Segredos de Quem Ama

Lorena inclinou-se levemente para a frente, suas mãos agora entrelaçadas sobre a mesa. Seu olhar era profundo, cheio de uma calma que parecia vir de uma compreensão silenciosa.

— Se você falhar, Leonardo, não será o fim. Porque falhar faz parte de ser real. E, se você se perder, talvez seja só uma maneira de se reencontrar. A questão não é a perfeição, nem a segurança que você sempre buscou. A questão é estar disposto a tentar. Estar disposto a ser verdadeiro, mesmo que isso signifique abrir mão do controle, da imagem que você criou para si mesmo.

O que ela dizia não era apenas um consolo, era um desafio. E, talvez pela primeira vez, ele sentiu que realmente poderia aceitar esse desafio, ou então perderia a chance de se conhecer de verdade.

— Eu não posso prometer que vou mudar da noite para o dia — disse ele, com um suspiro cansado. — Eu não sou perfeito, Lorena. E sei que cometi erros. Sei que te decepcionei.

Ela sorriu suavemente, um sorriso sem julgamento, como se aceitasse cada palavra dele.

— Não espero perfeição, Leonardo. Eu espero que você seja quem é, com todos os seus erros e falhas. Porque, no fim das contas, somos todos assim. Eu só não quero que você perca a chance de ser quem você realmente é, por medo de se mostrar. E, se você errar, eu vou estar aqui. Porque isso é o que importa. Não o que você fez ou deixou de fazer, mas o que você decide ser agora.

Ele olhou para ela, tentando absorver aquelas palavras. Algo estava mudando dentro dele, e ele não sabia se estava preparado, mas sabia que não podia mais voltar atrás. Algo no fundo de seu ser o impelia a dar esse passo, a confiar naquelas palavras, naquela conexão que, ao longo de todo o tempo que passaram juntos, ele sempre evitou.

— Eu não sei se sou capaz de ser tão corajoso quanto você pensa que sou — disse ele, a voz agora baixa e sincera.

Lorena deu um pequeno sorriso, quase imperceptível, mas carregado de ternura.

— Você não precisa ser corajoso o tempo todo, Leonardo. Só precisa ser sincero com você mesmo. E, a partir daí, a coragem vai surgir. Mas é um processo. Não acontece de uma vez só. E, se você sentir medo, tudo bem. O medo faz parte. O que importa é não deixar que ele controle você.

Leonardo abaixou os olhos, perdido em seus próprios pensamentos. Como ela podia falar tão naturalmente sobre coisas que ele nunca soubera como lidar? Como se a vida fosse apenas uma sequência de escolhas, e não o emaranhado de medos e inseguranças que ele via em sua frente?

Ele respirou fundo e, pela primeira vez em muito tempo, se permitiu sentir a vulnerabilidade que vinha acompanhada daquela dúvida.

— Eu não sei como começar... — murmurou ele, olhando novamente para ela, com um brilho de incerteza nos olhos.

Lorena olhou para ele com uma expressão suave, mas cheia de um entendimento que parecia tocar sua alma.

— Comece com uma verdade simples, Leonardo. Diga a si mesmo o que você sente. Não tente controlar. Não tente parecer alguém que você não é. Só... comece por aí.

Era como se, ao dizer aquelas palavras, ela tivesse removido o peso de uma expectativa que ele carregava desde sempre. Como se, pela primeira vez, ele tivesse a permissão para ser fraco, para ser humano. E, de alguma forma, isso parecia mais libertador do que qualquer armadura que ele já tivesse usado.

Ele sorriu, pela primeira vez naquele encontro, não com vergonha ou receio, mas com uma leveza que ele mal reconhecia.

— Talvez, então, eu esteja começando agora.

Lorena olhou para ele, um sorriso genuíno se espalhando em seus lábios. E, naquele momento, o que ele viu não foi mais a mulher que ele tentava proteger, mas alguém que estava disposta a caminhar com ele enquanto ele se encontrava, passo a passo, sem pressa, sem expectativas.

E, pela primeira vez, Leonardo não teve medo de dar esse passo.

Leonardo sentiu a suavidade do silêncio, mas não era o silêncio de antes, denso e sufocante, como um peso em seu peito. Era um silêncio liberador, como se tudo o que ele precisava agora era estar ali, naquele momento, com Lorena, sem precisar ser mais do que ele realmente era.

Ela permaneceu em sua frente, observando-o com uma paciência que ele nunca imaginou ser capaz de inspirar. Era como se ela o enxergasse, não apenas como ele se apresentava, mas como ele realmente era, em sua essência. Algo dentro dele, uma parte profunda e esquecida, despertava. A verdade que ela buscava não estava apenas nas palavras ou gestos. Estava na maneira como ela o fazia se sentir... como se ele pudesse finalmente ser inteiro, sem os pedaços quebrados que ele tentava esconder.

— Eu pensei que saber quem eu era fosse suficiente — disse ele, quebrando o silêncio com uma voz mais baixa, quase inaudível. — Mas não é. Eu... sempre fugi da minha própria verdade.

Lorena inclinou a cabeça, como se refletisse sobre o que ele dizia, e seus olhos brilharam com um entendimento que parecia ultrapassar qualquer explicação lógica.

— Todos nós temos uma verdade que tentamos esconder, Leonardo. Mas esconder não a faz desaparecer. Ela fica lá, esperando o momento certo para ser vista. Você só precisa estar pronto para enxergá-la.

Ele sentiu um frio na barriga ao ouvir suas palavras, uma sensação de algo profundo que estava prestes a acontecer. Era como se ele tivesse estado na beira de um abismo, esperando que algo ou alguém o empurrasse para o desconhecido. E, de certa forma, ele sabia que esse empurrão era necessário.

— E se eu não conseguir lidar com o que eu encontrar? E se essa verdade for mais difícil do que eu imagino? — ele perguntou, quase temendo o que poderia vir à tona.

Lorena sorriu, e havia algo reconfortante em seu sorriso, como se ela soubesse o quanto ele estava se debatendo internamente, mas sem pressa de exigir respostas.

— A dor faz parte do processo, Leonardo. Mas o que você encontrará não é um monstro esperando para te devorar. É apenas você, mais inteiro, mais humano. A verdade não vai te destruir. Ela vai te libertar.

Ele se sentiu exposto, mas não da maneira que temia. Havia uma leveza naquilo tudo, como se o peso que ele carregava por tanto tempo estivesse finalmente se dissipando, pouco a pouco, a cada palavra trocada. Ele não precisava ter tudo sob controle. Não precisava ter respostas para tudo. Apenas precisava ser honesto consigo mesmo.

— Então o que eu faço agora? Como sei que estou pronto para enfrentar isso? — a pergunta surgiu com uma sinceridade que ele nunca se permitira antes.

Lorena olhou para ele por um momento longo, seu olhar parecia tão profundo quanto o universo. Ela estava esperando por essa pergunta, talvez há muito tempo, e finalmente ele havia encontrado coragem para fazê-la.

— Você começa com o que está sentindo agora, Leonardo. Não pense no que vem depois. Não se preocupe com o futuro. O que importa é o que você sente agora. A verdade começa com você. Você não precisa de uma resposta final, apenas da disposição de ir em frente.

Ele sentiu um calor crescer em seu peito, algo que ele havia enterrado por tanto tempo, e que agora estava vindo à tona, como se sua alma finalmente estivesse começando a despertar.

— Eu sinto medo, Lorena — disse ele, sua voz um pouco trêmula. — Medo do que vai acontecer se eu realmente me mostrar. Medo de te perder, medo de perder tudo o que eu conheço.

Lorena não desviou o olhar. Ela estava ali, presente, sem pressa, esperando que ele se abrisse de novo, mais uma vez.

— O medo não vai desaparecer de uma hora para a outra. Ele vai estar sempre lá, Leonardo. O importante é o que você faz com ele. O que você faz com o medo que sente. Você pode deixar que ele te paralise, ou pode usá-lo como um sinal de que está indo na direção certa.

Ele fechou os olhos por um momento, sentindo o peso de suas palavras. O medo estava ali, como sempre estivera. Mas agora, ele não se sentia mais ligado a ele. Havia uma leveza, como se ele tivesse dado o primeiro passo para começar a gostar dela.

Quando abriu os olhos, Lorena estava sorrindo de novo, como se soubesse exatamente o que ele estava sentindo. Ele se sentiu vulnerável, mas também mais forte do que jamais sentiu antes. A sensação de estar diante de algo verdadeiro, algo que não podia mais ser negado, tomou conta de seu corpo.

Leonardo passou a mão no rosto, como se quisesse apagar anos de controle.

— Eu sinto medo, Lorena. Medo de me mostrar de verdade… e você ir embora.

Ela não respondeu de imediato. Apenas estendeu a mão por sobre a mesa, tocando a dele com calma.

— E se eu ficar?

Ele a olhou, surpreso com a simplicidade da pergunta. Não havia drama. Não havia cobrança. Só a presença dela — firme, serena.

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