Paloma só queria justiça. Foi até o poderoso CEO César Monteiro exigir que ele indenizasse sua tia pelo trabalho não pago de seu primo falecido. Mas em vez de encontrar um homem justo, deparou-se com um magnata arrogante, que a tratou como uma oportunista atrás de dinheiro. O problema? César também era perigosamente sedutor. E, enquanto ela lutava por respeito, ele usava cada olhar, cada palavra e cada toque para levá-la para sua cama. Paloma jurou manter o foco… Mas será que conseguiria resistir ao homem que transformava raiva em desejo?
Ler maisO sol da manhã já ia dourando as ruas de João Pessoa como quem espalha manteiga em pão quente, quando Paloma Franco cruzou a porta da casa da tia Aparecida com um suspiro cheio de coragem...ou quase. A mochila nova, um capricho que ela mesma se deu de presente para essa viagem ao Nordeste, pesava no ombro, não tanto pelas tralhas lá dentro, mas pelo peso da missão que carregava.
Levava com ela as provas de que a tia, aquela mulher de riso fácil e histórias infinitas, ainda tinha direitos a cobrar na cidade de Cabaceiras. Era dificil não olhar para a figiura fragil da tia e não se solidarizar com ela: O corpo estava mais curvado do que nunca, se recuperando de um AVC... — Boa sorte, menina! Só Deus pra agradecer o que cê tá fazendo por mim.— A senhora sabe que não ia te abandonar. E acredito que a justiça existe, e será feita pela senhora. Tenha fé em mim, vai dar tudo certo.
— Não quero que se aveche por minha causa, visse? Já tô velha, não quero que...
— Não se preocupe. E enquanto organizo as coisas, posso passear também. — Apertei carinhosamente a mão calejada da minha tia.
— Arranjar um namorado, né minha fia? Tá na hora já...moça bonita assim e sempre sozinha.
Apenas sorriu. A vida inteira ouviu as pessoas ao redor estranhar sua solteirice. Eu apenas era cautelosa e não via nada de mal nisso. Talvez um dia se me apaixonasse...ou não. Talvez eu apenas adotasse um cachorro e começasse a fazer yoga...
— Vou nessa, tia.
— Vai com Deus. — Tia Cida falou com aquele sotaque gostoso que ela possuia. Acenando da varanda, os olhos marejados. — Você tá alembrada de onde tá o “corta gasolina do celta”, né, minha fia?
— Sim, tia. Prometo trazer o carro inteirinho. Paloma entrou no Celta prateado com a valentia de quem não faz ideia do que vai enfrentar, mas vai mesmo assim. Sabia lá Deus quantos dias aquela empreitada ia durar, mas diante da confusão toda envolvendo os direitos da sua tia, era ela quem tinha sobrado pra resolver o rolo. Ela tinha disposição para brigar, mesmo que misturada com um pouquinho de nervosismo. Ela sorriu sozinha, dando uma afagada na capa do livro que repousava no banco do carona: O Morro dos Ventos Uivantes, edição antiga, páginas marcadas com florzinha seca. Era mania sua andar com livros como quem leva um tesouro. Lisa Kleypas, Jane Austen, Clarice Lispector... tudo misturado. Queria que aquelas heroínas de papel lhe emprestassem um tiquinho de coragem. No fundo, ela também era meio assim: sonhadora, cabeça dura e com aquela fé bonita de que no fim das estradas, ou das páginas, sempre há justiça. Ou pelo menos um final que valha a pena. O motor do carro deu uma roncada meio preguiçosa, quase dizendo: “Tu vai me meter nessa, é?” Paloma ajeitou o espelhinho onde balançava um pingente de coração e respirou fundo. Quase três horas depois, debaixo de um sol que parecia querer fritar ovo no asfalto, ela já sentia o suor escorrendo até nos pensamentos. Já tinha encarado viagens maiores, mas aquela tava puxada. O calor não perdoava e judiava mesmo. Mas Paloma seguia firme, na fé e no volante, como toda heroína de romance que se preze. O pequeno Celta estremeceu como se tivesse tomado um susto, assim que mais um caminhão gigantesco surgiu na rodovia PB-148, aquela serpente de asfalto que ligava João Pessoa a Cabaceiras, fazendo uma ultrapassagem pela contramão como se estivesse numa corrida de Fórmula 1. Paloma se agarrou ao volante com tanta força que os dedos chegaram a embranquecer. Por um segundo, teve a aterradora sensação de que poderia ser arremessada pelos ares, direto para os braços nada acolhedores dos cactos espinhentos que desfilavam impassíveis na beira da estrada. Na lateral da carroceria do caminhão, conseguiu ler rapidamente, pintado com letras de forma: Indústrias Monteiro. E foi aí que a indignação tomou conta. Apertou os lábios, o coração ainda acelerado, e anotou mentalmente uma lista de verdades, recheada de indignação e boas intenções, que pretendia despejar pessoalmente no Sr. C. A. Monteiro assim que pusesse os olhos nele. Ainda não conhecia o tal do Sr. Monteiro, nunca tinha nem visto uma foto, mas já nutria por ele um desgosto automático, quase instintivo. Afinal, depois de tudo o que lera nas cartas deixadas por seu primo antes de falecer; as injustiças, as humilhações, os projetos engavetados e, principalmente, o tom de frustração de quem morre sentindo-se roubado... Paloma já sabia: aquela conversa não ia ser das mais cordiais. A estrada fez uma curva suave e começou a subir, revelando ao longe a silhueta de Cabaceiras, encravada no sertão da Paraíba. A cidade parecia pequena, quase que um fiapo de civilização perdido entre o chão rachado e o céu azul sem nuvem. Era cercada por uma imensidão de terra plana e, ao fundo, pelas sombras imponentes das montanhas que mais pareciam guardiãs do lugar. Na entrada da cidade, uma placa azul, já um pouco desbotada pelo sol inclemente, exibia com orgulho: Cabaceiras — Terra das Indústrias Monteiro Logo abaixo, uma frase em letras garrafais prometia: Emprego, progresso e prosperidade para o nosso povo. Paloma revirou os olhos. Prosperidade pra quem, meu Deus?, pensou, bufando. Mas não teve muito tempo pra filosofar pois um mapa à margem da estrada indicava o caminho até a tal companhia, embora não fosse exatamente necessário. Os prédios da fábrica eram tão grandes e cinzentos que pareciam ter brotado do chão, destoando de tudo à volta. Dava pra ver de longe que ali tinha dinheiro e também uma boa dose de arrogância empresarial. Paloma apertou os olhos, ajustou os ombros e seguiu em frente, com o motor do Celta já reclamando de calor e poeira. Mas ela nem se abalava. Tinha chegado até ali por um motivo justo, com o coração pesado de saudade e indignação, e com a firme certeza de que o tal Sr. Monteiro, gostasse ou não, ia ter que ouvi-la. Cabaceiras, apelidada de “Roliúde Nordestina”, atraía turistas com suas paisagens semiáridas. Paloma guiava o Celta da tia Cida por uma encosta quando atravessou uma ponte sobre o leito seco de um rio e percebeu como a cidade era nitidamente dividida em duas partes. De um lado, a área urbanizada: charmosa, bem cuidada, com casinhas coloridas, sem portões ou jardins. Do outro, um salto brusco para a zona rural, onde o asfalto cedia lugar à caatinga, lajedos, cactos e pedras espalhadas. Uma transição que a deixava intrigada. Aquela paisagem árida, crua, era o completo oposto da São Paulo onde cresceu. Olhou o relógio. Quase meio-dia. Durante a viagem, já ensaiara mil vezes o que diria. Estava preparada. Seria educada, mas firme. Agiria com tato, mas com a segurança de quem tem razão. Se mostraria aberta ao diálogo até certo ponto. E se isso não bastasse, bom… então acusaria o Sr. Monteiro de roubo sem rodeios e deixaria claro que a mãe de Charles moveria céus e terra; e o cartório inteiro de Cabaceiras, se preciso, para reaver o que era deles por direito. Estacionou no pátio amplo das Indústrias Monteiro, procurando uma vaga sob a sombra do prédio. Antes de descer, secou o suor com uma toalha e retocou a maquiagem. De perto, os edifícios pareciam ainda mais imponentes. Uma placa discreta apontava o caminho até o escritório: um galpão de dois andares, telhado vermelho e paredes de concreto queimado. Um jardim caprichado com mandacarus, coroas-de-frade e pedras brancas decorava a entrada. Tudo ali cheirava a ordem, limpeza e controle. Ao fundo, o canto rouco de uma gralha-cancã dava um charme inesperado ao cenário escaldante de Cabaceiras. Difícil acreditar que dias atrás, em São Paulo, Paloma ainda enfrentava o frio de casaco e cachecol. Abriu a porta de vidro. Uma jovem recepcionista de cabelos crespos se levantou para recebê-la com um sorriso profissional. — Bom dia. Em que posso ajudar, moça? — Bom dia. Me chamo Paloma Franco, sou prima do Charles. Tenho uma entrevista à uma com o Sr. Monteiro — respondeu, firme.Desceram do jipe com duas cestas de vime, o vento quente do litoral bagunçando os cabelos de Paloma. Assim que seus pés tocaram a areia fina e dourada, ela fez menção de correr, sentindo-se leve como há muito não se sentia.Mas César foi mais rápido.— Você está grávida. Nada de correr.Ela girou nos calcanhares, irritada, as sobrancelhas arqueadas.— Pelo amor de Deus, César! Não sou uma inválida.Ele sustentou o olhar dela, mas um sorriso brincou no canto da boca. Desde que ela lhe mostrara o teste positivo de gravidez, seis meses antes, César havia se transformado no retrato da superproteção. Às vezes, o cuidado exagerado era adorável. Outras, sufocante.Carregou sozinho as duas cestas e até a bolsa dela, que mal pesava um quilo. Abriu a cadeira de praia, ajeitou a toalha, verificou a sombra do guarda-sol. Paloma, no entanto, preferia a areia quente sob o corpo, o toque salgado do vento, a sensação de liberdade.Enquanto ele montava a mesinha dobrável com os lanches do piquenique,
Paloma arregalou os olhos quando César simplesmente tomou a mala de suas mãos, abriu o zíper e despejou todas as roupas sobre a cama.— Ficou louco?— Sim. Estou louco, Paloma. — largou a mala e apoiou as mãos na cintura, o peito arfando, tentando parecer no controle. — E você não vai embora.Ela bufou, incrédula.— Eu não estou entendendo nada, sabia? Por que não aproveita que eu estou te deixando livre?— Livre? — ele deu um passo à frente, a voz baixa, mas carregada de tensão. — Eu não sou livre desde o dia em que você entrou na minha sala, me encarou com esses olhos e ameaçou me processar. A partir dali, Paloma, eu fiquei preso em você.Ela o olhou, confusa, com o coração acelerado.— Você está mais louco do que eu imaginava. Não fala coisa com coisa. — deu um passo para trás, sentindo o ar rarefeito entre eles. — Daqui a pouco vai acabar dizendo que gosta de mim.Os olhos dele brilharam. Um sorriso lento, perigoso, surgiu em seus lábios.— Não percebeu, Paloma?— Percebi o quê?—
Nos dois dias seguintes, Cesar quase não saiu do hospital. Ficava ali, na mesma poltrona, lendo relatórios que trazia da empresa ou apenas observando-a dormir. Quando precisava ir resolver algo urgente, Bella vinha substituí-lo, e Paloma percebia o cuidado sincero da sogra.Mas ela não falava muito. Não era cansaço, nem o trauma. Era outra coisa; um silêncio que nascia de dentro, feito de percepções que se acomodavam com dolorosa clareza.No segundo dia, o médico apareceu pela manhã, confirmou que ela estava se recuperando bem e que poderia ter alta no dia seguinte. Bella sorriu, aliviada. César apenas assentiu.Quando o médico saiu, Paloma continuou deitada, olhando o teto.— Você vai voltar pra casa amanhã. — disse César, rompendo o silêncio.Não estava muito animada quando voltou para a propriedade dos Monteiro.Bella contou que a família dela fez contato para saber do estado dela assim que tia Cida espalhou para todos a perda do bebê. Preferiram ligar para sua sogra, pois tinham
— Ela acordou. — disse Bella, com um sorriso discreto. — Vou deixá-los um pouco. Procurar uma máquina de café.César apenas assentiu, agradecendo num gesto. Quando a sogra deixou o quarto, o som da porta se fechando soou alto demais, afundando os dois em um silêncio pesado.Ele ficou de pé por alguns segundos, sem saber por onde começar. O ar do hospital era frio, mas o peito de César parecia queimando.Aproximou-se da cama devagar, os passos lentos, o rosto abatido. Paloma o acompanhou com o olhar, sem emoção, apenas uma observação distante, como se olhasse um estranho que invadira seu quarto por engano.César puxou uma cadeira, arrastando-a pelo chão com um leve rangido, e sentou-se. Passou as mãos pelo rosto, tentando encontrar forças para falar.Paloma o observava em silêncio. Continuava tão bonito, uma beleza rebelde em sua camisa branca de gola em V e calças de alfaiataria.— Você quer água? — perguntou ele, por fim, a voz grave.— Não. — respondeu sem hesitar, sem olhar para el
A dor veio como uma lâmina atravessando-lhe o corpo.Paloma tentou se mover, mas o mundo girava. As vozes ao redor soavam distantes, fragmentadas, misturadas a passos apressados e gritos que pareciam ecoar dentro de sua cabeça.— Meu Deus, ela caiu! — alguém gritava.— Chamem ajuda! — outra voz, mais distante.Paloma tentou focar o olhar.Acima dela, o teto dourado do salão girava. Os sons se misturavam com o barulho das taças caindo, o farfalhar das roupas, o choro contido de alguém.Então uma sombra se inclinou sobre ela.Leliana.O rosto da mulher estava pálido, os olhos arregalados de susto.— Paloma! — disse, ajoelhando-se ao lado dela. — Meu Deus...A voz de Leliana tremia. Por um instante, Paloma acreditou ver um lampejo sincero de aflição. Tentou responder, mas o ar parecia preso no peito.Leliana segurou sua mão, mas antes que pudesse dizer algo mais, César apareceu.Empurrou Leliana com força para o lado, quase fazendo-a cair.— Saia de perto dela! — a voz dele soou áspera,
A música agora ecoava forte, o ritmo quente de um forró adaptado fazia os convidados baterem palmas e sorrirem, enquanto pares se aventuravam na pista improvisada. Paloma olhou para César, sentindo a coragem surgir dentro dela.— Vem, quero dançar. — disse, quase em súplica, mas com um brilho nos olhos.Ele a fitou por um instante, sério, como se fosse recusar. O coração dela se apertou. Então, para sua surpresa, César estendeu a mão, puxou-a pela cintura e a levou para o centro.— Vamos dançar, então.Ela riu, aliviada.Os passos dele eram firmes, simples, mas se ajustavam aos dela como se sempre tivessem dançado juntos. O vestido leve de Paloma rodava quando ele a girava, e ela sentiu uma onda de alegria pura. Esqueceu as palavras venenosas, os olhares atravessados, as inseguranças. Ali, só havia o calor da música e os braços dele em sua cintura.— Você dança bem — disse, sorrindo.— Não tanto quanto você. — Ele respondeu sem sorrir, mas o tom tinha algo de cúmplice.Rodaram pela pi
Último capítulo