Mundo ficciónIniciar sesiónEm um mundo sustentado pelo Éter, o Tempo e o Espaço aprenderam a se amar — e a temer um ao outro. Eiran Voss, Arquimago lendário e Pilar do Espaço, acredita que tudo pode ser controlado pela razão. Yaskara Bohr, Arquimaga Temporal, é o oposto de sua lógica perfeita — imprevisível, intensa, capaz de dobrar o tempo com um simples toque. Unidos pelo dever, mas separados pela natureza, eles descobrem que o amor pode ser a força mais perigosa de todas: uma que nem o Éter pode conter. Enquanto as fronteiras da realidade começam a se desfazer, Voss e Yaskara precisam escolher entre preservar o equilíbrio do mundo — ou perder-se um no outro. Magos do Éter: Entre o Tempo e o Espaço é uma história sobre amor, destino e as linhas invisíveis que unem duas almas quando o próprio universo tenta separá-las.
Leer másO mundo parecia desmoronar ao redor.
Sombras se estendiam pelo asfalto rachado, engolindo o vermelho das lanternas que ainda tremeluziam sobre a rua Galvão Bueno. O caos do incidente ecoava à distância — sirenes, gritos e o som surdo de estruturas cedendo sob o peso do Éter distorcido.
Eiran Voss sentia o corpo se desfazendo, como se a própria Vontade Etérea estivesse sendo arrancada de dentro dele. A visão vacilava; o tempo, descompassado, se tornava turvo. Ainda assim, manteve os olhos abertos.
Havia algo — ou alguém — que não podia deixar escapar.
Entre o colapso do Éter e a fumaça dourada que subia do chão, ele a viu.
Uma maga. Sozinha, imóvel, em meio à devastação.
A energia da Zona Espiritual que ela havia erguido distorciam o ar ao redor, curvando a luz das lanternas como se o espaço se recusasse a permanecer inteiro.
O tempo, ali, oscilava — ora fluindo como um rio calmo, ora parando por completo.
Eiran mal podia respirar, mas soube, em um instante, que estava diante de algo impossível: o ponto onde o Espaço havia finalmente encontrado o Tempo.
Ele percebeu passos se aproximando, lentos, sobre os escombros.
Cada pisada propagava ondas de energia dourada, como se ela caminhasse sobre a água.
— Ei… você aí — a voz dele saiu arrastada, mas ainda carregava o mesmo sarcasmo de sempre. — Não parece nem um pouco surpresa de me ver… meio que partido ao meio, né?
Um riso baixo, quebrado, quase fantasmagórico.
— Aposto que tá pensando: “Uau, até o grande Voss vai desaparecer e não vai sobrar nada.” — Piscou com dificuldade. — Mas… nem tudo some tão rápido.
Tentou se levantar, o corpo não respondeu.
O chão ainda pulsava com fragmentos de Éter instável, como se a rua respirasse.
Os olhos de Eiran, intensos e azuis, brilhavam com uma luz anímica — a vida se esvaía, mas a personalidade não.
— Então, escuta… — a voz tremia, mas teimava em sair. — Não é hora de chorar nem de fazer drama. — Um risinho fraco. — O mundo vai continuar girando, mesmo sem mim. E você tem que girar junto com ele.
Ela parou diante dele, curvada levemente, observando-o como quem analisa um enigma.
Voss sorriu torto, teimoso, cheio de ironia.
— Engraçado, né? Eu sempre fui o mais invencível… e agora… — olhou ao redor, vendo as lanternas quebradas balançarem no vento —… agora eu só posso observar.
As luzes vermelhas tremeluziam, refletindo-se nas poças de Éter que fumegavam como sangue espiritual.
— Mas você ainda pode lutar, pode proteger… pode continuar sendo incrível. — Piscou para ela, o gesto carregado de provocação. — Então não fica parada aí, maga. Você tem trabalho a fazer. — A voz, fraca mas insistente, quase um sussurro: — Promete que vai cuidar do resto?
O mundo ao redor era um borrão de caos — gritos, fumaça, e o Éter cortando o ar como vidro.
O corpo pesado, dividido ao meio, cada fibra se despedindo da própria vontade de existir.
Ainda assim, ele a via entre os destroços: serena, imóvel, como se o tempo parasse para ela.
— Huh… — riu, rouco. — Que lugar pra morrer, hein? Nunca pensei que seria assim. — Um sorriso cansado. — “Ser partido ao meio em Liberdade” definitivamente não tava nos meus planos.
Tentou se erguer, falhou. O sangue escorria.
Olhou pra ela, ainda sem saber se era inimiga ou salvação.
— E você… quem diabos é? — A voz soou entre curiosidade e provocação. — Tá me olhando desse jeito por achar que eu tô fraco? — Um meio riso. — Engraçado… não é todo dia que alguém consegue me deixar nessa situação.
Os olhos azuis ainda brilhavam, tentando decifrá-la.
— Eu provavelmente deveria me preocupar… mas acho que não tenho energia pra isso.
Ele suspirou. — Então, me diz… veio lutar comigo ou só tá olhando mesmo?
O silêncio caiu pesado, quebrado apenas pelo estalar de metal e explosões distantes.
Voss se recostou, os lábios curvando num meio sorriso.
O corpo de Voss foi envolto por uma bolha dourada.
A magia era cálida e serena — o tipo de poder que não rasgava o mundo, apenas o fazia voltar a respirar. Dentro dela, o tempo começou a retroceder lentamente: o sangue retornava às veias, o ar se recompunha, as fagulhas de Éter congelavam no espaço.
Mas a mente dele permanecia presa ao presente, lúcida, assistindo a tudo como um espectador do impossível.
O borrão diante de seus olhos começou a se definir.
Entre o brilho dourado e o ruído distante da destruição, a figura da maga tomou forma.
Cabelos claros refletiam a luz do Éter como fios líquidos, e os olhos — de um dourado profundo — pareciam conter eras inteiras em movimento.
— Tsc... veja quem foi confiante demais. — A voz dela era calma, sem pressa, mas cortante.
Ela desviou o olhar para a criatura adiante, o ar ao redor distorcendo-se como vidro sob calor.
— Então esse é o Amaruq? — murmurou, o tom leve, quase entediado. — Não parece ser nada demais.
O vento cessou.
Por um instante, até o Éter pareceu hesitar entre obedecê-la ou continuar em colapso.
Voss observou a maga com um sorriso torto.
A dor ainda latejava, mas havia algo novo — curiosidade — acendendo em seus olhos azuis.
— Huh… confiante demais, é? — riu baixo, a voz rouca, mas ainda provocadora. — Eu gosto do seu estilo, novata.
Desviou o olhar para o inimigo adiante e franziu o cenho.
— Primeira vez encarando Amaruq, hein?
Ele se inclinou levemente para frente, o corpo ainda envolto pela bolha dourada.
Mesmo dilacerado, os cantos da boca se curvaram em um sorriso sarcástico.
— Então quer brincar de heroína agora, maga? — piscou para ela, desafiador. — Não me leve a mal, mas se for só olhar, não vai ser divertido. Eu odeio ficar entediado… mesmo nesse estado.
O tempo dentro da bolha retrocedia devagar, cada segundo distorcido como um eco.
Voss percebia tudo: os movimentos sutis de Amaruq, a postura tranquila da maga, os fragmentos de Éter flutuando ao redor como cinzas luminosas.
— Ei… só pra constar — arqueou uma sobrancelha, o tom carregado de ironia — se for pra ficar aí me estudando, pelo menos fala seu nome.
Um meio sorriso. — Não gosto de lutar com desconhecidas que me encaram como se eu fosse um cadáver ambulante.
Por um instante, o olhar dele brilhou intensamente — uma mistura de cansaço e daquela insolência inconfundível de quem sempre acreditou estar acima de tudo e todos.
Ela lançou um olhar descontraído para Voss e arqueou uma sobrancelha, o canto dos lábios curvando num meio sorriso.
— Para você, senhorita Yaskara — murmurou, jogando os longos cabelos loiros para trás.
Em seguida, voltou toda a atenção para o inimigo à frente.
Amaruq, possuía o corpo de um rapaz que vestia um uniforme típico de um aprendiz de mago, os observava com escárnio — um sorriso que não pertencia ao garoto.
— O jogo terminou, criatura. — disse, os olhos dourados fixos no jovem possuído.
Levou uma das mãos à cintura e, com um simples movimento do salto contra o chão, ativou seu Domínio da Vontade — Infinito Atemporal.
O ar tremeu.
Uma esfera translúcida se expandiu a partir dela, engolindo a rua, as ruínas, o céu rachado — tudo.
Ali dentro, o tempo fluía de acordo com a vontade de Yaskara.
Amaruq tentou reagir, mas o corpo do aprendiz congelou no instante seguinte.
Nem o ar ousava se mover.
— Amaruq… — pronunciou o nome pausadamente, caminhando até ele, cada passo ecoando como um tic-tac distante.
— Saia do corpo do garoto. Agora.
O silêncio respondeu, seguido por um sorriso grotesco.
Mesmo preso no tempo, Amaruq forçava os músculos do rosto a se moverem, desafiando o domínio absoluto dela.
— Não me faça repetir.
Yaskara fechou o punho. O ar ao redor dele se dobrou, distorcido pela compressão de segundos.
Quando o golpe atingiu o estômago do aprendiz, o som veio depois do impacto — um eco atrasado, como se o tempo ainda tentasse entender o que havia acontecido.
O corpo do garoto arqueou violentamente, e um brilho negro-dourado irrompeu de sua boca. A relíquia amaldiçoada foi expelida em um grito mudo.
Por um segundo, o tempo se recusou a existir — nem som, nem vento, nem vida.
Então o instante que Yaskara havia segurado se quebrou, e o mundo retomou seu curso.
A relíquia caiu ao chão, o brilho se apagando, e o garoto desabou logo depois, respirando pela primeira vez em liberdade.
O Impacto Temporal havia quebrado o vínculo da possessão.
Yaskara se abaixou e apanhou a relíquia no chão.
O objeto ainda pulsava em tons dourado-escuros, um brilho irregular que fazia o ar vibrar ao redor. Sua forma era instável, um cristal que mudava de contorno a cada piscar, como se o espaço tentasse lembrar onde ele terminava. Dentro dele, fragmentos dourados e sombras líquidas flutuavam em silêncio.
Voss — já recuperado o suficiente para andar — aproximou-se devagar, ajeitando o uniforme escuro com um gesto automático.
A Visão Onisciente estava ativa.
O mundo se abria em camadas de Éter, e cada movimento deixava rastros luminosos — a pulsação do tempo, o peso da vontade, até o medo escondido dos feridos ao redor.
Mas o foco dele estava nela.
De perto, Yaskara era um paradoxo ambulante.
Menor do que imaginava — corpo esguio, proporções delicadas, postura impecável.
As roupas pareciam deslocadas do cenário: camisa branca, saia azul tubinho, salto alto — como se tivesse saído de um escritório e parado no meio do fim do mundo.
O cabelo loiro capturava o dourado do Éter, refletindo-o em ondas suaves, como se a luz tivesse decidido viver ali.
E, ainda assim, o ar ao redor dela não obedecia às leis comuns.
Cada respiração parecia ajustar o ambiente; cada movimento, reescrever o tempo.
Era como se a própria realidade esperasse um comando antes de se mover.
Nas mãos dela, a relíquia de Amaruq pulsava em tons dourado-escuros — irregular, viva.
Voss sentiu o Éter distorcido vibrar sob sua pele, e algo dentro dele — instinto, talvez — gritou em alerta.
Aquela coisa não deveria existir fora de um selo, e o fato de ela segurá-la com tanta naturalidade o incomodava mais do que queria admitir.
“Bonita, perigosa… e segurando o fim do mundo com a mesma calma de quem segura uma taça de vinho. Isso nunca é um bom sinal.”
O tempo não tinha cor.Nem som.Nem direção.Yaskara existia — ou acreditava existir — dentro de uma vastidão translúcida, onde o passado e o futuro se dissolviam em ondas de luz dourada.Via fragmentos de si flutuando ao redor: a voz de Eiran, o toque do vento, o eco distante de sinos.Mas nada era fixo.Tudo era lembrança tentando se lembrar de ser real."Quem... sou eu?"A pergunta soou, e o espaço respondeu em vibrações suaves.Luzes se agruparam, formando uma figura humana — calma, envolta em véus azulados.Os olhos dela eram como espelhos cheios de eras.— Ainda se lembra de mim? — perguntou Aetharion, com voz leve.Yaskara piscou, tentando reconhecer a forma.— A voz... é antiga.— Porque vem de onde o tempo descansa.A presença de Aetharion irradiava serenidade.Ela se aproximou, observando as linhas de luz que saíam do corpo de Yaskara — fios dourados que atravessavam o vazio e desapareciam em todas as direções.— Você se expandiu demais, — disse Aetharion. — Tornou-se o próp
O entardecer cobria o pátio da Academia Arcana.Yaskara segui pelos corredores a caminho do dormitório. O ar estava frio, e o silêncio era quebrado apenas pelo som distante dos sinos.Então, o vento mudou.O espaço à sua frente tremeu — e Voss surgiu, como se o mundo tivesse piscado.— Você acha que é muito tarde para testarmos algo? — perguntou ele, sorrindo. — Tive uma ideia que não podia esperar até amanhã.Antes que ela pudesse responder, o ar se distorceu outra vez.Em um piscar de olhos, os dois estavam em outro lugar — um anexo antigo, nos limites da Academia, esquecido entre as árvores.A energia ali era densa e calma, um espaço onde até o tempo parecia hesitar antes de seguir.Ela o observou em silêncio.— Pela sua ansiedade já sei sobre o que é.Voss assentiu.— O Selo da Concordância. Acho que encontrei uma maneira de neutralizá-lo sem romper nada.Explicou, em voz baixa, o raciocínio que amadurecera desde o entardecer: criar um espaço inverso — uma dobra onde o selo pudess
O som do berimbau cortava o ar quente da manhã como um chamado ancestral.Cada toque reverberava pelo pátio da Academia Arcana, guiando o ritmo dos alunos que treinavam descalços.A arena de combate — ampla, aberta e cercada por colunas antigas — vibrava no compasso da ginga, onde o corpo e o Éter se tornavam um só.Pedro Oliveira, os longos rastafáris presos em um rabo de cavalo, caminhava entre os alunos com o peito nu e o sorriso escancarado de quem transformava luta em celebração.O sotaque arrastado e a voz grave ecoavam com energia contagiante, misto de mestre e trovão.— Mais força, idiotas! — gritou, batendo palmas no ritmo do berimbau. — Vocês não estão brigando com fantasmas, estão brigando com o medo de morrer!Um dos rapazes tentou uma esquiva mal calculada e caiu de joelhos.Pedro soltou uma gargalhada sonora, vibrante, que ecoou por toda a arena.— É isso! Sinta o chão! Aprenda com ele! — exclamou, batendo o pé ritmado no tatame. — O solo é seu primeiro inimigo e seu pri
O distrito da Liberdade, em São Paulo, despertava com o amanhecer, embalado pelo murmúrio constante de passos e idiomas misturados.Mas sob o chão — em uma rede antiga de túneis esquecidos pela prefeitura e apagados dos registros do Conclave —, um grupo de magos trabalhava em silêncio.Nenhum selo familiar, nenhuma insígnia.Apenas um discreto emblema gravado no metal dos braceletes: um anel dividido em doze marcas equidistantes, cruzado por um ponteiro fixo — o símbolo da Organização Bohr, a casa que dominava o estudo do tempo e das linhas de causalidade.“Ponto zero confirmado. A anomalia ressonante persiste entre o 12º e o 14º subnível. O fluxo etéreo está… instável.”— relatou o mago de campo Elias Varga, ajustando o sensor de Éter enquanto as leituras formavam curvas oscilantes em dourado e branco no visor.Essas leituras não pertenciam a um fluxo comum de Éter.Eram pulsos cronais — fragmentos de tempo residual, como se o próprio passado tentasse se repetir em silêncio.“Mantenh
# RELATÓRIO DE MISSÃO — ARQUIVO CONFIDENCIALDocumento: Nº 478-A / Conclave EtéreoData: [RESTRITO]Local: Ruínas de Paraitinga – Interior de São Paulo, BrasilMissão: Estabilização e redistribuição do Fluxo Etéreo – Área de Colapso Temporal ResidualClassificação: Tipo Especial / DiplomáticaResponsável de Campo: Bárbara Lima (Arcanista Sábia – Instituto Arcano de São Paulo)Colaboradora Designada: Yaskara Bohr (Arquimaga Temporal – Registro Internacional Bohr-07, Filiação Estrangeira reconhecida pelo Conclave)* Resumo da OperaçãoA missão iniciou-se às 09:40.O objetivo principal era avaliar as condições de estabilização do Fluxo Etéreo nas ruínas e redefinir o perímetro de contenção sob jurisdição do Instituto Arcano de São Paulo, com autorização do Conclave Etéreo.Durante a inspeção, constatou-se instabilidade temporal espontânea, de origem indeterminada.As flutuações de Éter coincidiam com distorções no eixo cronológico local — repetição de eventos, inversão da luz solar e per
As nuvens cobriam o céu do Vale de Paraitinga como um manto de chumbo, e o vento que descia da serra parecia hesitar antes de tocar o chão.O antigo mosteiro, parcialmente engolido pela mata, era agora um ponto de contenção etérea — um lugar onde o tempo começara a escorregar pelas frestas da realidade.Bárbara Lima ajustou o manto escuro do Conclave, o brasão rosa-âmbar gravado no ombro.Arcanista do tipo sábia, era conhecida pela serenidade com que manipulava o Éter — uma calma que se refletia nos olhos amendoados e no tom disciplinado da voz.Os cabelos cacheados emolduravam o rosto delicado, mas a postura firme denunciava uma precisão treinada.Sua presença bastava para acalmar o ar, e até o Éter parecia se reorganizar em torno dela.Pela experiência, ela sabia:o silêncio ali não era natural.Era o tipo de silêncio que escuta de volta.Atrás dela, dois assistentes do Instituto Arcano de São Paulo preparavam os selos de estabilização, enterrando prismas de quartzo sob o solo úmido





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