O CEO FRIO E A ESPOSA
O CEO FRIO E A ESPOSA
Por: Hortelanpimenta
A Noiva do Contrato

O Jogo Começa

O vestido não era branco.

Era nude. Frio. Sem vida.

Como o olhar dele.

Lorena encarava o espelho antigo do salão como se ele fosse um portal para outra realidade — uma que ela jamais conheceria. A mulher refletida ali parecia uma estranha: os lábios tingidos em um vermelho dramático, os olhos pesados de maquiagem, escondendo lágrimas secas e verdades engolidas. A postura era ereta, treinada. Mas por dentro, ela desmoronava.

"Isso não é um casamento. É um sacrifício."

— Está na hora — disse a governanta, com a voz baixa, quase solidária. Quase.

Lorena respirou fundo, como quem se prepara para afundar e não voltar à superfície. Cada passo que dava em direção à porta era uma renúncia. Aos próprios sonhos. Ao amor ingênuo que um dia idealizou. E o modo de ser quem era.

Tudo... por causa de uma dívida.

Seu pai adotivo, dono de uma das maiores redes de construção civil do país, havia vendido o impensável para manter o império de pé — e com ele, parte da dignidade da filha. Quando as paredes da empresa começaram a ruir, a solução chegou como um presente envenenado: o casamento com o único homem capaz de salvá-los da ruína.

Dante Navarro.

CEO do Grupo Navarro. Um império erguido sobre contratos impenetráveis, decisões cirúrgicas e uma frieza quase lendária. Um homem que não sorria — exibia vitórias nos olhos. Que nunca amou — negociava promessas. E que agora, por razões que Lorena ainda não compreendia, a queria como esposa. De fachada. De contrato. De aparência.

— Você só precisa sorrir — dissera sua madrasta horas antes. — Ele não espera mais do que isso. E, sinceramente, você não tem mais nada a oferecer.

A frase atravessou Lorena como um punhal disfarçado de conselhos maternos.

Entrar na sala de cerimônia foi como atravessar um campo minado. Seus olhos estavam fixos à frente, mesmo que tudo em seu corpo implorasse para fugir. Lá estava Dante. Parado. Intocável. Imponente em seu terno cinza-chumbo, como uma tempestade prestes a cair. Seus olhos encontraram os dela por um breve instante, e foi como encarar um abismo.

Não havia emoção. Nem reconhecimento. Apenas análise.

Ele não via uma mulher. Via um investimento.

Os votos foram trocados sem emoção. Apenas o padre falava. Lorena apenas ouvia. O mundo inteiro parecia congelado, como se até o tempo estivesse se recusando a testemunhar aquele acordo sombrio.

Quando Dante deslizou o anel em seu dedo, Lorena sentiu a aliança pesar como chumbo. Não era um símbolo de amor. Era uma coleira dourada.

A recepção foi rápida, discreta, planejada nos mínimos detalhes. Tudo muito elegante. Tudo muito calculado.

E logo depois, ele se aproximou, a voz baixa, firme, sem espaço para questionamentos:

— Vamos sair pelos fundos.

No carro, o silêncio era ensurdecedor.

Dante digitava no celular como se estivesse sozinho. Os dedos ágeis, os olhos cravados na tela, ignorando completamente a mulher sentada ao seu lado. Lorena olhava pela janela como se estivesse se despedindo do mundo. Da liberdade. De si mesma.

Ela era agora parte de uma estratégia. Uma peça no tabuleiro dele.

Nenhuma palavra foi dita durante o trajeto. O motorista seguia impassível. Tudo parecia coreografado, milimetricamente ensaiado. Quando o carro parou em frente a um edifício de fachada imponente, Lorena franziu o cenho.

— Onde estamos? — murmurou.

— Este é seu novo endereço — respondeu Dante, saindo do carro e abrindo a porta para ela.

Ela hesitou.

— Não vamos... para a lua de mel?

Foi uma pergunta tola. Ela sabia. Mas a dor de ouvir a resposta era necessária, como quem cutuca um hematoma só para lembrar que está viva.

Dante a encarou, sério, com aquele olhar gélido que parecia medir tudo.

— Isso não faz parte do acordo. Tenho uma viagem de negócios amanhã cedo. Você ficará aqui com tudo de que precisa. Funcionários. Segurança. Cartões. A assessoria cuidará do resto.

Lorena sentiu o estômago afundar.

— Então é isso? Um acordo? Como se eu fosse... uma aquisição?

Por um instante, ele pareceu se divertir. Um canto do lábio se ergueu. Mas não era um sorriso. Era uma confissão velada.

— Isso é exatamente o que você é. Uma aquisição estratégica.

As palavras dele doeram mais do que deveriam. Mais do que ela permitiria admitir. Porque, lá no fundo, mesmo sem entender por quê, uma parte dela ainda queria acreditar que existia algo de humano por trás daquela frieza.

O apartamento era amplo, moderno, luxuoso — e absolutamente impessoal. Cores neutras. Linhas retas. Frio como ele. Em cima da cama, uma única rosa branca. Sem bilhete. Sem significado.

Lorena riu. Um riso vazio, amargo, quase um soluço.

Tirou o vestido com raiva. Lavou o rosto até a maquiagem desaparecer. Trancou a porta. Chorou baixo, engolindo os sons como se temesse ser ouvida. E adormeceu, abraçada a um travesseiro que não tinha cheiro de ninguém.

O som da campainha a despertou.

Lorena se levantou atordoada, os olhos ainda inchados da noite anterior. O robe escorregava pelos ombros quando ela atravessou o corredor até a porta. Não esperava visitas. Nem contatos. E mesmo assim... alguém tinha estado ali.

Ela não viu ninguém ao abrir. Mas um envelope preto escorregou por debaixo da madeira, deslizando até parar aos seus pés.

O coração dela acelerou.

Pegou o envelope com cautela. Ele era simples, elegante, sem remetente. No interior, uma folha branca. Letras recortadas de revistas, coladas como nos filmes antigos de ameaça.

Você não o conhece.

Mas ele sabe tudo sobre você.

Cuidado com Dante Navarro.

O sangue dela gelou.

A carta ainda tremia em suas mãos, como se estivesse viva, tentando sussurrar verdades que ela ainda não sabia nomear. O medo se espalhou como veneno.

O celular vibrou.

Era uma mensagem.

Dante Navarro: Não saia de casa hoje. Por sua segurança.

Lorena ficou paralisada.

Como ele sabia?

Quem enviou a carta?

De quem ela precisava se proteger... além dele?

Com as mãos trêmulas, abriu o navegador do celular para tentar buscar algo, mas antes que pudesse digitar, ouviu o som da fechadura girando.

Ela se virou instintivamente, esperando ver Dante...

Mas quem surgiu no corredor foi um homem corpulento, de expressão dura.

— Senhora Navarro, por favor. Preciso que me acompanhe.

— Quem é você?

— Segurança designado pelo senhor Dante. Instruções diretas. Preciso levá-la agora ao andar inferior. É uma questão de proteção.

Lorena quis discutir, perguntar. Mas algo no olhar dele — ou talvez no vazio que ainda a envolvia — a fez seguir.

O elevador desceu em silêncio. O homem não disse uma palavra. Só observava. Como se estivesse avaliando. Como se esperasse algo dela.

Quando as portas se abriram, ela não entrou em uma garagem ou uma área de serviço. Era uma sala de conferência envidraçada, minimalista, ocupada por rostos estranhos, sérios, todos voltados para ela.

Um homem se levantou.

— Senhora Navarro — disse, com um sorriso tão educado quanto sinistro. — Estamos aqui para esclarecer algumas... verdades.

Lorena manteve a postura, mas o estômago virava.

— Que verdades?

— Sobre seu marido. Sobre o acordo. E sobre o que ele realmente quer de você.

Ela deu um passo para trás.

— Isso é um tipo de ameaça?

— Não, senhora. É um alerta. Há mais nesse casamento do que aparências. O senhor Navarro está em guerra. E você foi colocada no centro disso.

Lorena sentiu o chão sair dos pés. Ela era só uma mulher tentando sobreviver a um casamento forçado. Como assim... guerra?

— O que ele quer de mim? — sussurrou.

O homem a fitou por longos segundos. E então respondeu, sem pressa:

— Não o que. Quem.

De volta ao apartamento, Lorena andava em círculos. A carta. A mensagem. A reunião. O silêncio de Dante. As peças não se encaixavam, mas o jogo já havia começado.

O celular vibrou de novo.

Chamada perdida — número desconhecido.

O coração dela acelerou. Quando atendeu, uma voz feminina soou do outro lado:

— Lorena... você precisa sair daí. Agora.

— Quem está falando?

— Você não pode confiar em Dante. Ele está usando você. Tudo faz parte de algo maior, algo que ele não te contou. E quando você descobrir... vai ser tarde demais.

— Espera, quem é você? Como sabe de mim?

A ligação caiu.

Lorena ficou parada no meio da sala, sentindo que era observada de todos os lados. Nada ali parecia seguro. Nem as paredes, nem os móveis, nem os próprios pensamentos.

Foi até a janela.

A cidade brilhava sob a luz da noite. Mas lá embaixo, um carro preto estacionava.

Dante desceu.

Vestia preto dos pés à cabeça, com os olhos ocultos sob sombras. E mesmo à distância, Lorena sentiu.

Ele sabia que ela sabia.

Mas... o que exatamente ela sabia?

A campainha tocou de novo.

Ela olhou para a porta. Olhou para o celular. Olhou para a cidade.

A história não era mais sobre um contrato.

Era sobre controle.

Mentiras.

E sobrevivência.

Lorena deu um passo à frente.

Respirou fundo.

E abriu a porta.

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