Alguns dias depois do retorno à cidade, a vida parecia ter retomado seu curso. Clarice voltava à redação do jornal com os olhos mais abertos para os silêncios do cotidiano, e Leonardo ensaiava novos acordes em sua guitarra, como se estivesse compondo a trilha sonora de um recomeço.
Num fim de tarde chuvoso, ele decidiu buscar alguns livros antigos que havia deixado guardados num depósito da antiga casa da mãe. Clarice o acompanhou. O cheiro de mofo, madeira e passado pairava no ar.
Enquanto Leonardo revistava caixas de partituras e papéis desbotados, Clarice se distraiu com um baú encostado num canto. Era de couro escuro, com uma fechadura antiga. Ele quase passou despercebido, mas algo naquela presença empoeirada a chamou.
— Posso abrir?
— Claro. Nem lembrava que isso existia.
Clarice puxou a tampa com esforço. Dentro, havia tecidos, um álbum de fotografias e uma pequena caixa de papel. Dentro da caixa, estavam cartas.
Muitas.
Todas endereçadas a uma mulher chamada Helena.
— Quem é H