A garoa fina e persistente de Komodo era a trilha sonora perfeita para o funeral dos seus sonhos. Maria Maliki observava as gotas escorrerem pela janela panorâmica da Viena Confeitaria, cada uma traçando um caminho sinuoso, imprevisível, como sua própria vida havia se tornado. O ar condicionado mantinha o ambiente em uma temperatura agradável, mas um arrepio teimoso percorria sua espinha, um que nada tinha a ver com o clima. Era o frio da antecipação. Do pavor.
Ela ajeitou a gola de sua blusa de seda, um gesto inútil para conter a ansiedade que borbulhava em seu estômago. Este era o primeiro dos três encontros. Três atos de uma peça macabra que terminaria com um "sim" diante de um juiz e centenas de convidados. Um casamento. Uma sentença.
A porta da confeitaria se abriu, e um sopro de ar gelado entrou junto com ele. Calleb.
Ele não era mais o garoto de sorriso fácil que um dia assombrou seus pensamentos na adolescência. O tempo e, ela suspeitava, a influência de Helena, o haviam esculpido em uma estátua de frieza e elegância. O terno escuro, cortado sob medida, parecia uma armadura. Seus passos eram firmes, decididos, enquanto ele atravessava o salão, ignorando os olhares curiosos. Seus olhos, de um castanho profundo que ela conhecia tão bem, encontraram os dela, e a temperatura pareceu cair mais ainda.
-Maria. Ele a cumprimentou, a voz grave e desprovida de qualquer calor. Não era um chamado, era uma constatação.
-Calleb. Sente-se. Sua própria voz saiu mais firme do que esperava. Anos de treinamento para ser a herdeira perfeita dos Maliki serviam para alguma coisa, afinal.
Ele se sentou na cadeira à sua frente, o movimento fluido e controlado. Um garçom se aproximou, mas Calleb o dispensou com um gesto sutil. Eles não estavam ali para trivialidades.
-Pontualidade é uma virtude, ele disse, seus olhos varrendo o rosto dela, como se procurasse por uma rachadura em sua fachada.
-Pelo menos nisso concordamos.
Maria sentiu a farpa naquelas palavras. Uma alusão a todas as coisas nas quais eles supostamente discordavam, um abismo cavado por anos de mentiras que ela nunca conseguiu transpor.
-Acredito que eficiência seja mais importante. Não vamos desperdiçar o tempo um do outro, vamos?-
Um lampejo de algo que poderia ser surpresa ou irritação brilhou nos olhos dele antes de ser extinto.
-Direto ao ponto. Outra virtude.- Ele se inclinou para a frente, as mãos se unindo sobre a mesa.
-Nossos pais nos deram as diretrizes. Três encontros para manter as aparências. O noivado será anunciado na próxima semana. O casamento em três meses.-
Cada palavra era um prego sendo martelado em seu caixão. O amor que ela ainda sentia por ele, uma brasa teimosa e estúpida em seu peito, se contorceu de dor. Como ele podia falar sobre o fim de suas vidas com a mesma indiferença com que se discute um balanço financeiro?
-Parece que você já leu todos os termos do contrato-, ela respondeu, a voz tingida de um sarcasmo gelado.
O canto da boca dele se curvou em um sorriso que não alcançou os olhos.
-Eu sempre leio as letras miúdas, Maria. É a única forma de não ser enganado.- A acusação era clara, um golpe direto no peito dela. Ele ainda acreditava nas manipulações de Helena. Ainda a via como a vilã.
Maria respirou fundo, o aroma de café e cardamomo no ar de repente se tornando enjoativo. Ela ergueu o queixo, sustentando o olhar dele, recusando-se a ser a primeira a desviar. Se era uma guerra que ele queria, uma guerra ele teria. Mas por baixo da armadura, seu coração sangrava, lamentando o garoto que se perdeu e o amor que nunca teve a chance de florescer.
-Então, consideremos este primeiro encontro concluído-, disse Calleb, levantando-se. -Cumpri minha parte do acordo por hoje.-
Ele se virou e caminhou em direção à saída, deixando-a sozinha com a conta, o silêncio e o eco de uma promessa quebrada há muito tempo. Lá fora, a garoa de Komodo havia se transformado em chuva, lavando a cidade com a sua melancolia.