Leonardo olhou para Clarice, sentindo que, pela primeira vez em muito tempo, não precisava se esconder. O vento soprou mais forte, balançando os galhos das árvores da praça, como se o mundo, silenciosamente, estivesse escutando também.
— Então... — ele murmurou, os olhos ainda fixos no céu — talvez a gente só precise se permitir ser, do jeito que for.
Clarice sorriu, e naquele instante o sorriso dela parecia ter o poder de acender uma estrela.
— Ser, mesmo quando não sabemos o que estamos sendo. Mesmo quando tudo parece bagunçado.
Eles se sentaram num dos bancos da praça. A luz amarelada dos postes criava um brilho suave em torno deles, como se estivessem dentro de um casulo feito de calma.
— Me conta uma coisa — disse ela, virando-se para ele com curiosidade gentil — Qual foi a última vez que você se sentiu inteiro?
Ele pensou por um momento. A resposta não veio como um fato, mas como uma memória sensorial: o cheiro de café, o som da chuva, o toque da mão dela.
— Talvez agora — confe