Início / Romance / O CEO FRIO E A ESPOSA / Uma janela entre mundos
Uma janela entre mundos

A chuva começou suave — não uma tempestade, mas um sussurro constante, como dedos batendo em memórias há muito enterradas. Eles já haviam saído do parque quando as primeiras gotas caíram, caminhando sem pressa pelas ruas sinuosas. O casaco de Leonardo estava ligeiramente úmido, mas ele não parecia se importar. Seus pensamentos eram mais barulhentos que o tempo.

Lorena segurava o livro junto ao peito, a outra mão ainda entrelaçada à dele. Não era um aperto de desespero. Era uma presença silenciosa.

Pararam em uma livraria antiga — uma daquelas joias escondidas que pareciam resistir ao tempo. Sua placa de madeira rangia suavemente com a brisa, e as janelas estavam embaçadas pelo calor do interior.

— Quer entrar?

Ela perguntou, inclinando a cabeça em direção à porta.

Leonardo hesitou por meio segundo e depois assentiu.

Lá dentro, o ar estava carregado com o cheiro de papel velho e poeira. Prateleiras altas se encostavam como velhas amigas, e luzes amarelas davam ao lugar um brilho dourado e onírico.

Lorena caminhou à frente, desaparecendo momentaneamente em uma fileira rotulada "Filosofia". Leonardo vagou sem rumo, deixando seus dedos roçarem as lombadas dos livros sem ler seus títulos.

Ele parou em uma pequena mesa nos fundos, onde uma janela dava para um pequeno jardim. A chuva pingava incessantemente do telhado sobre o caminho de pedra lá fora. Havia uma única cadeira, e ele se sentou, olhando para fora.

Depois de um momento, Lorena reapareceu, com um fino livro azul nas mãos. Ela não disse nada, apenas deslizou para a cadeira à sua frente.

— O que você encontrou?

Ele perguntou, apontando para o livro.

Ela o ergueu levemente. A Arte da Quietude.

— Claro que sim, ele disse, rindo baixinho.

— Gosto de lembretes, disse ela. A quietude também não é fácil para mim.

Eles ficaram ali sentados por alguns instantes, apenas respirando o silêncio.

— Sabe, disse ele, em voz baixa, eu odiava o silêncio. Sempre me pareceu um espelho. Muito alto. Muito honesto.

E agora?

— Estou entendendo que não era o silêncio que me assustava, respondeu ele, com os olhos ainda fixos na chuva. Era o que eu não queria ouvir lá dentro.

Lorena se inclinou para frente, apoiando os cotovelos na mesa.

— O que você ouve agora?

Ele fez uma pausa, pensando.

— Minha própria voz. A verdadeira. Não aquela que tenta impressionar alguém, esconder ou provar alguma coisa. Só... eu.

— Essa voz é a que vale a pena ouvir, disse ela. Mas passamos tanto tempo ignorando-a.

Leonardo olhou para ela, com uma suavidade na expressão que não existia antes.

— Você já se perguntou como seria sua vida se tivesse ouvido sua voz antes?

Lorena não respondeu de imediato. Abriu o livro e folheou algumas páginas antes de escolher uma. Então, começou a ler em voz alta:

Ficar quieto não é parar. É sentir plenamente. É esperar até que o ruído se acalme e a alma comece a falar.

Ela fechou o livro delicadamente.

— Não me pergunto o que poderia ter sido", disse ela. Porque tudo o que vivi me trouxe até aqui. E aqui… é onde escolhi estar.

Leonardo assentiu, engolindo o nó que se formou em sua garganta.

— Acho que tenho medo de escolher, confessou. Porque se eu escolher e der errado, a culpa é minha.

Lorena estendeu a mão sobre a mesa novamente, não para confortar, mas para ancorar.

— Deixe-me contar uma coisa que minha avó disse uma vez, começou ela.

— Ela me disse: Mesmo quando você não escolhe nada, você ainda está escolhendo. Então, é melhor escolher com coragem do que se esconder na indecisão.

Ele respirou fundo, como se as palavras dela tivessem perfurado algo que precisava ser quebrado.

— Não sei como ser corajoso, ele sussurrou.

— Você não precisa saber, ela disse. Você só precisa tentar .

Um silêncio se instalou sobre eles novamente — mas, desta vez, carregado de força. Uma pausa não de dúvida, mas de reconhecimento.

O sino acima da porta tocou quando outro cliente entrou, mas nenhum dos dois se virou. O mundo lá fora se movia, mas lá dentro, o tempo prendia a respiração.

— Tenho pensado muito sobre quem eu quero me tornar, disse Leonardo lentamente.

— Não só para você, nem para ninguém. Mas para mim. E percebi que ainda não tenho uma imagem clara.

— Tudo bem, disse Lorena. A maioria das pessoas passa a vida inteira perseguindo uma versão de si mesmas que acham que deveriam ser. Mas talvez a verdadeira jornada seja simplesmente aprender a se encontrar, repetidamente, com gentileza.

Ele sorriu então, não de alegria, mas de silenciosa compreensão.

— Eu quero escrever, ele disse.

Os olhos dela brilharam.

— Você tem?

— Nunca contei isso a ninguém, admitiu. Mas sim. Histórias. Como esta. Reais, confusas, humanas.

— Você já é, disse ela gentilmente. Olhe para a sua vida. Você já está contando uma história.

Ele se recostou, sentindo algo se acalmar dentro de si. Não porque tivesse encontrado todas as respostas, mas porque finalmente fizera a pergunta certa.

— Vamos, disse Lorena, levantando-se do assento. Acho que a chuva está diminuindo.

Eles caminharam juntos de volta para o crepúsculo. O céu ainda estava nublado, mas não mais carregado. O tipo de céu que sugeria uma clareada, uma possibilidade.

Ao dobrarem a esquina, Leonardo estendeu a mão para ela novamente. Ela encontrou os dedos dele no meio do caminho.

Não houve declarações, nem epifanias repentinas. Apenas duas almas caminhando em direção a algo incerto, mas compartilhado.

E pela primeira vez em muito tempo, Leonardo não sentiu que estava esperando a vida começar.

Ele já estava nisso.

Caminhavam sem destino, seus passos guiados menos pela direção e mais pela presença. O mundo se aquietara, e a cidade parecia mais suave — como uma música tocada ao fundo de algo mais importante.

Depois de alguns quarteirões, chegaram a um beco estreito iluminado por fileiras de lâmpadas velhas que ziguezagueavam acima. Uma pequena padaria, ainda aberta, brilhava calorosamente no final.

Vamos lanchar, perguntou Lorena.

Leonardo olhou para ela, admirado com o quão realista a pergunta lhe parecia. Ele não havia percebido até então o quanto do seu dia havia sido consumido por pensamentos, não por sustento.

— Quero um lanche, ele respondeu com um sorriso torto.

Dentro da padaria, o ar estava carregado de canela, baunilha e o zumbido reconfortante dos fornos. A mulher atrás do balcão os cumprimentou com um aceno de cabeça, como se tivesse visto o amor passar por aquelas portas em todas as suas fases.

Eles pediram dois doces e sentaram-se em uma mesa de canto perto de uma janela embaçada.

Quando Leonardo deu a primeira mordida, ele soltou um zumbido de surpresa.

— Isso tem gosto de manhã de domingo, ele disse, com a boca meio cheia.

Lorena riu.

— Isso é estranhamente específico.

— Minha mãe costumava fazer algo assim quando eu era pequena. Nos dias em que tudo parecia bem.

Ele fez uma pausa, observando o vapor subindo do café.

— Sinto falta daquela versão de mim. O menino que acreditava que as manhãs poderiam ser seguras.

— Você tem o direito de sentir falta dele, disse ela. Mas não precisa continuar com essa saudade. Talvez ele não tenha ido embora. Talvez ele esteja só... esperando você voltar.

Leonardo olhou para ela, a emoção apertando seu peito. Ninguém jamais lhe dissera isso. A maioria das pessoas lhe dizia para seguir em frente, para endurecer. Mas Lorena não estava pedindo que ele esquecesse. Ela o convidava a lembrar.

— Para ser honesto, ele disse lentamente, não sei como responder a ele.

— Você começa, ela respondeu, não fingindo que ele não importava.

Ele se inclinou para a frente, com os cotovelos apoiados na mesa e a voz mais suave agora.

— Por que você sempre sabe a coisa certa a dizer?

Ela sorriu, não com orgulho, mas com uma pitada de dor.

— Porque passei anos desejando que alguém me dissesse essas coisas.

Eles ficaram sentados ali, cercados pelo suave tilintar de xícaras e garfos, por estranhos murmurando ao redor deles e pelo tique-taque de um relógio que ninguém parecia ter pressa em obedecer.

— Eu costumava pensar que a cura era um grande momento, disse Leonardo. Como um nascer do sol ou um trovão. Mas estou começando a pensar... talvez seja isso. Silencioso, lento, inesperado.

— É sim, disse Lorena. É escolher a suavidade quando você poderia ter escolhido a distância. É deixar alguém entrar mesmo quando você ainda está um pouco machucado.

Ele olhou para ela, o peso de tudo o que ele não havia dito dançando em seus olhos.

— Você acha que o amor é uma escolha?

Lorena não respondeu de imediato. Olhou pela janela, observando a luz se refletir no vidro, e depois voltou a encará-lo.

— Acho que o amor é composto por mil escolhas, disse ela. Feitas repetidamente. Mesmo quando é difícil. Principalmente quando é difícil.

Leonardo assentiu, sentindo a verdade se apoderar dele.

— Estou com medo, admitiu. Mas não quero mais correr.

— Então não" disse ela simplesmente. Fique. Sinta. Tente.

E naquela pequena padaria, sob as luzes fracas e o aroma do pão subindo, eles não fizeram promessas. Nenhuma declaração. Apenas o acordo silencioso e sagrado de continuar escolhendo — mesmo quando doesse, mesmo quando curasse.

Ficaram até o lugar ficar vazio. Até que as cadeiras começaram a ser empilhadas e a mulher atrás do balcão sorriu para eles com os olhos cansados ​​que viam histórias se desenrolarem há décadas.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App