Em um mundo onde o poder é a única moeda, Lorena se vê parte de um contrato que deveria selar seu destino: um casamento sem amor com Dante Navarro, o CEO de coração gelado, que não crê em sentimentos e a vê como mera estratégia. Mas quando o controle rígido de suas vidas começa a ruir, e o imponderável se infiltra em cada silêncio e em cada olhar roubado, uma inesperada chama começa a brilhar. Lorena, com sua fragilidade aparente e uma força inabalável por dentro, desafia a frieza que a cerca. Dante, acostumado a ter tudo sob controle, é confrontado por algo que nenhum contrato pode prever: o amor. Será que o coração desse CEO, blindado por anos de calculismo, estará pronto para sentir de verdade? E Lorena, terá a coragem de dançar com essa nova e perigosa melodia, lutando por um amor que nasceu onde menos se esperava, ou a ausência de calor inicial será um vácuo insuperável?
Leer másO Jogo Começa
O vestido não era branco. Era nude. Frio. Sem vida. Como o olhar dele. Lorena encarava o espelho antigo do salão como se ele fosse um portal para outra realidade — uma que ela jamais conheceria. A mulher refletida ali parecia uma estranha: os lábios tingidos em vermelho dramático, os olhos pesados de maquiagem escondiam lágrimas secas e verdades engolidas. A postura era ereta, treinada. Mas por dentro, ela desmoronava. “Isso não é um casamento. É um sacrifício.” — Está na hora — disse a governanta, com voz baixa, quase solidária. Quase. Lorena respirou fundo, como quem se prepara para afundar e não voltar à superfície. Cada passo em direção à porta era uma renúncia: aos próprios sonhos, ao amor ingênuo que um dia idealizou, ao modo de ser quem era. Tudo... por causa de uma dívida. Seu pai adotivo, dono de uma das maiores redes de construção civil do país, havia vendido o impensável para manter o império de pé — e com ele, parte da dignidade da filha. Quando as paredes da empresa começaram a ruir, a solução chegou como um presente envenenado: o casamento com o único homem capaz de salvá-los da ruína. Dante Navarro. CEO do Grupo Navarro. Um império erguido sobre contratos impenetráveis, decisões cirúrgicas e uma frieza quase lendária. Um homem que não sorria — exibia vitórias nos olhos. Que nunca amou — negociava promessas. E que agora, por razões que Lorena ainda não compreendia, a queria como esposa. De fachada. De contrato. De aparência. — Você só precisa sorrir — dissera sua madrasta horas antes. — Ele não espera mais do que isso. E, sinceramente, você não tem mais nada a oferecer. A frase atravessou Lorena como um punhal disfarçado de conselho. Entrar na sala de cerimônia foi como atravessar um campo minado. Seus olhos estavam fixos à frente, mesmo que tudo em seu corpo implorasse para fugir. Lá estava Dante. Parado. Intocável. Imponente em seu terno cinza-chumbo, como uma tempestade prestes a cair. Seus olhos encontraram os dela por um breve instante, e foi como encarar um abismo. Não havia emoção. Nem reconhecimento. Apenas análise. Ele não via uma mulher. Via um investimento. Os votos foram trocados sem emoção. Apenas o padre falava. Lorena apenas ouvia. O mundo inteiro parecia congelado, como se até o tempo se recusasse a testemunhar aquele acordo sombrio. Quando Dante deslizou o anel em seu dedo, Lorena sentiu a aliança pesar como chumbo. Não era um símbolo de amor. Era uma coleira dourada. A recepção foi rápida, discreta, planejada nos mínimos detalhes. Tudo muito elegante. Tudo muito calculado. E logo depois, ele se aproximou, voz baixa, firme, sem espaço para questionamentos: — Vamos sair pelos fundos. No carro, o silêncio era ensurdecedor. Dante digitava no celular como se estivesse sozinho. Os dedos ágeis, os olhos cravados na tela, ignorando completamente a mulher sentada ao seu lado. Lorena olhava pela janela como quem se despede do mundo. Da liberdade. De si mesma. Ela era agora parte de uma estratégia. Uma peça no tabuleiro dele. Nenhuma palavra foi dita durante o trajeto. O motorista seguia impassível. Tudo parecia coreografado, milimetricamente ensaiado. Quando o carro parou em frente a um edifício de fachada imponente, Lorena franziu o cenho. — Onde estamos? — murmurou. — Este é seu novo endereço — respondeu Dante, saindo do carro e abrindo a porta para ela. Ela hesitou. — Não vamos... para a lua de mel? Foi uma pergunta tola. Ela sabia. Mas a dor de ouvir a resposta era necessária, como quem cutuca um hematoma só para lembrar que está viva. Dante a encarou, sério, com aquele olhar gélido que parecia medir tudo. — Isso não faz parte do acordo. Tenho uma viagem de negócios amanhã cedo. Você ficará aqui com tudo o que precisa. Funcionários. Segurança. Cartões. A assessoria cuidará do resto. Lorena sentiu o estômago afundar. — Então é isso? Um acordo? Como se eu fosse... uma aquisição? Por um instante, ele pareceu se divertir. Um canto do lábio se ergueu. Mas não era um sorriso. Era uma confissão velada. — Isso é exatamente o que você é. Uma aquisição estratégica. As palavras doeram mais do que deveriam. Mais do que ela permitiria admitir. Porque, lá no fundo, mesmo sem entender por quê, uma parte dela ainda queria acreditar que existia algo humano por trás daquela frieza. O apartamento era amplo, moderno, luxuoso — e absolutamente impessoal. Cores neutras. Linhas retas. Frio como ele. Em cima da cama, uma única rosa branca. Sem bilhete. Sem significado. Lorena riu. Um riso vazio, amargo, quase um soluço. Tirou o vestido com raiva. Lavou o rosto até a maquiagem desaparecer. Trancou a porta. Chorou baixo, engolindo os sons como se temesse ser ouvida. E adormeceu, abraçada a um travesseiro que não tinha cheiro de ninguém. O som da campainha a despertou. Lorena se levantou atordoada, os olhos ainda inchados da noite anterior. O robe escorregava pelos ombros quando ela atravessou o corredor até a porta. Não esperava visitas. Nem contatos. E mesmo assim... alguém havia estado ali. Ela não viu ninguém ao abrir. Mas um envelope preto escorregou por debaixo da madeira, deslizando até parar aos seus pés. O coração dela acelerou. Pegou o envelope com cautela. Era simples, elegante, sem remetente. No interior, uma folha branca. Letras recortadas de revistas, coladas como nos filmes antigos de ameaça. Você não o conhece. Mas ele sabe tudo sobre você. Cuidado com Dante Navarro. O sangue dela gelou. A carta ainda tremia em suas mãos, como se estivesse viva, tentando sussurrar verdades que ela ainda não sabia nomear. O medo se espalhou como veneno. O celular vibrou. Era uma mensagem. Dante Navarro: Não saia de casa hoje. Por sua segurança. Lorena ficou paralisada. Como ele sabia? Quem enviou a carta? De quem ela precisava se proteger... além dele? Com as mãos trêmulas, abriu o navegador do celular para tentar buscar algo, mas antes que pudesse digitar, ouviu o som da fechadura girando. Ela se virou instintivamente, esperando ver Dante... Mas quem surgiu no corredor foi um homem corpulento, de expressão dura. — Senhora Navarro, por favor. Preciso que me acompanhe. — Quem é você? — Segurança designado pelo senhor Dante. Instruções diretas. Preciso levá-la agora ao andar inferior. É uma questão de proteção. Lorena quis discutir, perguntar. Mas algo no olhar dele — ou talvez no vazio que ainda a envolvia — a fez seguir. O elevador desceu em silêncio. O homem não disse uma palavra. Só observava. Como se estivesse avaliando. Como se esperasse algo dela. Quando as portas se abriram, ela não entrou em uma garagem ou uma área de serviço. Era uma sala de conferência envidraçada, minimalista, ocupada por rostos estranhos, sérios, todos voltados para ela. Um homem se levantou. — Senhora Navarro — disse, com um sorriso tão educado quanto sinistro. — Estamos aqui para esclarecer algumas... verdades. Lorena manteve a postura, mas o estômago virava. — Que verdades? — Sobre seu marido. Sobre o acordo. E sobre o que ele realmente quer de você. Ela deu um passo para trás. — Isso é um tipo de ameaça? — Não, senhora. É um alerta. Há mais nesse casamento do que aparências. O senhor Navarro está em guerra. E você foi colocada no centro disso. Lorena sentiu o chão sair dos pés. Ela era só uma mulher tentando sobreviver a um casamento forçado. Como assim... guerra? — O que ele quer de mim? — sussurrou. O homem a fitou por longos segundos. E então respondeu, sem pressa: — Não o que. Quem. De volta ao apartamento, Lorena andava em círculos. A carta. A mensagem. A reunião. O silêncio de Dante. As peças não se encaixavam, mas o jogo já havia começado. O celular vibrou de novo. Chamada perdida — número desconhecido. O coração dela acelerou. Quando atendeu, uma voz feminina soou do outro lado: — Lorena... você precisa sair daí. Agora. — Quem está falando? — Você não pode confiar em Dante. Ele está usando você. Tudo faz parte de algo maior, algo que ele não te contou. E quando você descobrir... vai ser tarde demais. — Espera, quem é você? Como sabe de mim? A ligação caiu. Lorena ficou parada no meio da sala, sentindo que era observada de todos os lados. Nada ali parecia seguro. Nem as paredes, nem os móveis, nem os próprios pensamentos. Foi até a janela. A cidade brilhava sob a luz da noite. Mas lá embaixo, um carro preto estacionava. Dante desceu. Vestia preto dos pés à cabeça, com os olhos ocultos sob sombras. E mesmo à distância, Lorena sentiu. Ele sabia que ela sabia. Mas... o que exatamente ela sabia? A campainha tocou de novo. Ela olhou para a porta. Olhou para o celular. Olhou para a cidade. A história não era mais sobre um contrato. Era sobre controle. Mentiras. E sobrevivência. Lorena deu um passo à frente. Respirou fundo. E abriu a porta.A pergunta de Daniel pairou no ar, densa e cheia de possibilidades. Clarice e Leonardo se entreolharam, a quietude da sala de Daniel contrastando com a grandiosidade da jornada que tinham acabado de concluir. O cheiro de tinta e a luz do final de tarde que entrava pela janela os trazia de volta, mas a sensação de que a realidade se expandira para muito além de sua compreensão persistia.— Eu… não sei — Clarice respondeu, sua voz ainda um eco da admiração que sentiu no reino dos Guardiões do Tempo. Ela tocou a espiral na tela novamente, e dessa vez, sentiu uma quietude que não existia antes, como se a obra tivesse finalmente encontrado sua conclusão. — Sinto que essa história está completa. Não há mais nada que precise ser feito nela.Leonardo balançou a cabeça em concordância, ainda processando a imagem de Elara e o homem se encontrando em um abraço de luz. — É como se o destino deles tivesse sido restaurado, não mudado. É uma diferença sutil, mas enorme.Daniel se aproximou da tela,
Os três seguiram a trilha de luz, que parecia um rio de estrelas líquidas correndo pela grama brilhante. A cada passo, a paisagem ao redor mudava, as flores exóticas dando lugar a árvores de troncos retorcidos, com folhas em tons de azul e roxo que emitiam uma suave luminosidade. O ar, antes fresco e com cheiro de terra, agora era quente e carregado com um aroma doce, como de frutas maduras ao sol. O céu era um caleidoscópio de cores, sem sol ou lua visíveis, mas com uma luz difusa que iluminava tudo com um brilho etéreo.Leonardo, ainda em estado de choque e maravilha, estendeu a mão e tocou o tronco de uma das árvores. Sua pele sentiu um calor suave, e uma energia pulsante parecia passar da árvore para ele. Ele puxou a mão de volta, assustado, mas também fascinado.— É a memória do lugar — explicou Daniel, sem sequer olhar para trás. — As árvores guardam os momentos. Elas não vivem no presente como nós; elas existem em todos os instantes de sua existência de uma só vez.Clarice, com
Com um suave movimento do pulso, Daniel molhou o pincel em um tom quase transparente de cinza e o passou sobre a espiral dourada que dominava a tela. A tinta não cobriu o dourado; em vez disso, criou um véu de luz, um brilho pulsante que parecia respirar em uníssono com o ar da sala. Leonardo observava cada traço, a intriga dançando em seus olhos. A cada pincelada, a espiral parecia se aprofundar, deixando de ser uma imagem plana para se tornar um portal em miniatura. — Você vai me dizer que... viaja no tempo? — perguntou ele, o meio sorriso de ceticismo tentando, em vão, disfarçar o fascínio. Daniel não tirou os olhos da tela. Sua concentração era total. — Não é bem “viajar”, como as pessoas imaginam — respondeu ele, a voz calma, mas cheia de uma autoridade suave. — É mais como... atravessar. Uma passagem suave, onde cada cor, cada sensação e cada detalhe se conectam a outros momentos que já existiram ou que ainda vão existir. Clarice, que até então estava em silêncio, deu um pas
Clarice se aproximou da bancada, onde a orquídea parecia observar tudo em silêncio. Daniel estava ao lado dela, mas diferente de outras vezes, havia uma calma nova em seu olhar. A presença dele parecia ter se moldado ao ambiente, e não o contrário.— A orquídea… é bonita — ela comentou, quase num sussurro.Daniel assentiu, os olhos na flor.— Trouxe porque ela sobrevive até em lugares improváveis. Achei que combinava com o que estamos construindo aqui.Clarice sorriu de leve. O silêncio entre eles não era desconfortável. Era como uma pausa proposital entre dois movimentos de uma música.— E você? — ela perguntou, sem rodeios. — Por que está mesmo aqui, Daniel?Ele passou os dedos por uma mancha de tinta dourada no balcão e respondeu devagar, como quem escolhe cada palavra com intenção.— Vim pra cá pra viver intensamente o meu sonho de pintar com verdade. De transformar cor em significado. Sempre soube que a arte podia tocar — mas só quando nasce sem pressa, sem armaduras. Como um ens
Na manhã seguinte, o ateliê ainda cheirava a tinta fresca e riso antigo. A pintura da noite anterior secava no canto como um segredo bem guardado. Clarice chegou antes de todos, trazendo pães artesanais embrulhados em papel rústico e um pote de geleia de figo que ela mesma tinha feito — ou tentado.Colocou tudo sobre a bancada e ficou ali um instante, observando o espaço. Cada respingo de cor nas paredes parecia contar uma pequena história. E agora havia uma nova camada, construída a três mãos.Logo a porta se abriu.— Trouxe café decente — anunciou Leonardo, erguendo uma garrafa térmica como se fosse um troféu. — Não que eu não confie em suas habilidades, Clarice… mas confio mais na cafeteria da esquina.— Você quer dizer que não quer reviver a poção de ontem? — ela provocou, recebendo a garrafa com um sorriso.— Prefiro manter meu estômago grato hoje.Daniel chegou em seguida, equilibrando uma caixa de papelão com frascos de tinta, pincéis e… uma orquídea. Pequena, mas viva. Uma flo
O café fumegava nas canecas improvisadas — uma xícara lascada, uma caneca de metal com tinta seca no fundo e um copo de vidro que já tinha sido de geleia. Sentados ao redor de uma mesa instável no canto do ateliê, Clarice, Daniel e Leonardo pareciam uma trégua mal ensaiada. Cada um com seu próprio universo girando atrás dos olhos.— Esse café tá horrível — Daniel resmungou, depois de um gole cauteloso. — Você colocou tinta junto, Clarice?— Eu não sou barista, sou pintora — ela rebateu, rindo. — E foi você que pediu “um café forte”. Isso aí levanta até zumbis.— zumbis e de ressaca, talvez — ele retrucou, esfregando os olhos. — E você, Leonardo? Já se arrependeu de nos visitar?Leonardo sorriu, aquela calma elegante ainda grudada nele como perfume caro. — Ao contrário. Eu estava precisando exatamente disso: gente real. Bagunça, sarcasmo… tinta no cabelo.— E no sapato, na calça, no orgulho — Clarice completou, limpando uma mancha azul da própria mão com um pano molhado.— Isso tudo fo
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