Para Maria Maliki, o herdeiro Calleb é a personificação de um passado doloroso e de um futuro imposto. Para Calleb, Maria é a mulher ardilosa que ele aprendeu a odiar. Em meio ao clima frio e à elite sofisticada da cidade de Komodo, os dois jovens, descendentes de famílias poderosas, são as peças centrais em um casamento arranjado – um contrato assinado para unir poder e fortuna. Com apenas três encontros para selar seu destino, eles são jogados em um jogo perigoso onde cada olhar é uma batalha e cada palavra, uma arma. O que os une, no entanto, é mais do que um acordo de negócios. É um passado compartilhado, onde a amizade e um amor adolescente foram destruídos por uma teia de mentiras e inveja.
Ler maisMaria acordou com o sol quente em seu rosto e o som suave das ondas quebrando na praia. Por um instante, ela não soube onde estava. Seu corpo doía de uma forma deliciosa, exausto e vivo. A névoa do sono se dissipou e as memórias da noite anterior vieram em flashes febris: a batida dos tambores, o calor de um corpo desconhecido, a libertação.Ela se virou, o coração dando um salto estranho, meio esperando, meio temendo encontrar o estranho da noite passada. O lugar ao seu lado na cama estava vazio. Não havia bilhete, nem sinal de que ele existiu, exceto por uma coisa. Sobre o travesseiro ao lado, repousava a máscara de madeira escura e lisa.Ela a pegou. O objeto era frio e suave ao toque. Traçou os contornos anônimos com a ponta dos dedos. Uma onda de emoção a percorreu, mas para sua surpresa, não foi tristeza. Não houve a pontada familiar da rejeição ou do abandono que Calleb havia lhe ensinado a sentir. Havia apenas... uma calma curiosa.A noite não fora sobre ele, o estranho. F
Gabriel sentia o peso do mundo em seus ombros. O resort de luxo de sua família, um paraíso de piscinas de borda infinita e bangalôs privativos, parecia uma prisão. De seu terraço, ele observava o mesmo mar azul-turquesa que banhava o outro lado da ilha, mas não via beleza. Via apenas a distância infinita entre o que seu coração desejava e o que a realidade lhe impunha.Ele havia fugido. A imagem de Maria, deslumbrante e etérea em seu vestido de noiva, caminhando em direção a Calleb – o homem que não a merecia, que a havia ferido por uma década – estava gravada a fogo em sua mente. Vê-la se casar por obrigação, seu primeiro e único amor, foi como assistir a um anjo ter suas asas cortadas. Ele precisava de ar, de um lugar onde o nome "Maliki" e "Alcântara" não significassem nada.Então, quando ouviu os funcionários do hotel comentando animadamente sobre o Festival da Maré Escondida, uma festa de máscaras na praia do vilarejo, ele inicialmente descartou. Uma festa era a última coisa q
A ilha a recebeu de braços abertos e quentes. O ar era denso com o cheiro de sal e hibiscos, um contraste brutal com a fragrância de chuva e asfalto que ela havia deixado para trás. Aqui, as pessoas se moviam com a calma da maré, seus rostos bronzeados pelo sol, seus sorrisos fáceis e genuínos. Nos primeiros dias, Maria fez pouco mais do que dormir, caminhar pela areia branca e deixar que o sol beijasse sua pele, tentando derreter o gelo que se instalara em suas veias. Ela era apenas uma mulher, sem sobrenome, sem um contrato amarrado à alma.Na terceira noite, a dona da pequena e charmosa pousada onde estava hospedada lhe falou sobre o Festival da Maré Escondida, uma tradição local. A lenda contava que, uma vez por ano, os espíritos do mar subiam à terra, seus rostos ocultos por máscaras para não ofuscar os mortais, e dançavam com os moradores da ilha para garantir um ano de boa pesca e sorte."Todos usam máscaras, senhora", disse a mulher, os olhos brilhando. "É a noite em que vo
A festa de casamento foi um espetáculo grandioso e oco. Em meio ao salão de baile adornado com milhares de rosas brancas e cristais que gotejavam luz, Maria e Calleb moviam-se como as figuras de uma caixa de música. Eles dançaram, sorriram, ergueram taças a brindes vazios e aceitaram os parabéns de centenas de convidados cujos rostos se mesclavam em um borrão de sorrisos forçados. Eram os protagonistas de uma peça, sim, mas também eram marionetes, seus fios firmemente presos às mãos de suas famílias e às expectativas da sociedade.Cada toque era coreografado, cada palavra, ensaiada. Quando seu pai, radiante, os elogiou por "finalmente encontrarem o caminho um para o outro", Maria sentiu a amarga ironia daquelas palavras. Calleb, ao seu lado, apenas sorriu, o sorriso de um homem que vendia uma mentira que ele mesmo havia comprado. Eles não eram um casal. Eram o símbolo mais caro e bem-sucedido de uma fusão empresarial.Quando finalmente chegou a hora de partir, sob uma chuva de péta
O dia do casamento amanheceu como uma pintura a óleo de um céu de inverno – tons de cinza, branco e uma luz pálida que prometia chuva, mas se continha. No quarto principal da mansão Maliki, o silêncio era tão pesado quanto o brocado do vestido de noiva pendurado diante do espelho.Maria estava sentada, já maquiada e penteada, uma estátua de porcelana fria. Lúcia movia-se ao seu redor, ajustando um detalhe aqui, oferecendo uma taça de champanhe ali, mas o usual bom humor da amiga havia sido substituído por uma preocupação sombria. Elas mal conversavam. Não havia nada a ser dito.Fazia duas semanas desde o incidente na boutique. Duas semanas de um silêncio glacial. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação. A frágil ponte que eles haviam construído sobre o abismo de dez anos havia desabado com o peso de uma única cena, perfeitamente orquestrada por Helena. A aliança estava morta. A caçada, cancelada.Maria se sentia esgotada. A esperança que havia brotado em seu peito provou ser a mais crue
A aliança deles era uma arma secreta, e nos dias que se seguiram, Maria e Calleb aprenderam a manejá-la com uma precisão perigosa. Em público, eram o epítome do romance, suas performances tão convincentes que até mesmo seus pais, os arquitetos do acordo, começaram a acreditar que um afeto genuíno havia florescido. Em particular, eram generais planejando uma campanha, trocando informações, investigando velhos contatos e montando o quebra-cabeça da traição de Helena.Pela primeira vez em dez anos, Maria sentiu um vislumbre de esperança. A dor ainda existia, mas agora estava canalizada em um propósito. E, para sua surpresa, trabalhar com Calleb, ver o remorso genuíno em seus olhos e sua dedicação em expor a verdade, começou a dissolver algumas das camadas mais duras de seu ressentimento.O plano para a tarde de quarta-feira era simples. Maria iria a uma das boutiques mais exclusivas da cidade para uma prova de vestido para um dos jantares de noivado. Calleb a encontraria lá mais tarde
Último capítulo