre te criamos para liderar. Desde sempre.Máximo arqueou uma sobrancelha, desconfiado.— Achei que seu filho assumiria — disse ele, em tom neutro, mas com a tensão subindo por sua espinha. — Alessandra já
Ponto de vista de Salvattore Eu já matei por Rafaella. E, se precisasse, mataria de novo. Sem pestanejar. Sem arrependimentos. Mas hoje... hoje, eu mataria por algo ainda maior. Eu mataria por minha família. Pela mulher que me ensinou que, mesmo no meio da escuridão, há uma luz que não se apaga. Pelos olhos azuis do meu filho que me chama de “papa” com aquela voz ainda vacilante, mas cheia de amor. Pela risadinha doce da minha menina, que dorme agarrada ao meu peito como se o mundo inteiro coubesse ali. Minha Giulia. Minha pequena princesa, carregando o nome da mulher mais forte que conheci. Minha mãe teria se orgulhado dessa menina, e ainda mais da mãe que ela tem. Rafaella. A mulher que transformou meu caos em lar. A mulher que me fez ver além das armas, além do poder, além do medo. Ela é a razão pela qual eu acordo sorrindo. A razão pela qual eu deito em paz. A razão pela qual eu mudei – mesmo sem nunca perder a essência do que sou. Não me tornei um homem menos perigoso
POV Rafaella Ferraro Bianchi— Estamos grávidos — eu disse com um sorriso que mal cabia no rosto, enquanto segurava a mão de Salvattore com força.O silêncio durou poucos segundos, mas parecia uma eternidade. Matteo arregalou os olhos. Chiara levou as mãos à boca. Erich, como sempre, manteve a pose séria — até que seus olhos se suavizaram com emoção.E então vieram os abraços, os sorrisos, os gritos de alegria.Chiara me apertava como se quisesse dividir o amor comigo. Matteo dizia que Salvattore não perdia tempo, enquanto Erich dava tapinhas nas costas do cunhado com um sorriso de aprovação. Mas o momento mais lindo foi quando Máximo, sentadinho no sofá, olhou para mim, depois para a barriga que eu acariciava, e caminhou devagar com aqueles passinhos seguros.— Imã — disse, tentando dizer “irmã”.Ele pousou as mãozinhas pequenas na minha barriga e sorriu. Meu coração simplesmente desabou. Aquela era a cena mais rica, mais pura e mais preciosa da minha vida.A gestação correu com tran
POV Salvattore BianchiO salão estava impecável.Tulipas azuis e copos-de-leite brancos compunham a decoração como se tivessem brotado da memória da minha mãe. Era impossível olhar ao redor e não senti-la presente ali, mesmo tantos anos depois. Aquela era uma homenagem de Chiara à nossa mãe, Giulia Bianchi — e, sinceramente, não podia ter sido mais perfeita.Chiara era o retrato da felicidade. Estonteante no vestido branco rendado, com um sorriso leve e lágrimas insistentes que ela tentava conter. Matteo, com toda sua imponência de irmão mais velho, entrou com ela na cerimônia, orgulhoso como nunca o vi antes. Eu e Rafaella éramos os padrinhos, e caminhar com ela ao meu lado — minha mulher, minha alma — me dava uma sensação de completude absurda. Ainda me surpreendia como ela conseguia me deixar mais apaixonado a cada dia.Erich estava nervoso, visivelmente desconcertado no altar. Era quase engraçado ver aquele homem acostumado com o perigo, com armas e decisões de vida ou morte, trem
POV Rafaella Ferraro BianchiO dia estava claro, mas dentro de mim tudo era nublado.Sentada na sala da casa principal, observava Máximo brincar com uma boneca de pano ao lado da bebê de olhos verdes e cabelos claros que se aninhava no colo da mãe. Serena Petrović era pequena, delicada, com uma serenidade quase sobrenatural no rosto. Tinha apenas seis meses, mas parecia carregar um mundo inteiro no olhar.Ao lado dela, Aurora, a mãe, observava a interação das crianças com um sorriso discreto. A mulher era elegante, fria à primeira vista, mas os olhos denunciavam que havia mais ali. Muito mais.— Eles são lindos, não? — ela disse, sem me olhar.— São — respondi, em um tom neutro. — Inocentes demais para esse mundo.Ela assentiu, lentamente.— Cresci nesse meio. Meu casamento também foi uma aliança. Mas tive sorte. Acabei me apaixonando pelo pai de Serena... mesmo que só depois.Houve um silêncio.— E você? — ela perguntou, virando-se enfim para mim. — Casou por amor?A pergunta me atra
POV Salvattore BianchiAcordei com Rafaella nos meus braços, seu corpo quente encaixado ao meu como se fosse extensão do meu. O sol filtrava pelas cortinas, tingindo o quarto com uma luz suave e dourada. Beijei o ombro nu dela, sentindo o gosto da pele que já era minha desde o instante em que a vi.— Estou com saudade de estar dentro de você — murmurei, rouco de desejo.Ela riu baixinho, ainda sonolenta, e se virou lentamente, os olhos semicerrados.— Insaciável... fizemos amor antes de dormir, você esqueceu?— Quando se trata de você, amore mio, eu sempre estarei sedento — respondi, mordiscando levemente seu pescoço.O sorriso dela se abriu como um raio de sol depois da tempestade. E ali mesmo, entre lençóis bagunçados e suspiros abafados, fizemos amor. Sem pressa, sem o peso do mundo nos ombros. Apenas nós dois. Ela era tudo o que eu precisava para lembrar que mesmo dentro da escuridão da máfia, ainda existia luz.Depois, tomamos banho juntos. Ela apoiada em meu peito, enquanto a ág
Último capítulo