Calleb sentia como se estivesse se afogando em champanhe e sorrisos falsos. Ao seu lado, Maria era a personificação da graça. Ela flutuava pelo salão, cumprimentando magnatas e socialites com uma familiaridade que ele havia esquecido que ela possuía. Ela não estava se escondendo ou se fazendo de vítima. Estava brilhando. E isso o irritava profundamente porque não se encaixava na imagem que Helena havia pintado.
Ele a observava de canto de olho enquanto conversava com um banqueiro. O modo como a luz dos lustres se refletia em seu cabelo escuro, o jeito como ela inclinava a cabeça ao ouvir, o riso contido e elegante. Era uma performance, ele dizia a si mesmo. Uma armadilha. Mas era uma performance impecável.
"Ela parece feliz." A voz de Gabriel o tirou de seus pensamentos. Seu amigo o observava com um olhar analítico. "E você parece estar em um velório."
"É tudo uma farsa, Gabriel, e você sabe disso", retrucou Calleb, ríspido.
"Toda a alta sociedade é uma farsa, Calleb. A questão é escolher qual mentira você quer viver", disse Gabriel, antes de se afastar para cumprimentar alguém, deixando a frase pairando no ar.
Foi então que Calleb a viu. Helena havia chegado. Ela não estava de vermelho-fogo, mas de um branco puro, quase angelical. Uma escolha deliberada e genial. A virgem e a cortesã. Ela estava com um grupo de pessoas do outro lado do salão, mas seus olhos encontraram os de Calleb, oferecendo um sorriso que era ao mesmo tempo solidário e possessivo. Eu estou aqui por você.
Naquele momento, o mestre de cerimônias anunciou o início da valsa de abertura, tradicionalmente dançada pelos casais de honra do evento. Os holofotes se voltaram para eles. Não havia escapatória.
Calleb se aproximou de Maria, estendendo a mão. "Me concede a honra?", ele perguntou, a formalidade azeda em sua boca.
"A honra é toda minha, noivo", ela respondeu, a ironia dançando em seus olhos.
Quando ele a puxou para a pista de dança, o mundo pareceu desaparecer. Sua mão na cintura dela, a dela em seu ombro. Eram movimentos que seus corpos conheciam das aulas de dança da infância, uma memória muscular que a mente tentava rejeitar. Por três minutos, eles eram apenas um casal em uma pista de dança, movendo-se ao som da orquestra.
"Helena chegou", ele disse, a voz baixa, perto do ouvido dela. Era um teste. Uma provocação.
Maria não vacilou. Seu olhar permaneceu fixo no dele. "Eu vi. O branco lhe cai bem. A cor da inocência." A doçura em sua voz era mais afiada que uma lâmina.
A resposta o desarmou. Ele esperava ciúme, raiva. Não aquela calma cortante. Sua mão apertou a cintura dela instintivamente.
"O que você está tentando provar, Maria?", ele sussurrou, a frustração vazando em sua voz.
Seu sorriso não vacilou, mas seus olhos escureceram com uma dor antiga, uma vulnerabilidade que ele não via há anos. Foi um vislumbre, um segundo, mas o atingiu como um raio.
"Provar? Eu não preciso provar nada", ela disse, a voz agora um sopro frágil, despida de toda a armadura. "Eu só estou tentando sobreviver a este acordo que você aceitou tão facilmente."
A música terminou. Eles se separaram, e a máscara de Maria voltou ao lugar. Mas a rachadura havia sido exposta. Calleb ficou parado no meio da pista, aplausos soando ao seu redor, enquanto a observava se afastar. Pela primeira vez em dez anos, uma semente de dúvida venenosa começou a brotar em sua mente: e se a mentira que ele estava vivendo não fosse a dela?