Seguindo o Vento

Leonardo seguiu em frente, com a cidade ao seu redor parecendo um cenário desfocado. As pessoas iam e vinham, mas ele estava distante de tudo aquilo. O vento, frio e cortante, invadia sua mente, puxando-o para dentro de si. Não era o vento que o incomodava, mas a sensação de estar preso, sem saber para onde ir. Os pensamentos, antes claros, estavam agora emaranhados, como se tivesse perdido a chave para entender seu próprio coração.

Era como se o mundo ao redor tivesse parado de fazer sentido. As ruas apinhadas de carros e pessoas continuavam, mas ele não conseguia mais enxergá-las como antes. Tudo parecia um reflexo distorcido, um borrão de cores e sons. O que restava de seu mundo, de sua certeza, parecia escapar pelas frestas do tempo.

Então, ouviu o som das portas do café se abrindo, e seu olhar se direcionou automaticamente. Lorena estava ali, destacando-se no meio da confusão da cidade. Seus olhos, sempre tão serenos, refletiam uma calma que contrastava com a tormenta interna que ele sentia. Ela o observava silenciosamente, como se soubesse exatamente o que ele estava passando, sem precisar de palavras.

Uma dor no peito o atingiu, uma mistura de alívio e angústia. Ela estava ali, mas ele não sabia o que fazer com aquele momento, com aquele sentimento. A tensão entre eles parecia expandir, como se o espaço que os separava fosse mais concreto do que ambos queriam admitir.

— Vai entrar? — perguntou ela, com um sorriso suave, mas cheio de significado.

A pergunta, simples à primeira vista, carregava um peso imenso. O que ele responderia? O que ele queria? Olhou para ela, sem saber se as palavras sairiam ou se o silêncio seria mais honesto. Estava perdido, mas ela parecia ser a única coisa que ainda o conectava ao que, por algum tempo, ele havia esquecido.

Sem dizer nada, deu um passo em direção à porta. O silêncio entre os dois não era desconfortável, mas carregava a promessa de algo novo. As palavras, naquele momento, pareciam desnecessárias. Estar ali, compartilhando aquele espaço, fazia o vazio que ele sentia, ao menos por um segundo, parecer menos profundo.

Sentaram-se em uma mesa no canto, longe da agitação, mas não completamente isolados. A cidade, com seu ruído constante, ainda fazia parte do ambiente, mas ali, naquele instante, parecia distante. Lorena o observava, os olhos atentos, esperando que ele falasse, mas sem pressioná-lo.

O café estava quente e aconchegante. Ele olhou para a xícara em suas mãos, sentindo a suavidade da cerâmica fria, tentando encontrar algo que fizesse sentido. Abriu a boca, mas nada saiu.

— Eu... — hesitou, tentando encontrar as palavras. — Não sei o que estou fazendo. Não sei mais quem sou. A cidade, o vento... tudo parece estar fora do meu alcance, como se eu estivesse aqui, mas em outro lugar. E isso me assusta.

Lorena o observou em silêncio, sem julgamentos, mas com um olhar compreensivo.

— Não precisa saber de tudo agora. Às vezes, a resposta não está no que tentamos entender. Ela aparece quando a gente menos espera, quando nos damos conta de que o que sentimos é maior do que qualquer explicação.

Ele respirou fundo, sentindo a tensão nos ombros diminuir um pouco. O olhar dela, a quietude do café, o calor da bebida... tudo parecia, de alguma forma, ajudá-lo a se ancorar na realidade. Mas sabia que o caminho à frente seria difícil. Estava perdido, mas talvez, pela primeira vez em muito tempo, não estivesse tão sozinho.

Ficaram ali, em silêncio, enquanto o mundo ao redor continuava a se mover, sem que nada essencial fosse dito. Mas, para ele, aquele momento já era um começo. Não o fim, mas algo novo. Algo que ele ainda não entendia, mas que estava disposto a explorar.

Leonardo permaneceu em silêncio, observando Lorena enquanto ela mexia lentamente a colher na sua xícara. O café estava quase frio, mas ele não se importava. O tempo, naquele momento, parecia ter parado, como se o mundo inteiro tivesse feito uma pausa só para ele poder respirar, refletir. Algo no olhar dela o acalmava, como se, por um instante, tivesse encontrado um porto seguro. Mas, ao mesmo tempo, o peso das perguntas ainda o afligia.

— Lorena, como você consegue...? — Ele parou, sem saber como continuar. Como ela conseguia se manter serena em meio a tudo isso? Como parecia ter encontrado algo que ele ainda não conseguira?

Ela ergueu os olhos lentamente, e sua resposta não veio de imediato. Mas, quando falou, suas palavras foram suaves, quase como uma melodia:

— Porque eu não estou buscando todas as respostas. Estou buscando entender o que está diante de mim. Quando a gente aceita que a vida é um fluxo, uma jornada constante, a gente para de se pressionar por ter todas as respostas agora. O segredo, talvez, seja se permitir ser perdido às vezes.

Ele a observou, tentando absorver o que dizia. Perder-se? Era isso que temia, e, ao mesmo tempo, era isso que estava fazendo: se perdendo, sem saber por onde começar a procurar de novo.

— Eu não sei se consigo... — murmurou, sentindo o peso da angústia voltar. — Me sinto como se estivesse afundando em um lugar sem fundo.

Lorena não respondeu imediatamente. Em vez disso, deixou seu olhar flutuar pela janela, observando a cidade lá fora. As ruas ainda estavam cheias de movimento, mas parecia que ela estava em outro lugar, em um tempo diferente, com a mente distante de tudo aquilo.

— Talvez, o ponto não seja procurar um fundo. Talvez o ponto seja aprender a flutuar, a encontrar equilíbrio no caos — ela disse, finalmente. — Você se esqueceu de como isso é possível, mas isso não significa que não possa aprender de novo.

Ele sentiu uma estranha sensação de alívio ao ouvir suas palavras. Não porque as respostas fossem fáceis, mas porque, talvez, estivesse focando demais em encontrar algo sólido em um mundo que não era feito de certezas absolutas. A vida, afinal, não era uma linha reta, mas uma sequência de ondas, e ele estava começando a perceber que a única coisa que precisava fazer era aprender a surfar.

— Eu não sei como flutuar. Nunca soube — disse, ainda cético.

Lorena sorriu suavemente, como se soubesse exatamente o que ele estava sentindo.

— A questão não é saber, mas confiar. O equilíbrio não vem de saber todas as respostas, mas de se entregar ao que está acontecendo, sem medo de perder o controle. O controle, aliás, é uma ilusão.

Ele a olhou atentamente. Havia algo nela, uma força silenciosa que o fazia questionar, mas não de forma agressiva. O que ela dizia fazia sentido, mas, ao mesmo tempo, parecia tão distante. Como alguém poderia confiar no que não consegue entender?

Mas ele não perguntou. Ao invés disso, deixou suas palavras ecoarem na sua mente, sem buscar uma resposta imediata. O que ele mais desejava, naquele momento, era apenas estar ali, com ela. Não precisava de grandes explicações ou verdades universais. O simples fato de estarem ali, juntos, já parecia ser o suficiente.

— Eu acho que... — começou, parando para procurar as palavras. — Eu acho que tenho medo de me entregar a isso. Medo de me perder ainda mais.

Lorena assentiu, como se tivesse antecipado aquela resposta. Não o julgava, apenas o compreendia.

— Todos têm medo. O que muda é como lidamos com ele. O medo pode ser uma prisão, ou pode ser um convite para crescer. Mas, para isso, precisamos estar dispostos a enfrentá-lo, em vez de fugir.

Leonardo pensou por um momento, olhando para ela. O olhar dela era firme, mas gentil. Havia uma força silenciosa nela, algo que o fazia sentir que, talvez, só talvez, ele pudesse começar a acreditar que poderia enfrentar o que fosse para ficar com ele.

— E se eu não conseguir? — perguntou, mais para si mesmo.

— Você vai conseguir. Talvez não da maneira que imagina, mas vai. Às vezes, o simples ato de tentar já é um passo significativo. Não se trata de vencer, mas de continuar. O que importa é o movimento.

Ele sorriu, pela primeira vez desde que entrou no café. Algo nas palavras dela, na forma tranquila com que falava, o fez se sentir mais leve. Não que as respostas fossem fáceis ou que sua vida voltasse a fazer sentido de imediato, mas talvez o que ele realmente precisasse fosse dar o primeiro passo. Não para encontrar tudo, mas para começar.

— Eu não sei para onde estou indo, mas... talvez, com você, eu consiga descobrir — disse, com um sorriso sincero.

Lorena olhou para ele com uma suavidade que fez seu coração bater mais forte. Era como se ela soubesse que, naquele instante, ele começava a abrir uma nova porta dentro de si. Não era o fim de algo, mas o começo de algo novo.

— Talvez seja isso o que a vida realmente é, Leonardo. Não um destino fixo, mas um caminho que vamos construindo. Passo a passo.

Os dois ficaram ali, em silêncio novamente. Mas agora, o silêncio não era vazio. Era o tipo de silêncio que carregava a promessa de algo que ainda estava por vir, uma jornada que, talvez, estivesse apenas começando.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App