Capítulo 8

“A dor de uma mãe que respira escondida é mais cruel que qualquer sentença da máfia.”

Angeline

Fazia frio. Não aquele frio cortante, mas o tipo que arrepia porque carrega lembranças.

Eu fechei meus olhos por um segundo e me lembrei do rosto do meu filho, do seu cheiro... Senti lágrimas caírem dos meus olhos, uma dor angustiante no peito, eu sentia falta dos momentos que não tive.

Despertei quando senti jogarem algo em mim.

— Veste isso!

Eu queria gritar com esse desgraçado, mas só fiquei pateticamente encolhida no canto.

— Não ouviu, sua puta?

— Spero che tu muoia, dannazione...

— O que você disse?

Fiquei em silêncio e encarei o seu rosto velho.

— Te fiz uma pergunta, vadia! — me deu um tapa. O gosto metálico na boca me trouxe uma terrível lembrança. Matteo.

Eu queria dizer que essa situação não é humilhante, mas era.

Mas quando eu pensei em jogar umas boas verdades na cara desse nojento, uma mão me parou.

— Ela vai vestir.

Olhei para a mulher do meu lado, talvez tivesse minha idade, mas era difícil decifrar realmente.

O homem se virou para sair, mas não antes de me dar um terrível e mortal olhar.

— Veste logo isso, para de ser teimosa, é melhor para você. — me entregou o vestido que estava no chão.

— Eu não sou uma prostituta...

O vestido minúsculo mal fazia diferença em sua mão.

— Presta atenção, aqui ninguém é. Mas se eles pedem para você rebolar até o chão e engolir a porra de alguém, você faz calada se quiser viver. Você tem sorte que vai participar do leilão, não vai precisar se deitar com algum cara nojento, cairá nas mãos de alguém com dinheiro.

— Eu já disse que não sou puta! — gritei alterada.

Meu grito foi um erro que paguei caro. O capanga surgiu do nada, com outro tapa seco que explodiu minha bochecha. A dor foi surda, mas o impacto me tirou o equilíbrio. Caí no chão, o sangue já misturado à saliva amarga.

— Cala a boca, sua insolente! — ele rosnou, puxando meu cabelo com força para me levantar.

Eu queria cuspir no rosto dele, queria arrancar aquela expressão nojenta, mas sabia que era inútil. Aqui, o medo era o que mantinha tudo de pé, e eu não podia dar a eles esse poder.

Me empurraram para frente, me guiando por um corredor frio e sujo até uma porta pesada de metal. Por trás dela, a luz branca, cegante. O cheiro era diferente, uma mistura de limpeza forçada com o perfume barato do luxo.

Entrei na sala principal do leilão. As garotas estavam em fila, cada uma vestida com roupas curtas, apertadas, com maquiagem carregada para esconder o cansaço e o medo.

Vestiram o maldito vestido em mim, o tecido frio colando na pele, um grilhão invisível. Não tive escolha, não tive tempo.

Olhei ao redor. As outras estavam tão presas quanto eu, mas havia algo nos olhos delas, uma mistura de rendição e revolta.

Então percebi o truque.

Na frente da sala, uma parede de vidro espelhado. Do meu lado, ela era apenas uma superfície fria, refletindo as luzes fortes e os rostos cansados. Do outro lado, no escuro, estavam eles: os compradores. Homens e mulheres com olhares ávidos, julgando, escolhendo.

Eles podiam nos ver. Nós não podíamos vê-los.

Era uma vitrine da humilhação, um palco onde éramos objetos, números, meras mercadorias.

Eles falavam, faziam apostas baixas, gesticulavam para alguém chamar a próxima.

Eu queria gritar, chorar, fugir, mas estava presa. Invisível para eles, visível demais para quem me vendia.

Mas dentro de mim, uma faísca começou a crescer. Não era medo. Era raiva. Uma raiva que eu sabia que podia me salvar.

Eu não seria só mais uma vendida. Eu iria lutar. Nem que fosse com as unhas, com os dentes, com o que restava de mim.

Porque eu ainda respirava. E enquanto respirasse, havia esperança.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP