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A Ponte Entre Silêncios

Leonardo não dormira bem naquela noite. A conversa com Lorena havia mexido com estruturas tão profundas que ele mal sabia por onde começar a reconstruí-las. Acordou com o som de pássaros do lado de fora da janela e um céu cinza, carregado, como se o mundo refletisse a tormenta interna que ele mal sabia nomear.

Sentou-se à beira da cama, observando o chão por longos minutos. Seus pés descalços tocavam o piso frio, mas não era isso que o incomodava. Era aquela sensação de que algo havia sido aberto dentro dele, algo que ele não poderia mais ignorar.

Lorena.

O nome dela ecoava como um sussurro calmo em sua mente, como se, mesmo ausente, ela continuasse ali, oferecendo presença.

Ele se levantou, tomou um banho demorado e saiu sem rumo. Caminhou por ruas que já conhecia, mas que hoje pareciam diferentes — talvez porque ele já não fosse mais o mesmo. A cidade parecia menos barulhenta, como se respeitasse o silêncio que ele agora carregava consigo.

Foi só ao entardecer que ele decidiu voltar ao lugar onde tudo havia começado: o pequeno café onde encontrara Lorena dias antes. O mesmo onde ela, com palavras suaves e olhar firme, o desafiara a ser verdadeiro.

Sentou-se à mesma mesa. Pediu o mesmo café. E esperou. Não por ela, exatamente. Mas por si mesmo.

Lorena chegou minutos depois, como se tivesse escutado o chamado silencioso que ele mesmo não sabia ter feito. Estava com os cabelos soltos, um livro debaixo do braço, e aquele jeito calmo de quem já havia feito as pazes com a própria alma.

— Achei que talvez você voltasse aqui — disse ela, colocando o livro sobre a mesa e sentando-se à sua frente.

Leonardo a observou por alguns segundos antes de responder.

— Eu precisei... respirar. Pensar. Não foi fácil dormir depois de ontem.

Ela assentiu, compreendendo.

— A verdade tem esse efeito. Primeiro te desmonta. Depois, aos poucos, te reconstrói.

Ele sorriu de leve.

— Então eu tô no meio do processo?

— Você está atravessando a ponte — respondeu ela. — Entre o que você era e o que pode ser.

Leonardo abaixou o olhar, brincando com a borda da xícara. Depois, encarou-a de novo, com mais firmeza.

— Lorena... eu não sei se estou pronto para ser tudo o que você enxerga em mim. Às vezes me sinto pequeno, incapaz, inseguro.

Ela estendeu a mão e pousou-a sobre a dele.

— Eu não espero que você seja tudo agora. Nem amanhã. Eu só quero que você esteja disposto a não fugir mais de quem é.

Um silêncio confortável se instalou entre eles. Era como se aquela pausa fosse também parte da conversa, uma respiração mútua entre duas almas que, de formas distintas, estavam se procurando.

Depois de alguns minutos, Leonardo quebrou o silêncio.

— Quando você fala com tanta clareza... não parece ter medo. Como você aprendeu isso?

Lorena sorriu, mas seus olhos mostravam algo mais profundo — uma dor antiga talvez.

— Eu também já fugi de mim, Leonardo. Já escondi quem eu era. Já tentei me moldar para caber nos espaços dos outros. Até perceber que, para viver de verdade, eu teria que ocupar o meu próprio espaço. E isso... só acontece quando a gente se aceita — inteira, quebrada, contraditória.

Leonardo assentiu, sentindo-se, de repente, menos sozinho em suas dores.

— Você acha mesmo que a gente pode se reconstruir depois de se perder por tanto tempo?

— Eu acho que a gente não se perde de verdade — respondeu ela. — A gente só se esconde. Mas a alma... ah, a alma sempre encontra o caminho de volta.

Ele respirou fundo, absorvendo cada palavra. Depois, segurou a mão dela com mais firmeza, como quem está aprendendo a confiar.

— Eu quero tentar, Lorena. Quero descobrir quem eu sou de verdade. Mas quero fazer isso... com você por perto.

Ela não sorriu de imediato. Seus olhos brilharam, e havia algo como gratidão ali, ou talvez alívio.

— Eu não vim pra te salvar, Leonardo. Mas se você quiser companhia nessa caminhada, eu fico. Caminhar ao lado de alguém também é uma forma de amar.

Ele apertou os lábios, emocionado, e não respondeu com palavras. Apenas assentiu, lentamente, sentindo que ali, naquele instante, uma parte dele se alinhava com algo muito maior que o medo — algo que talvez fosse, enfim, o começo do amor verdadeiro.

O céu, do lado de fora, ainda estava cinza. Mas, dentro de Leonardo, havia luz.

E pela primeira vez em muito tempo, ele acreditou que poderia atravessar a ponte.

Claro, Tatiane. Vamos continuar com delicadeza, emoção e uma pitada de profundidade — como quem anda de mãos dadas com o silêncio e a coragem. A seguir, a continuação direta do capítulo anterior:

Eles caminharam lado a lado pelas ruas calmas do centro, depois do café. O céu, embora ainda nublado, parecia agora menos ameaçador — como se anunciasse que, mesmo nas sombras, ainda pode haver ternura.

Leonardo sentia o peso dos dias anteriores começando a se dissolver, mas também havia uma leveza nova, desconhecida, que lhe causava quase medo. Não estava acostumado com a liberdade de ser quem é. Parecia estranho não precisar fingir.

Lorena andava em silêncio, os passos firmes, mas lentos. Como quem não pressa o tempo, como quem conhece o valor do instante.

— Quando eu era pequena — ela começou, quase num sussurro — achava que amar era prometer nunca ir embora.

Leonardo a olhou de lado, curioso com a confissão.

— E agora? — perguntou, suavemente.

— Agora acho que amar é ficar... mesmo quando não se promete nada.

Ele absorveu a frase como quem recebe uma chave. Quase não sabia como usá-la, mas sentia que ela abria portas antigas.

Pararam diante de uma praça vazia. Um balanço solitário se movia com o vento. Lorena caminhou até ele e sentou, empurrando-se levemente, como se quisesse conversar com alguma lembrança.

Leonardo a observava com carinho. Ela era um mistério calmo, mas não indecifrável. Era como um poema que se deixa entender, mas só por quem escuta com o coração.

— Você tem medo do que sente? — ela perguntou, sem olhá-lo.

— Tenho medo de sentir demais... e não ser correspondido — respondeu ele, sincero, quase nu de defesas.

Ela o encarou então. Os olhos dela eram espelhos. E ele se viu ali — vulnerável, imperfeito, mas inteiro.

— Amar é arriscar não ser correspondido — disse ela. — Mas não amar é ter a certeza de que nunca será.

Leonardo se aproximou, sentando-se ao lado, no balanço ao lado. Os dois ficaram ali, balançando levemente. Dois adultos tentando reaprender o que a infância parecia saber tão bem: que o momento presente é tudo o que temos.

— Lorena, e se eu falhar? — perguntou ele, baixinho.

Ela sorriu, com ternura.

— Vai falhar. Como todo mundo. Mas se for verdadeiro... eu fico.

Silêncio. A brisa gelada passou entre eles como um aviso: a vida é breve demais para não se arriscar no que pulsa.

Ele estendeu a mão para ela. Ela segurou.

E assim ficaram. Sem promessas, sem certezas. Apenas a escolha de tentar.

Era pouco para quem esperava garantias.

Era tudo para quem esperava amor.

Lorena inclinou a cabeça para o lado, observando o movimento dos pés de Leonardo, que, sem perceber, estavam tocando suavemente o chão enquanto balançavam no ritmo da brisa. A praça estava vazia, exceto por eles, como se o mundo tivesse se afastado para dar espaço àquele momento. Não havia pressa. O silêncio entre eles não era desconfortável, mas carregava uma ternura que parecia se espalhar como a luz tênue do fim da tarde.

— Você já percebeu? — disse ela, com a voz suave, mas firme. — Como o tempo parece desacelerar quando não estamos mais correndo atrás dele?

Leonardo olhou para ela, um sorriso tímido brincando nos lábios. Aquela percepção era algo que ele nunca tinha considerado. Passara a vida inteira tentando alcançar o futuro, com medo de perder algo, de falhar. E agora, naquele exato momento, o tempo parecia estar fluindo por conta própria, sem pressões. Ele se permitiu sentir isso.

— Eu… não sei se tenho aprendido a viver assim — disse ele, com um toque de vulnerabilidade. — Vivo me esperando. Esperando ser algo que ainda não sou.

Lorena se virou para ele, os olhos brilhando com uma mistura de compreensão e tranquilidade.

— E o que você acha que seria esse algo que ainda não é? — ela perguntou, inclinando-se levemente para ele, como se quisesse ouvir o mais profundo de sua alma.

Leonardo fechou os olhos por um momento, tentando entender a pergunta. Ele nunca se permitira olhar tão profundamente para dentro de si mesmo. Sempre foi mais fácil correr. Mas agora… ele se viu parado, sem um caminho claro, apenas o peso do próprio ser.

— Eu sempre senti que sou mais do que pareço — respondeu ele, a voz baixa, quase como uma confissão. — Como se houvesse camadas de mim que eu ainda não toquei. Mas cada vez que tento chegar mais perto, algo me segura.

Lorena o observou com atenção, como se visse além das palavras. Ela pegou sua mão, com aquele gesto simples que já não parecia mais tão pequeno.

— Isso é ser humano, Leonardo. Somos todos camadas, camadas de luz e sombra, de certezas e dúvidas. Mas nada disso é permanente. O que importa é que você está começando a olhar para isso. E é assim que as coisas se transformam: primeiro você vê, depois você decide o que fazer com o que encontrou.

Ele a olhou, como se estivesse tentando encontrar mais do que aquelas palavras. O que ela dizia parecia simples, mas ao mesmo tempo carregado de uma sabedoria silenciosa, uma verdade que parecia fazer sentido, mas que ele não sabia explicar.

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