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Magos do Éter - Entre o Tempo e o Espaço
Magos do Éter - Entre o Tempo e o Espaço
Por: Yaskara Bohr
Capítulo 1 — Quando o Espaço encontrou o Tempo

O mundo parecia desmoronar ao redor.

Sombras se estendiam pelo asfalto rachado, engolindo o vermelho das lanternas que ainda tremeluziam sobre a rua Galvão Bueno. O caos do incidente ecoava à distância — sirenes, gritos e o som surdo de estruturas cedendo sob o peso do Éter distorcido.

Eiran Voss sentia o corpo se desfazendo, como se a própria Vontade Etérea estivesse sendo arrancada de dentro dele.  A visão vacilava; o tempo, descompassado, se tornava turvo. Ainda assim, manteve os olhos abertos.

Havia algo — ou alguém — que não podia deixar escapar.

Entre o colapso do Éter e a fumaça dourada que subia do chão, ele a viu.

Uma maga. Sozinha, imóvel, em meio à devastação.

A energia da Zona Espiritual que ela havia erguido distorciam o ar ao redor, curvando a luz das lanternas como se o espaço se recusasse a permanecer inteiro.

O tempo, ali, oscilava — ora fluindo como um rio calmo, ora parando por completo.

Eiran mal podia respirar, mas soube, em um instante, que estava diante de algo impossível: o ponto onde o Espaço havia finalmente encontrado o Tempo.

Ele percebeu passos se aproximando, lentos, sobre os escombros.

Cada pisada propagava ondas de energia dourada, como se ela caminhasse sobre a água.

— Ei… você aí — a voz dele saiu arrastada, mas ainda carregava o mesmo sarcasmo de sempre. — Não parece nem um pouco surpresa de me ver… meio que partido ao meio, né?

Um riso baixo, quebrado, quase fantasmagórico.

— Aposto que tá pensando: “Uau, até o grande Voss vai desaparecer e não vai sobrar nada.” — Piscou com dificuldade. — Mas… nem tudo some tão rápido.

Tentou se levantar, o corpo não respondeu.

O chão ainda pulsava com fragmentos de Éter instável, como se a rua respirasse.

Os olhos de Eiran, intensos e azuis, brilhavam com uma luz anímica — a vida se esvaía, mas a personalidade não.

— Então, escuta… — a voz tremia, mas teimava em sair. — Não é hora de chorar nem de fazer drama. — Um risinho fraco. — O mundo vai continuar girando, mesmo sem mim. E você tem que girar junto com ele.

Ela parou diante dele, curvada levemente, observando-o como quem analisa um enigma.

Voss sorriu torto, teimoso, cheio de ironia.

— Engraçado, né? Eu sempre fui o mais invencível… e agora… — olhou ao redor, vendo as lanternas quebradas balançarem no vento —… agora eu só posso observar.

As luzes vermelhas tremeluziam, refletindo-se nas poças de Éter que fumegavam como sangue espiritual.

— Mas você ainda pode lutar, pode proteger… pode continuar sendo incrível. — Piscou para ela, o gesto carregado de provocação. — Então não fica parada aí, maga. Você tem trabalho a fazer. — A voz, fraca mas insistente, quase um sussurro: — Promete que vai cuidar do resto?

O mundo ao redor era um borrão de caos — gritos, fumaça, e o Éter cortando o ar como vidro.

O corpo pesado, dividido ao meio, cada fibra se despedindo da própria vontade de existir.

Ainda assim, ele a via entre os destroços: serena, imóvel, como se o tempo parasse para ela.

— Huh… — riu, rouco. — Que lugar pra morrer, hein? Nunca pensei que seria assim. — Um sorriso cansado. — “Ser partido ao meio em Liberdade” definitivamente não tava nos meus planos.

Tentou se erguer, falhou. O sangue escorria.

Olhou pra ela, ainda sem saber se era inimiga ou salvação.

— E você… quem diabos é? — A voz soou entre curiosidade e provocação. — Tá me olhando desse jeito por achar que eu tô fraco? — Um meio riso. — Engraçado… não é todo dia que alguém consegue me deixar nessa situação.

Os olhos azuis ainda brilhavam, tentando decifrá-la.

— Eu provavelmente deveria me preocupar… mas acho que não tenho energia pra isso.

Ele suspirou. — Então, me diz… veio lutar comigo ou só tá olhando mesmo?

O silêncio caiu pesado, quebrado apenas pelo estalar de metal e explosões distantes.

Voss se recostou, os lábios curvando num meio sorriso.

O corpo de Voss foi envolto por uma bolha dourada.

A magia era cálida e serena — o tipo de poder que não rasgava o mundo, apenas o fazia voltar a respirar. Dentro dela, o tempo começou a retroceder lentamente: o sangue retornava às veias, o ar se recompunha, as fagulhas de Éter congelavam no espaço.

Mas a mente dele permanecia presa ao presente, lúcida, assistindo a tudo como um espectador do impossível.

O borrão diante de seus olhos começou a se definir.

Entre o brilho dourado e o ruído distante da destruição, a figura da maga tomou forma.

Cabelos claros refletiam a luz do Éter como fios líquidos, e os olhos — de um dourado profundo — pareciam conter eras inteiras em movimento.

— Tsc... veja quem foi confiante demais. — A voz dela era calma, sem pressa, mas cortante.

Ela desviou o olhar para a criatura adiante, o ar ao redor distorcendo-se como vidro sob calor.

— Então esse é o Amaruq? — murmurou, o tom leve, quase entediado. — Não parece ser nada demais.

O vento cessou.

Por um instante, até o Éter pareceu hesitar entre obedecê-la ou continuar em colapso.

Voss observou a maga com um sorriso torto.

A dor ainda latejava, mas havia algo novo — curiosidade — acendendo em seus olhos azuis.

— Huh… confiante demais, é? — riu baixo, a voz rouca, mas ainda provocadora. — Eu gosto do seu estilo, novata.

Desviou o olhar para o inimigo adiante e franziu o cenho.

— Primeira vez encarando Amaruq, hein?

Ele se inclinou levemente para frente, o corpo ainda envolto pela bolha dourada.

Mesmo dilacerado, os cantos da boca se curvaram em um sorriso sarcástico.

— Então quer brincar de heroína agora, maga? — piscou para ela, desafiador. — Não me leve a mal, mas se for só olhar, não vai ser divertido. Eu odeio ficar entediado… mesmo nesse estado.

O tempo dentro da bolha retrocedia devagar, cada segundo distorcido como um eco.

Voss percebia tudo: os movimentos sutis de Amaruq, a postura tranquila da maga, os fragmentos de Éter flutuando ao redor como cinzas luminosas.

— Ei… só pra constar — arqueou uma sobrancelha, o tom carregado de ironia — se for pra ficar aí me estudando, pelo menos fala seu nome.

Um meio sorriso. — Não gosto de lutar com desconhecidas que me encaram como se eu fosse um cadáver ambulante.

Por um instante, o olhar dele brilhou intensamente — uma mistura de cansaço e daquela insolência inconfundível de quem sempre acreditou estar acima de tudo e todos.

Ela lançou um olhar descontraído para Voss e arqueou uma sobrancelha, o canto dos lábios curvando num meio sorriso.

— Para você, senhorita Yaskara — murmurou, jogando os longos cabelos loiros para trás.

Em seguida, voltou toda a atenção para o inimigo à frente.

Amaruq, possuía o corpo de um rapaz que vestia um uniforme típico de um aprendiz de mago, os observava com escárnio — um sorriso que não pertencia ao garoto.

— O jogo terminou, criatura. — disse, os olhos dourados fixos no jovem possuído.

Levou uma das mãos à cintura e, com um simples movimento do salto contra o chão, ativou seu Domínio da Vontade — Infinito Atemporal.

O ar tremeu.

Uma esfera translúcida se expandiu a partir dela, engolindo a rua, as ruínas, o céu rachado — tudo.

Ali dentro, o tempo fluía de acordo com a vontade de Yaskara.

Amaruq tentou reagir, mas o corpo do aprendiz congelou no instante seguinte.

Nem o ar ousava se mover.

— Amaruq… — pronunciou o nome pausadamente, caminhando até ele, cada passo ecoando como um tic-tac distante.

— Saia do corpo do garoto. Agora.

O silêncio respondeu, seguido por um sorriso grotesco.

Mesmo preso no tempo, Amaruq forçava os músculos do rosto a se moverem, desafiando o domínio absoluto dela.

— Não me faça repetir.

Yaskara fechou o punho. O ar ao redor dele se dobrou, distorcido pela compressão de segundos.

Quando o golpe atingiu o estômago do aprendiz, o som veio depois do impacto — um eco atrasado, como se o tempo ainda tentasse entender o que havia acontecido.

O corpo do garoto arqueou violentamente, e um brilho negro-dourado irrompeu de sua boca. A relíquia amaldiçoada foi expelida em um grito mudo.

Por um segundo, o tempo se recusou a existir — nem som, nem vento, nem vida.

Então o instante que Yaskara havia segurado se quebrou, e o mundo retomou seu curso.

A relíquia caiu ao chão, o brilho se apagando, e o garoto desabou logo depois, respirando pela primeira vez em liberdade.

O Impacto Temporal havia quebrado o vínculo da possessão.

Yaskara se abaixou e apanhou a relíquia no chão.

O objeto ainda pulsava em tons dourado-escuros, um brilho irregular que fazia o ar vibrar ao redor. Sua forma era instável, um cristal que mudava de contorno a cada piscar, como se o espaço tentasse lembrar onde ele terminava. Dentro dele, fragmentos dourados e sombras líquidas flutuavam em silêncio.

Voss — já recuperado o suficiente para andar — aproximou-se devagar, ajeitando o uniforme escuro com um gesto automático.

A Visão Onisciente estava ativa.

O mundo se abria em camadas de Éter, e cada movimento deixava rastros luminosos — a pulsação do tempo, o peso da vontade, até o medo escondido dos feridos ao redor.

Mas o foco dele estava nela.

De perto, Yaskara era um paradoxo ambulante.

Menor do que imaginava — corpo esguio, proporções delicadas, postura impecável.

As roupas pareciam deslocadas do cenário: camisa branca, saia azul tubinho, salto alto — como se tivesse saído de um escritório e parado no meio do fim do mundo.

O cabelo loiro capturava o dourado do Éter, refletindo-o em ondas suaves, como se a luz tivesse decidido viver ali.

E, ainda assim, o ar ao redor dela não obedecia às leis comuns.

Cada respiração parecia ajustar o ambiente; cada movimento, reescrever o tempo.

Era como se a própria realidade esperasse um comando antes de se mover.

Nas mãos dela, a relíquia de Amaruq pulsava em tons dourado-escuros — irregular, viva.

Voss sentiu o Éter distorcido vibrar sob sua pele, e algo dentro dele — instinto, talvez — gritou em alerta.

Aquela coisa não deveria existir fora de um selo, e o fato de ela segurá-la com tanta naturalidade o incomodava mais do que queria admitir.

“Bonita, perigosa… e segurando o fim do mundo com a mesma calma de quem segura uma taça de vinho. Isso nunca é um bom sinal.”

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