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Capítulo 2: Ecos de uma Mentira ​

O couro gelado do volante do seu carro era um conforto familiar sob os dedos de Calleb. Ele apertou-o com força, os nós dos dedos ficando brancos, enquanto observava a fachada da Viena Confeitaria pelo retrovisor. A figura de Maria, ainda sentada à mesa, era um borrão elegante contra a luz quente do interior do estabelecimento. Um nó de frustração e algo mais, algo que ele se recusava a nomear, apertou sua garganta.

​"É a única forma de não ser enganado."

​As palavras que ele jogou nela ecoavam em sua mente. Foram cruéis, ele sabia, mas eram sua única defesa. Uma muralha construída com as verdades de Helena, tijolo por tijolo, ao longo dos anos. “Ela ri de você pelas costas, Calleb. Ela disse que você era ingênuo por acreditar que um dia poderiam ser algo mais do que vizinhos de berço.” A voz de Helena, doce e preocupada, era um veneno que ele bebera de bom grado na adolescência.

​Seu celular vibrou no console. O nome "Helena" brilhava na tela. Ele atendeu, a tensão em seus ombros diminuindo um pouco ao ouvir a voz dela.

​-Meu amor, como foi?-, ela perguntou, um tom aveludado de carinho e preocupação.

-Como esperado. Frio. Contratual-, ele respondeu, manobrando o carro para longe da calçada.

-Ela não mudou nada.-

​-Eu te avisei, querido. A Maria só se importa com o nome e o status. Ela fará o que for preciso pelo império dos Maliki.- Havia uma pausa.

-Você está bem? A voz parece tensa.-

​-Estou bem. Só quero acabar logo com isso-, mentiu.

​Ele desligou e dirigiu sem rumo pelas ruas elegantes de Komodo, a chuva batendo forte no para-brisa. Meia hora depois, ele entrou no bar de luz baixa que era seu refúgio. Gabriel e Sérgio já estavam em uma mesa nos fundos, um copo de uísque esperando por ele.

​-Pela sua cara, o primeiro encontro do casal do ano foi um sucesso-, disse Gabriel, seu tom irônico, mas seus olhos mostravam uma preocupação genuína. Gabriel, o eterno observador, sempre pareceu guardar uma opinião sobre Maria que ele nunca verbalizava completamente.

-Foi uma transação comercial. Assinamos a primeira cláusula-, Calleb respondeu, virando o uísque de uma só vez. O líquido queimou sua garganta.

​Sérgio, sempre mais pragmático, deu de ombros.

-Pense pelo lado bom. Em breve, a fusão das empresas estará garantida e seu pai vai sair do seu pé. Depois, você e Helena podem... dar um jeito.-

​O olhar de Sérgio se perdeu por um instante, e Calleb sabia onde ele estava. No mundo onde Helena talvez o notasse. Era um segredo aberto entre eles, o amor não correspondido de Sérgio.

​-Não é tão simples-, disse Gabriel, encarando Calleb.

-Você vai se casar com ela, Calleb. Dividir uma casa, uma vida. Tem certeza de que o ódio que você sente é real? Ou é só... mais fácil do que admitir outras coisas?-

​A pergunta pairou no ar, pesada e incômoda. Calleb sentiu a antiga raiva ferver. A raiva que Helena o ensinara a sentir.

-Eu sei o que eu vi. Eu sei o que ela fez.-

​-Será?-, Gabriel insistiu, mais baixo. -Éramos adolescentes. As coisas nem sempre são o que parecem.-

​Calleb não respondeu. Ele apenas fez um sinal para o garçom, pedindo outra dose. Ele olhou para a chuva lá fora, mas em sua mente, viu novamente os olhos de Maria. Havia mágoa neles, sim. Mas por baixo da fachada de gelo, por um único e fugaz segundo, ele jurou ter visto a mesma dor que sentia. A mesma saudade de um tempo que as mentiras haviam roubado deles.

​Ele balançou a cabeça, afastando o pensamento. Estava preso. Preso entre um ódio que aprendeu a cultivar e um amor antigo que se recusava a morrer completamente.

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