O sábado do gala chegou com um céu cinzento e um vento cortante que parecia sussurrar segredos pelas ruas de Komodo. No seu closet, que mais parecia uma boutique de luxo, Maria ignorou os vestidos em tons pastéis e neutros que sua mãe havia sugerido. Aqueles eram vestidos de noiva, de herdeira dócil. Ela não era nenhuma das duas coisas esta noite.
Sua mão parou em um vestido que ela nunca tivera coragem de usar. Era de um vermelho profundo, quase da cor de vinho, um tom ousado e desafiador. O tecido de seda líquida se moldava ao corpo sem ser vulgar, com um decote elegante e costas nuas que eram uma declaração de independência. Não era o vestido de uma Maliki. Era o vestido de Maria.
"Uau." Lúcia assobiou da porta, segurando duas taças de champanhe. "Você não vai para um gala. Vai para uma coroação."
"Ou uma execução", respondeu Maria, um sorriso tenso nos lábios enquanto aceitava a taça. "Depende do ponto de vista."
"Então, qual é o plano, general?", perguntou Lúcia, observando a amiga se maquiar com precisão militar. Um delineado afiado, um batom no mesmo tom do vestido. Armadura.
"O plano é simples. Helena disse a ele que eu me faria de vítima, de mártir. Eu serei o oposto. Serei graciosa, confiante, intocável. Serei a noiva que qualquer homem sonharia em ter e que ele, por algum motivo trágico, despreza. A narrativa não será sobre o ódio dele por mim, mas sobre a confusão de todos os outros: 'Por que um homem em sã consciência trataria uma mulher como ela com tanta frieza?'"
Quando a campainha tocou, o coração de Maria deu um salto, mas sua expressão permaneceu serena. Era Calleb. Parado no hall de entrada de sua casa, ele parecia saído de uma revista de moda, o smoking preto impecável. Seus olhos percorreram o vestido dela, e pela primeira vez, ela viu uma fissura em sua máscara de indiferença. Uma faísca de surpresa, talvez até de admiração relutante, antes de ser apagada.
"Vermelho", ele disse, a voz neutra. "Ousado."
"É apenas uma cor, Calleb", ela respondeu, a voz suave, enquanto pegava o braço que ele oferecia por pura formalidade. O toque era elétrico, um choque que ambos sentiram, mas ignoraram. "Vamos? Não queremos nos atrasar para o nosso espetáculo."
O caminho até o Instituto Komodo foi feito em um silêncio pesado. Ao chegarem, foram recebidos por uma muralha de flashes. As câmeras disparavam incessantemente. Maria ergueu o queixo, abriu o sorriso mais luminoso que conseguiu forjar e olhou para Calleb com uma adoração ensaiada que fez seu estômago revirar.
Ele, por sua vez, cumpriu seu papel. A mão firme em suas costas, o aceno de cabeça para os fotógrafos. Mas Maria sentiu a rigidez em seus músculos, a tensão em sua mandíbula. Ele estava desconfortável. O roteiro dele era odiá-la em silêncio, mas o figurino dela havia mudado a peça. Ela não era a vilã patética que ele esperava. Ela era a protagonista, e ele parecia ter esquecido suas falas.
Enquanto entravam no salão dourado, sob o olhar de centenas de convidados, Maria ouviu os sussurros. "Eles formam um casal deslumbrante", dizia uma senhora. "Olhe para ela, ele é um homem de sorte", comentava outra.
A primeira parte do plano estava funcionando. Ela era a noiva dos sonhos. Agora, só precisava sobreviver à noite.