Mundo de ficçãoIniciar sessãoSinopse Lisa Deluca nasceu cercada por grades invisíveis filha de um mafioso poderoso, sua vida sempre foi vigiada, medida, controlada. Mas por trás da obediência silenciosa, há uma alma que grita por liberdade. Quando ela cruza o caminho de Alejandro Serrano, rival e aliado perigoso de seu pai, nasce um romance proibido, marcado por tensão, desejo e a promessa de algo que jamais poderia florescer. Entre olhares roubados e noites carregadas de tudo o que é não dito, Lisa se vê dividida entre a lealdade à família e um amor que a consome inteira. Mas o amor é apenas o começo. Lisa carrega no corpo um segredo mais cruel que qualquer máfia. Sintomas ignorados se transformam em diagnósticos, e um nome cruel se impõe: leucemia. Quando descobre que o tempo lhe escapa, ela faz a escolha mais difícil: fugir de tudo inclusive de Alejandro para poupar os que ama dá dor de vê-la morrer. Agora, diante da contagem regressiva, Lisa escreve uma lista. Cem desejos. Sem despedidas. Sem chances de viver antes que o fim alcance. Este é o começo de uma jornada onde o amor precisa aprender a soltar, e a vida, a ser vivida… mesmo quando o futuro já não existe.
Ler maisNarrado por Lisa Deluca
Meu nome é Lisa Deluca, e hoje completo dezoito anos. Para muitos, essa idade representa liberdade. Para mim, é só mais uma sentença. Mais um número gravado na parede de uma cela invisível. No meu mundo, idade não é conquista — é um lembrete cruel de que estou mais perto de ser sacrificada em nome de alianças que nunca escolhi. Mais velha, mas não mais livre. Sou a filha mais nova da família Deluca — a única mulher entre quatro irmãos. A caçula de uma linhagem mergulhada até o pescoço no sangue e nas sombras da máfia italiana. Eles nasceram com o fardo do nome. Eu nasci com a ilusão de que poderia escapar dele. Desde criança, meus irmãos me envolveram numa redoma feita de silêncio e negação. Fingem que o mundo ao nosso redor não fede a pólvora e desespero. Que os corpos que somem não carregam nosso sobrenome na boca. Eles me olham como se eu ainda fosse pequena demais para entender. Mas eu sempre soube. Sempre senti. Porque a verdade, por mais que se esconda, sempre encontra uma maneira de entrar. E, na nossa casa, ela entra como uma sombra silenciosa, escorrendo pelas rachaduras das janelas, sussurrando nos cantos escuros dos corredores. Aprendi cedo que, aqui, tudo é dito sem palavras. Um olhar pode valer mais que um aviso. Um silêncio pode ser a maior ameaça. Os códigos da máfia não são explicados — são absorvidos. Você respira, observa, aprende a sobreviver. E eu… sobrevivi. Pelo menos até agora. Aos dezoito, o destino já estava escrito para mim: um casamento arranjado, uma nova aliança selada com véu, grinalda e uma alma enterrada viva. Mas, por enquanto, estou em suspensão. Uma trégua silenciosa que ninguém nomeia, mas que sinto prestes a acabar. Cada dia longe do altar é uma pequena rebelião. Um grito abafado. Mas a corda está esticando, e logo vai partir. Só que, ultimamente, algo em mim mudou. Há dias, manchas roxas começaram a surgir pelo meu corpo pequenas, depois maiores. Surgem sem motivo. Sem lembrança de queda, de impacto. Apenas aparecem. Como se algo dentro de mim estivesse gritando, mesmo quando minha boca permanece calada. Não quero saber o que são. Não quero perguntar. Porque perguntar seria pedir uma resposta. E eu… eu não estou pronta para ela. O sangue no travesseiro me acorda mais do que qualquer pesadelo. Sangramentos repentinos, do nada. Começaram pequenos. Agora, são constantes. Persistentes. Como se meu corpo estivesse tentando me alertar. Como se estivesse… traindo. Mas não contei a ninguém. Porque, se eu contar, eles vão me olhar diferente. Vão me ver como fraca. E fraqueza, aqui, é uma sentença. Na nossa família, quem sangra em público perde o direito à força. Você engole a dor, sorri com os olhos opacos e segue em frente. Mesmo que por dentro esteja desmoronando. Hoje é dia de festa. Mais uma noite da máfia, onde as mulheres são exibidas como troféus e os homens brindam com sangue nos olhos. Nessas noites, a carne vale mais do que a alma. E as filhas, como eu, viram moedas de troca com perfume e salto alto. Me olhei no espelho por longos minutos. Cada vestido no guarda-roupa parecia um inimigo. Os decotes, as mangas curtas, os brilhos — tudo parecia gritar: “Olhe para mim.” Mas eu só queria me esconder. Escolhi um vestido preto, de mangas compridas. Leve o suficiente para não causar suspeita, mas fechado o bastante para esconder as marcas. Não era elegante. Não era provocante. Mas era uma armadura. Prendi o cabelo num coque baixo. Nada chamativo. A maquiagem foi sutil, quase ausente — só o suficiente para esconder as olheiras que se aprofundavam dia após dia. E mesmo assim, o espelho me devolveu um reflexo que mal reconheci. Vazia. Como se, por dentro, eu estivesse desbotando. Pensei em não ir. Em fingir dor de cabeça, febre, qualquer coisa. Mas essa decisão nunca foi minha. Meu pai exige minha presença. Diz que preciso “ser vista”. Como se eu fosse uma joia. Um bem. Uma peça que ele mostra com orgulho antes de entregá-la em alguma negociação silenciosa. Respirei fundo. Ajustei as mangas até esconder os pulsos. E abri a porta. As luzes do salão me agrediram assim que desci as escadas. Risos falsos, brindes barulhentos, olhares afiados. Era tudo tão milimetricamente ensaiado que doía. A orquestra tocava ao fundo, mas o som parecia distante, abafado por minha própria ansiedade. No último degrau, todos os olhares se voltaram para mim. Não porque eu quisesse — mas porque é assim que funciona. Na máfia, até o tecido do seu vestido é uma declaração. Caminhei até meus irmãos. Matteo, o mais velho, me observou por um segundo. Seus olhos me examinaram com precisão cirúrgica. Meu vestido cumpriu seu papel. Nenhuma marca visível. Ele assentiu, quase sorrindo. — Você demorou. — disse ele, entre um gole de uísque. — Eu não sabia o que vestir. — respondi, tentando parecer casual. — Está linda, como sempre. — disse Pietro, o estrategista, varrendo o salão com os olhos como se cada canto escondesse uma ameaça. — Obrigada. — murmurei, engolindo o desconforto que queimava na garganta. Senti os olhares. Todos eles. Como facas invisíveis cortando minha pele. Alguns eram de desejo. Outros de cálculo. Nenhum deles me via como eu realmente era. Naquele salão dourado, rodeado de riso falso e champanhe caro, eu era só mais um rosto bonito. Um nome pesado. Mas dentro de mim, algo gritava. Algo que implorava por fuga, por ar. Algo que dizia que minha vida estava prestes a mudar — e não por causa de alianças ou casamentos forjados por homens com mãos manchadas de sangue. Era algo mais sombrio. Algo que já crescia dentro de mim. Um segredo que meu corpo tentava revelar — e eu não queria ouvir. Enquanto os sons da festa cresciam ao meu redor, senti uma vertigem sutil, como se o chão tivesse oscilado por um segundo. Me agarrei ao balcão discretamente, fingindo que olhava para o copo de água com gás que Matteo havia pedido para mim. Estava gelado. Gélido como os arrepios que percorriam minhas costas. Minha visão ficou embaçada por um instante. Pisquei, tentando clarear os olhos, mas os rostos se tornaram vultos, vozes ecoando como se estivessem longe. Meu coração acelerou. A respiração falhou. Não podia desmaiar ali. Não ali. Não naquela festa. Me forcei a sorrir, a manter a postura. A mentira. Porque, naquele mundo, a aparência era tudo. E a minha verdade — a verdade é que eu ainda não tinha coragem de nomear — era fraca demais para sobreviver à luz daquele salão. Então, ergui o queixo e continuei fingindo. Mas, por dentro, comecei a entender: algo dentro de mim estava morrendo. E ninguém parecia notar. E talvez essa… fosse a parte mais dolorosa de todas.Narrado por Lisa DelucaPela primeira vez em décadas — ou pelo menos era assim que meu corpo sentia o tempo — eu queria queimar. E queria queimar ao lado de Alejandro Serrano.Não importava se minha mente ainda resistia em admitir. Meu corpo já sabia. Meu coração também. Eu sentia nos ossos, nos silêncios entre uma respiração e outra, que meu tempo estava se esgotando. E, sinceramente, eu não sabia se teria outra chance. Uma nova chance de ser livre. De ser só Lisa — sem sobrenome, sem regras, sem promessas herdadas.Naquela noite, não havia espaço para arrependimentos. Naquela noite… eu queria ser dele. De corpo e alma. Mesmo que o mundo tivesse que arder ao redor para isso acontecer. Mesmo que minha família me renegasse. Mesmo que eu tivesse que lidar com as consequências pelo resto da vida — se restasse alguma vida depois.Hoje… hoje eu seria de Alejandro.Saímos da água em silêncio. O frio da madrugada cortava a pele, mas o corpo dele me envolveu antes que eu pudesse estremecer. N
Narrado por Lisa DelucaA noite era escura demais para prometer qualquer salvação. O céu, sem lua, parecia um véu de luto sobre nós. O mar à minha frente era uma extensão de sombras — um espelho partido, refletindo fragmentos distorcidos de algo que já foi belo. As ondas quebravam com violência contida, cúmplices do que estava por acontecer. Eu sentia o frio da areia sob meus pés, mas não me movia. Estava cravada ali, nua das minhas defesas, à espera.Ouvi os passos dele. Lentos, determinados. Não me virei. Queria que Alejandro me visse primeiro por completo — como eu era de verdade. Despida da herança que carregava, da filha que meu pai queria que eu fosse, da mulher controlada que me ensinaram a interpretar.Deixei o vestido cair com um gesto simples, quase ritual. O tecido escorregou pelos meus ombros e caiu como um silêncio sobre a areia. Meu corpo, exposto, não era um convite — era um grito. Um pedido para que ele me enxergasse além do nome, da carne, da juventude que me marcava
Narrado por Alejandro SerranoEu a observava com atenção, sentindo a tensão no ar ganhar densidade. Era quase palpável, como eletricidade antes de uma tempestade. Lisa tinha esse efeito — chegava de mansinho e depois tomava tudo. Era imprevisível, feita de arestas afiadas e silêncios carregados de sentido. Uma força que me atraía como um abismo: belo e perigoso em igual medida.— Você parece tão tranquila para alguém que está prestes a sair dessa balada com um estranho para um lugar desconhecido — comentei, a voz baixa, rouca, audível apenas para ela. Não era apenas provocação. Havia algo mais profundo ali — um reconhecimento silencioso. Lisa não pertencia a lugares seguros. E eu… nunca fui sinônimo de paz.Ela me olhou com aquele meio sorriso que não chegava aos olhos. Olhos que escondiam demais. Histórias que talvez eu jamais escutasse. E mesmo assim… eu queria escutá-las. Todas.— E você, Alejandro? Também se sente tranquilo? — devolveu, a voz cortante e suave, como se brincasse co
Narrado por Alejandro SerranoPor um instante, deixei que o silêncio falasse por mim. Havia algo no modo como ela dizia essas coisas — como se não estivesse apenas confessando um pensamento, mas aceitando um destino inevitável. Lisa não era feita de aço, por mais que fingisse. Era feita de carne, de sonhos feridos, e de uma dor que eu reconhecia, porque também morava em mim. Um vazio silencioso, que se escondia atrás da raiva e da máscara de controle.Aproximei-me devagar, levando a mão até seu queixo, forçando-a a levantar o olhar para mim. Seus olhos brilhavam, mas não de lágrimas. Era algo mais cruel: a aceitação da própria ruína. Uma parte dela já sabia que não havia volta. Que não haveria salvação, não ali. Não entre nós.— Eu sou mais do que sombras, Lisa — murmurei, com a voz rouca, carregada de algo que eu ainda não sabia nomear. — E você… você nasceu pra viver entre elas.Ela não recuou. Não piscou. Apenas me encarou com aquela intensidade quase insuportável, como se cada pal
Narrado por Alejandro SerranoA tensão no ar era densa, cortante como uma lâmina prestes a tocar a pele. Eu podia sentir o corpo dela se enrijecer, os ombros tensos, o pescoço ligeiramente arqueado como o de uma presa em alerta. Lisa não precisava se virar. Ela sabia que era eu. Não era apenas o perfume — madeira escura, tabaco e especiarias — ou o calor da minha presença atrás dela. Era outra coisa. Algo antigo, invisível, que desafiava lógica e tempo.— Procurando por alguém, mi amor? — minha voz foi um sussurro grave, arrastado, quase como uma promessa pronunciada entre sombras. Não era apenas provocação. Era um lembrete. Eu estava ali, e ela também. E talvez isso bastasse para o mundo parar por um instante.Ela não respondeu de imediato. Ficou imóvel, como se lutasse contra a vontade de ceder àquele momento. No reflexo do espelho diante de nós, seus olhos brilharam com algo indecifrável: surpresa, sim, mas também um tipo de dor. Um medo disfarçado de desejo.— Por que você está aq
Narrado por Lisa DelucaFui recebida pelos outros alunos como mais uma entre eles — mais um rosto curioso, sedento por aventuras, experiências, liberdade. Todos estavam tomados pelo entusiasmo juvenil de explorar Barcelona, como se a cidade prometesse não apenas paisagens, mas também transformações. Sorrisos, planos, fotos, piadas.E, mesmo em meio a tudo isso, havia algo que me puxava para longe. Uma sombra silenciosa. Um nome.Alejandro.Ele estava em meus pensamentos com uma frequência assustadora, como se tivesse se infiltrado em cada espaço da minha mente, em cada pausa do meu silêncio. Eu o vira apenas uma vez, trocamos apenas olhares — e, ainda assim, sua presença parecia maior que tudo o que eu carregava dentro de mim. Era absurdo. Mas era real.Durante os primeiros dias em Barcelona, deixei que o corpo seguisse o fluxo. Caminhei por mercados coloridos, fotografei fachadas antigas, comi tapas em pequenos restaurantes escondidos, me perdi nas ruas estreitas do Bairro Gótico. So
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