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Capítulo 5: A Cor da Batalha

​O sábado do gala chegou com um céu cinzento e um vento cortante que parecia sussurrar segredos pelas ruas de Komodo. No seu closet, que mais parecia uma boutique de luxo, Maria ignorou os vestidos em tons pastéis e neutros que sua mãe havia sugerido. Aqueles eram vestidos de noiva, de herdeira dócil. Ela não era nenhuma das duas coisas esta noite.

​Sua mão parou em um vestido que ela nunca tivera coragem de usar. Era de um vermelho profundo, quase da cor de vinho, um tom ousado e desafiador. O tecido de seda líquida se moldava ao corpo sem ser vulgar, com um decote elegante e costas nuas que eram uma declaração de independência. Não era o vestido de uma Maliki. Era o vestido de Maria.

​"Uau." Lúcia assobiou da porta, segurando duas taças de champanhe. "Você não vai para um gala. Vai para uma coroação."

​"Ou uma execução", respondeu Maria, um sorriso tenso nos lábios enquanto aceitava a taça. "Depende do ponto de vista."

​"Então, qual é o plano, general?", perguntou Lúcia, observando a amiga se maquiar com precisão militar. Um delineado afiado, um batom no mesmo tom do vestido. Armadura.

​"O plano é simples. Helena disse a ele que eu me faria de vítima, de mártir. Eu serei o oposto. Serei graciosa, confiante, intocável. Serei a noiva que qualquer homem sonharia em ter e que ele, por algum motivo trágico, despreza. A narrativa não será sobre o ódio dele por mim, mas sobre a confusão de todos os outros: 'Por que um homem em sã consciência trataria uma mulher como ela com tanta frieza?'"

​Quando a campainha tocou, o coração de Maria deu um salto, mas sua expressão permaneceu serena. Era Calleb. Parado no hall de entrada de sua casa, ele parecia saído de uma revista de moda, o smoking preto impecável. Seus olhos percorreram o vestido dela, e pela primeira vez, ela viu uma fissura em sua máscara de indiferença. Uma faísca de surpresa, talvez até de admiração relutante, antes de ser apagada.

​"Vermelho", ele disse, a voz neutra. "Ousado."

​"É apenas uma cor, Calleb", ela respondeu, a voz suave, enquanto pegava o braço que ele oferecia por pura formalidade. O toque era elétrico, um choque que ambos sentiram, mas ignoraram. "Vamos? Não queremos nos atrasar para o nosso espetáculo."

​O caminho até o Instituto Komodo foi feito em um silêncio pesado. Ao chegarem, foram recebidos por uma muralha de flashes. As câmeras disparavam incessantemente. Maria ergueu o queixo, abriu o sorriso mais luminoso que conseguiu forjar e olhou para Calleb com uma adoração ensaiada que fez seu estômago revirar.

​Ele, por sua vez, cumpriu seu papel. A mão firme em suas costas, o aceno de cabeça para os fotógrafos. Mas Maria sentiu a rigidez em seus músculos, a tensão em sua mandíbula. Ele estava desconfortável. O roteiro dele era odiá-la em silêncio, mas o figurino dela havia mudado a peça. Ela não era a vilã patética que ele esperava. Ela era a protagonista, e ele parecia ter esquecido suas falas.

​Enquanto entravam no salão dourado, sob o olhar de centenas de convidados, Maria ouviu os sussurros. "Eles formam um casal deslumbrante", dizia uma senhora. "Olhe para ela, ele é um homem de sorte", comentava outra.

​A primeira parte do plano estava funcionando. Ela era a noiva dos sonhos. Agora, só precisava sobreviver à noite.

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