Capítulo 9

“Na máfia, inocência não vale nada, mas virgindade tem um preço.”

Matteo

Cheguei no galpão pouco antes do sol nascer.

Era uma manhã fria na Calábria. O tipo de frio que não se sente na pele, mas nos ossos. O tipo que combina com o que acontece aqui dentro.

O portão de aço se abriu devagar. Doze caminhonetes. Trinta e sete meninas. A maioria vinda do leste europeu, algumas da África e duas do Brasil. Algumas pareciam menores de idade, mesmo com os documentos falsos que nossos parceiros moldam com perfeição. Outras tremiam tanto que mal conseguiam caminhar sozinhas.

— Façam a triagem. — ordenei. — Identidade falsa, exames, idade e condições físicas. Sem marca de facada, sem DST, sem cicatriz visível. Se alguma estiver quebrada, j**a pros russos.

Ninguém respondeu. Todos sabiam que aqui, silêncio era respeito.

Caminhei entre as filas como se estivesse observando mercadoria. E era isso mesmo. Mercadoria. E lucro.

Algumas choravam. Outras estavam dopadas. As mais espertas abaixavam a cabeça. As mais burras imploravam por misericórdia. Eu aprendi cedo que piedade é um luxo que homem de poder não pode se dar.

Parei em frente a uma loira de olhos arregalados.

— Quantos anos?

— Dezessete. — respondeu em inglês.

Observei os documentos. Moldura nova, data de nascimento adulterada. No papel, tinha vinte e dois. Ótimo.

— Virgem? — perguntei para um dos soldados.

Ele confirmou com um aceno. Eu sorri.

— Separem as virgens. — disse alto. — As mais novas. Levem para o leilão. Valor inicial, cem mil euros. Nada de toque. Nada de contato até pagarem. Elas são o ouro do mercado.

Alguns homens sorriram com malícia. Outros anotavam com pressa. Eu sabia que aquilo era repugnante aos olhos do mundo, mas esse mundo nunca nos impediu de existir. Porque enquanto houver cliente, haverá oferta.

— O restante, dividam entre os bordéis de Palermo, Nápoles, Milão e Genebra. Dez para cada. — continuei. — As que tiverem alguma tatuagem de gangue, mandem para o porão da Letônia.

— E as grávidas? — perguntou um dos meus.

— Aborto imediato. — respondi, seco. — Se o feto for menino, colham o sangue e levem pro laboratório. Se for menina, incinera.

A moralidade morre onde a máfia lucra.

Meu telefone tocou. Giovanni.

— Matteo. — sua voz era seca. — Precisamos conversar. Temos uma situação com o carregamento do porto.

— Resolva. — cortei. — Hoje estou ocupado com carne nova. Não se esqueça do leilão.

Desliguei. Caminhei até o último grupo. Uma delas me encarou. Ousada. Rosto bonito. Talvez brasileira.

— Nome?

— Vai pro inferno. — cuspiu no meu rosto.

Dois soldados a seguraram na mesma hora. Ela esperneou, chutou, gritou. Eu ri.

— Que saudade de quando as mulheres tinham medo. — murmurei.

Cheguei perto dela, peguei o queixo com força e sussurrei:

— Você vai desejar ter nascido muda, garota.

Me afastei. Dei meia volta e subi as escadas de ferro que davam para a sala de comando.

De lá de cima, via tudo. As meninas sendo levadas, as vans sendo carregadas, os documentos sendo carimbados.

Era uma fábrica de terror.

E eu era o engenheiro-chefe.

Mas ali, ninguém chorava por culpa.

Choravam por dinheiro.

E esse mundo, meu mundo…

Não foi feito para inocentes.

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