Ele matou o irmão dela. Ela se tornou sua esposa. Depois da execução pública do primogênito da família De Santis, Serena jurou que jamais perdoaria o nome Morelli. Mas quando seu pai aceita um acordo para selar a paz entre os clãs rivais, ela se vê obrigada a se casar com o homem que mais odeia — Dante Morelli, o Don mais temido da máfia italiana. Frio. Implacável. Obcecado pelo controle. O que começou como uma aliança forçada se transforma em uma guerra silenciosa dentro da mesma mansão. Entre jantares recheados de ameaças, toques proibidos e noites que queimam mais do que deveriam, os dois descobrem que a vingança tem muitas formas — e algumas delas são tão doces quanto letais. Mas a máfia não perdoa fraquezas. E se apaixonar... pode ser fatal.
Ler maisAs portas da igreja se abriram como se o próprio inferno tivesse escancarado sua entrada.
E lá estava ele.Alto. Imóvel. Esculpido em mármore negro e pecado.
Dante Morelli.
O homem que matou meu irmão.
O homem com quem eu estava prestes a me casar.
Segurei o buquê com tanta força que meus dedos formigaram. Cada passo em direção à ele era um tapa em tudo o que eu acreditava. Um golpe na memória de Luca.
Mas não havia saída. Não quando meu pai preferiu a paz entre famílias à justiça por sangue.
Caminhei até o altar sob os olhares de duas famílias que se odiavam, disfarçando suas armas sob ternos bem cortados. Ali não havia amor. Só estratégia.
E no centro disso tudo, Dante — o Don dos Morelli — me encarava com um olhar tão frio quanto as pedras da Catedral de Palermo.
Quando cheguei à sua frente, ele não estendeu a mão.
Apenas ergueu o queixo, como quem avalia uma mercadoria.
E eu? Sorri. Doce como veneno.
— Achei que o carrasco vestiria preto — murmurei entre os dentes.
— E eu achei que a noiva viria de luto — ele respondeu, sem tirar os olhos dos meus.
A cerimônia foi rápida. Fria.
Promessas vazias ditas entre dentes. Uma aliança deslizada sem emoção.
Quando o padre disse “pode beijar a noiva”, Dante se inclinou.
Meu corpo enrijeceu.
— Não ouse — sibilei.
Ele parou a centímetros dos meus lábios.
— Não se preocupe. Esse beijo não é seu.
Ele virou o rosto e depositou um beijo no canto da minha boca. Um gesto simbólico. Frio. E cruel.
A guerra silenciosa havia começado.
A mansão Morelli era um túmulo de luxo.
Do lado de fora, câmeras escondidas e homens armados.
Do lado de dentro, silêncio. Mármore. E a sensação de que qualquer palavra errada poderia ser sua última.
— Seu quarto é no final do corredor. À direita. — A voz dele soou baixa, sem emoção, enquanto tirava o relógio e largava sobre a mesa de cristal.
— Separados? Que cavalheiro — comentei, girando o anel no dedo.
Dante me encarou.
— O casamento é real no papel. Só.
— Então posso receber visitas? — sorri, cínica.
Ele caminhou até mim, devagar. Cada passo era uma ameaça muda.
Quando parou a poucos centímetros, o ar pareceu rarefeito.
— A última pessoa que tentou me provocar está enterrada sob o vinhedo de Roma — disse, a voz baixa como uma sentença.
Não desviei o olhar.
Ele queria medo. Eu oferecia desprezo.
— Ótimo. Espero que o vinho de vocês seja adubado com arrependimentos.
Ele soltou um leve sorriso. O primeiro da noite. Mas não havia humor nele.
— Boa noite, esposa.
E desapareceu corredor adentro.
As primeiras noites foram marcadas por silêncio e passos distantes.
Eu o via apenas nas reuniões da família, quando seu olhar era letal e sua voz, lei.
Dante Morelli era uma sombra com terno caro.
Mas às vezes — quando achava que ninguém via — eu o pegava me observando.
Como se não entendesse como eu ainda respirava perto dele.
Na quinta noite, fui convocada ao salão.
Uma ceia de paz entre Morellis e De Santis.
Uma ilusão de harmonia encenada entre vinhos caros e pratos de porcelana.
— E como está se adaptando à vida de Morelli? — perguntou Lorenzo, primo de Dante, com um sorriso entalhado na cara.
— Maravilhosamente. Já aprendi até onde escondem os corpos.
Risadas desconfortáveis. Taças erguidas.
Dante não riu.
Mas ergueu a taça em minha direção.
— Pela esposa mais afiada da Sicília.
Que continue cortando… até encontrar a lâmina certa.
Naquela noite, bati à porta do escritório.
Não sei por quê. Talvez por raiva. Ou pelo incômodo constante de que algo em mim queimava, e ele era a faísca.
— O que foi agora? — ele perguntou sem levantar os olhos do laptop.
— Queria saber… por que eu?
Das dezenas de filhas de mafiosos, por que escolher logo a irmã do homem que você mandou matar?
Ele fechou o notebook. Levantou-se devagar.
— Porque nenhuma delas teria coragem de me perguntar isso.
Me aproximei.
— E acha isso admirável?
Ele parou diante de mim. Tão perto que meu perfume se misturou ao dele.
— Acho... perigoso.
— Vai me matar também?
— Não — sussurrou. — Matar você seria fácil demais.
A tensão era insuportável.
O ar parecia vibrar entre nós.
E por um segundo, juro por Deus, vi hesitação nos olhos dele.
Mas Dante Morelli não hesitava.
Ele se afastou, pegou um cigarro no bolso, acendeu com um isqueiro dourado.
— O que fazemos, Serena… não é amor.
É sobrevivência.
— E você? Sobrevive ou se esconde?
Ele me olhou como se quisesse despir meus ossos com os olhos.
Depois tragou devagar.
— Boa noite, Signora Morelli.
E foi ali que percebi:
Talvez eu tivesse entrado nessa guerra achando que era forte o suficiente para enfrentá-lo.
Mas ninguém sai ileso de mil beijos de vingança.
Principalmente… quando começa a desejar o próximo.
A notícia correu o mundo: Leonel Barros preso.Não por vingança.Mas por sobrevivência.Por todas aquelas que ele tentou calar.E que agora falavam — em todas as línguas, em todos os cantos.A ALVA passou a ser investigada, sim.Lucia foi chamada a depoimentos, audiências, entrevistas.Mas, dessa vez, ela não se escondeu.Sofia estava sempre ao lado dela.De mãos dadas, como se isso bastasse para lembrar ao mundo que elas venceram.—Dias depois da operação em Palermo, Lucia caminhava pela FONTE.Era tarde. O lugar, silencioso.Meninas dormiam em seus quartos.Livros fechados.Luzes baixas.Mas o coração dela…Esse estava em erupção.Ela subiu até a varanda do último andar.E ali, com o vento da madrugada batendo no rosto, encontrou Sofia.— Sabia que você viria — disse ela, sem olhar.Lucia se aproximou.— Não consegui dormir.— Eu também não.A gente passa tanto tempo fugindo da dor…E, de repente, ela se cala.E a gente se pergunta: e agora?—Elas ficaram em silêncio por um moment
De volta à FONTE, a tensão era visível no ar.O pendrive de Leonel estava sobre a mesa.Fechado.Selado com um símbolo que só poderia ser dele:a letra L, gravada como uma cicatriz digital.Lucia hesitou por longos segundos antes de inserir o dispositivo.— Estão prontas? — ela perguntou.Adriana assentiu.Serena se posicionou perto da rede segura.E Sofia… sentou ao lado da irmã de coração, mãos entrelaçadas, coração disparado.—A tela acendeu.Um único arquivo de vídeo.Nome: "VERITÀ_17."Lucia clicou.A gravação começou.—Leonel aparece na tela.Mais jovem.Gravando num quarto com paredes de metal e som abafado.“Se você está vendo isso… então eu já fui longe demais.Talvez esteja morto.Talvez esteja rindo da sua cara.”Ele sorri de lado.“Mas há uma verdade que ninguém contou.E ela começa muito antes de Sofia.Começa com Lucia.”Corta para imagens antigas.Arquivos digitalizados.Documentos com marcas de censura.Fichas com selos da ALVA de 2008.Voz de Leonel continua:“Lucia
O vídeo de Lucia foi replicado em todas as plataformas.Em menos de 24 horas, o número de visualizações passava dos 8 milhões.A imprensa chamava de “o manifesto do silêncio quebrado”.A ONU elogiou a transparência.Entidades de defesa aos direitos humanos compartilharam trechos com a hashtag:#SomosTodasSofia—Lucia não aparecia em público desde a transmissão.Ficava nos bastidores, coordenando ações internas, acolhendo Sofia, respondendo às centenas de e-mails que chegavam com histórias, denúncias e palavras de apoio.Mas havia algo que ninguém sabia:Leonel ainda estava solto.E isso deixava o ar denso.Serena disse:— Ele não vai desaparecer no silêncio.Vai querer terminar o jogo com estrondo.Adriana completou:— E nós precisamos estar um passo à frente.—Naquela manhã, Lucia recebeu uma carta.Simples, sem remetente, mas com caligrafia conhecida.“O mundo acredita em você.Mas Sofia ainda não sabe de tudo.Nem você.Quer mesmo que ela descubra por terceiros?”— L.Lucia senti
Sofia dormia no banco de trás.Lucia a observava pelo retrovisor.O rosto sereno, como se todos os anos de dor estivessem, finalmente, adormecidos.Serena e Asha esperavam do lado de fora da FONTE, em silêncio.Quando Lucia saiu do carro, ambas correram em sua direção.— Ela está bem? — perguntou Serena, baixinho.— Está.Machucada, mas viva.Como todas nós.Elas se abraçaram em silêncio.Quando Sofia desceu do carro, o mundo pareceu segurar o fôlego.As meninas mais novas a olharam com curiosidade.Algumas lembravam dela. Outras, apenas haviam ouvido falar.Mas ali, no portão da FONTE, a história se reconectava.—Lucia levou Sofia para o andar superior, o mesmo onde ficavam os dormitórios mais seguros.Aquele espaço era novo. Reconstruído.Com janelas grandes, prateleiras de livros, luz natural.Sofia andava devagar, como se cada passo fosse um teste de confiança.— Aqui é seguro? — ela perguntou, baixinho.— Agora é — Lucia respondeu.— E vai continuar sendo.Porque você voltou.—
Lucia passou a noite em claro.Não por medo.Mas por raiva.Raiva do silêncio.Raiva da manipulação.Raiva de si mesma, por ter deixado Sofia ir embora.E por não ter notado que Leonel estava por perto… o tempo todo.—A manhã chegou com o céu cinza, quase metálico.Serena bateu à porta, segurando um tablet.— Recebemos um vídeo. Codificado.Com o mesmo selo de antes.O L.Lucia pegou o dispositivo, ativou a tela e viu.Era uma gravação.Imagem instável.Som abafado.Mas ao fundo, inconfundível: a voz de Sofia.“Eles dizem que ela me esqueceu.Mas eu lembro.Eu lembro da canção.E do cheiro do verão.E do dia que ela me prometeu voltar.”Lucia cobriu a boca com a mão.Serena congelou.“Agora eu sou forte.Aprendi sozinha.E vou mostrar pra ela que também posso proteger.”O vídeo cortou.Tela preta.E em letras vermelhas:72 HORAS.—— É um sequestro? — Serena perguntou.— Não — Lucia respondeu, em tom firme. —É uma lição.Leonel está ensinando pra ela que fomos nós que a abandonamos.
A manhã amanheceu chuvosa em Madrid.Mas dentro da FONTE, o clima era ainda mais sombrio.A última revelação da Operação Phoenix tinha deixado marcas internas:Heinrich Baumann — um dos doadores originais da ALVA — havia sido exposto como financiador indireto de redes de exploração na Europa Oriental.Lucia convocou uma reunião urgente.— Não basta denunciar os de fora — ela disse. — Temos que limpar os nossos alicerces também. Se não formos íntegros, somos só mais um grupo gritando na neblina.Asha assentiu.— Vamos cortar laços imediatamente.Congelar contas.Devolver valores.Publicar nota de rompimento.Adriana adicionou:— E iniciar auditoria. Total.Inclusive nos outros doadores.Lucia olhou ao redor.Todos assentiram.Era isso.Sem medo.—Mas não era só o sistema que Lucia precisava encarar.Naquela tarde, ela recebeu uma ligação.Número confidencial.Voz masculina, abafada:— Temos algo seu.Algo do passado.Você vai querer ver com seus próprios olhos.Antes que ela pudesse r
Último capítulo