César Monteiro apertou os olhos perigosamente.
— Não ficaria espalhando por aí acusações falsas, se fosse você.
— O senhor acha mesmo que eu ia sair lá de São Paulo se não tivesse confiança na história da minha tia? — Irritada, começou a abrir a grande bolsa marrom que carregava. — Sou uma pessoa séria e não de ficar inventando acusações falsas...
Possessa, Paloma arrancou da bolsa a carta amarrotada de Charles. Entregou-a para César Monteiro, sua respiração pesada como o deu um touro de rodeio. Aquele homem a havia tirado do sério, logo ela, que costumava se dar bem com todo mundo.
— Leia, por favor. Vai ver que tem fundamento tudo o que venho dizendo. — Só...ignora essa primeira parte ai, é pessoal...pra minha tia. — Se aproximou dele, apontando o dedo para um paragrafo mais abaixo. — Começa daqui.
Ela o viu ler com atenção o que estava escrito, e depois reler.
— Isso é tudo? — Dobrou a carta e devolveu. — Se veio só com esse papel de pão...
— E acha pouco? Ele deixou bem claro que fez uma grande descoberta, muito revolucionadora...que conseguiria vender por muito dinheiro e com isso melhoria a vida da mãe dele. E ainda fala que o senhor não ia botar a mão em tudo sozinho. Francamente, meu primo não escreveria isso à toa!
César Monteiro apenas a observava daquele jeito que parecia desvendar cada um dos seus pensamentos. Estava sério, inatingível e aquela postura de superioridade só enfurecia Paloma. Se ele visse o estado da mãe de Charles, o quanto era importante para a velha senhora reivindicar o que era direito do filho, talvez ele se comovesse um pouco..., mas não. Homens como ele não tinham compaixão, muito menos coração.
Então ele se levantou. Em seu rosto desfilava o sorriso mais cínico que ela já tinha visto na vida.
— Sabe, moça, quando recebi seu e-mail, fiquei imaginando que tipo de pilantragem você tentaria fazer. Fiquei tão curioso que aceitei recebê-la aqui, para saber até que ponto poderia chegar. — A voz do homem era carregada de desprezo.
Ele estendeu o braço, agarrando-a cruelmente pelo ombro.
— Não me toque se não...
— ...vai me processar... — riu, amargamente.
Seus dedos a apertaram com tanta força que ela teve de sufocar um gemido de dor. Os olhos dele ardiam como fogo.
— Acho que você é bastante amadora nesse tipo de coisa, moça. Não leva muito jeito para ser golpista. Da última vez que tentaram arrancar dinheiro das Indústrias Monteiros usaram muito mais recursos. Nem sabe dizer que invenção é, pois, com certeza nem sabe o que fazemos aqui. E se achou que eu ia ficar embasbacado por um rostinho bonito ao ponto de não pensar em todo o resto, subestimou a própria beleza...
— Ora essa...
— Sugiro que saia imediatamente, antes que as coisas piorem ainda mais. Não vai gostar se eu chamar o segurança.
Paloma prendeu a respiração.
— Me solta, está me machucando...
O apelo na voz dela ressoou por toda a sala. César Monteiro a soltou no mesmo instante, parecendo se dar conta da própria força. Era possível ver as marcas dos dedos dele em sua pele. Paloma esfregou a mão intuitivamente, para aliviar tanto a dor física quanto a moral, que ele a tinha infligido. Se sentia humilhada como nunca estivera na vida.
— Se eu fosse homem, eu esmurraria essa sua cara...
— Se você fosse homem, já teria te colocado para fora aos pontapés. Apenas saia, moça. E não volte.
— Um brutamontes...
— Aproveite sua estadia em Cabaceiras — ele falou, irônico. — Veio na época mais fresca do ano.
Com um breve aceno de cabeça, ele se retirou.
Paloma ficou parada, atônita e furiosa ao mesmo tempo. César Monteiro não apenas recusara qualquer tipo de ajuda financeira para tia Cida como ele também negara a existência da invenção de Charles. E, como se não bastasse, ainda a acusara de ser golpista!
Ou será que aquilo tudo não passava de um truque para assustá-la?
Paloma voltou a concentrar-se na carta de Charles. O primo tinha sido claro: César Monteiro não era um homem confiável.
Era exatamente o tipo que via no ataque a melhor forma de defesa.
Com um gesto brusco, enfiou a carta na bolsa e fechou-a com raiva. De nariz erguido, saiu da sala da presidência como um furacão, atravessando os corredores sem lançar um único olhar para os lados. Sentia os olhares curiosos a segui-la, mas não deixou que isso a abalasse.
Quando saiu do prédio, sentiu o choque do calor após estar confortável no ar-condicionado das Industrias Monteiro. Caminhou até o carro e lançou um último olhar para empresa.
E então o viu do alto de uma janela.
Alto, moreno e de postura impecável, César Monteiro, a observando.
Não conseguia distinguir sua expressão, mas tinha quase certeza de que ele estava sorrindo, todo satisfeito por ter se livrado dela tão facilmente.
Ah, o patife!
Mas ele ainda não venceu. Oh, não!, pensou Paloma, cerrando os punhos.
Sr. Monteiro, espere e verá!