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Capítulo 7: Sementes da Dúvida

​O aplauso pareceu distante, um som abafado debaixo d'água. Calleb observava as costas de Maria enquanto ela se afastava, elegante e composta, como se os três minutos de valsa não tivessem arrancado uma confissão velada de sua alma. "...sobreviver a este acordo que você aceitou tão facilmente." A frase ecoava em sua mente, colidindo violentamente com a narrativa que ele sustentava há uma década.

​Ele precisava de ar. Com um aceno de cabeça brusco para um conhecido, ele se desviou da multidão e caminhou com passos firmes em direção às portas de vidro que levavam a um terraço. O ar frio da noite o atingiu, um alívio bem-vindo para a confusão que fervia em seu peito. Ele afrouxou o nó da gravata borboleta, apoiando as mãos na balaustrada de pedra fria e olhando para as luzes da cidade abaixo.

​Passos leves soaram atrás dele. O perfume de lírios. Helena.

​"Meu amor, você está bem?", ela disse, a voz um bálsamo de preocupação. Ela deslizou um braço em volta do dele, encostando a cabeça em seu ombro. "Eu vi a dança. Ela é boa. Sabe exatamente como parecer frágil."

​Calleb não respondeu imediatamente. Ele olhou para o rosto dela, iluminado pela luz fraca que vinha do salão. Pela primeira vez, ele não viu apenas a mulher que amava, mas a arquiteta de seu ódio. A voz dela, que sempre fora seu porto seguro, agora soava... ensaiada.

​"Ela disse algo", ele admitiu, a voz mais rouca do que pretendia.

​"Claro que disse", Helena respondeu, um traço de impaciência em seu tom. "É o que ela faz. Ela planta pequenas sementes de dúvida, se faz de vítima para que você se sinta o culpado. É o mesmo jogo que ela jogou conosco anos atrás. Não se deixe enganar."

​Mas a semente já havia sido plantada, e não por Maria. Foi a expressão nos olhos dela. Dor. Genuína e inconfundível.

​"Acho que preciso de uma bebida." A voz de Gabriel soou ao lado deles, fazendo Helena se sobressaltar. Ele segurava dois copos de uísque. Ofereceu um a Calleb.

​"Obrigado", disse Calleb, aceitando o copo e tomando um gole generoso.

​Gabriel encostou-se na balaustrada, olhando para o casal. Seu olhar sobre Helena era educado, mas frio como o aço. "Foi uma bela noite", ele comentou, o tom casual. "O noivado parece um sucesso. Todos estão comentando sobre a noiva. Forte, elegante. Não parece o tipo que se faz de vítima."

​Helena forçou um sorriso. "Aparências enganam, Gabriel. Ninguém sabe disso melhor do que nós."

​"Tem razão", concordou Gabriel, seu olhar se fixando em Calleb. "Enganam mesmo." Ele terminou seu uísque. "Só espero que meu amigo aqui seja inteligente o suficiente para saber a diferença entre um engano e uma verdade que ele se recusa a ver." Ele deu uma batidinha no ombro de Calleb e se retirou, deixando um silêncio pesado para trás.

​Helena tentou preencher o vazio com mais palavras tranquilizadoras, mas Calleb mal a ouvia. A pergunta de Gabriel ecoava mais alto. Ele olhou para dentro do salão, para Maria, que agora conversava com seu pai. Ela ria de algo que o velho Maliki dizia, mas o riso não alcançava seus olhos. E ele viu. Não uma vilã, não uma santa, mas uma mulher desempenhando um papel, assim como ele. E pela primeira vez, ele se perguntou quem havia escrito o roteiro dela.

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