Mundo ficciónIniciar sesiónFlorença, 1905. Em meio ao brilho elegante da Belle Époque, casamentos não são feitos de amor, mas de alianças e interesses. Magnólia foi criada para obedecer, para sorrir nos salões e calar seus desejos. Mas um encontro inesperado a arrasta para um mundo de paixões proibidas e segredos que nenhum dote ou etiqueta é capaz de conter. Entre promessas familiares e a sedução do desconhecido, ela descobrirá que certas marcas não se apagam — gravam-se na pele, na alma… e no destino.
Leer más— Capítulo 18 —A manhã seguinte nasceu clara em Florença. O sol atravessava as cortinas da casa Altoviti com uma serenidade enganosa. À mesa do desjejum, o silêncio era mais denso que o habitual. Arthur não abriu o jornal como de costume; limitava-se a girar devagar o relógio de bolso entre os dedos, como se o tique-taque que soava fosse o compasso de seus pensamentos.Giovanna notou a diferença.— Está mais recolhido hoje, meu senhor — comentou, ajeitando uma fruta no prato, o olhar atento. — Imagino que a visita ainda lhe traga reflexos.Arthur pousou o relógio sobre a mesa, o gesto calculado, e respondeu sem pressa:— Em breve receberei Roberto Tornabuoni aqui. É hora de dar sequência às conversas.Giovanna ergueu as sobrancelhas, surpresa, mas manteve a postura rígida.— Outra vez os Tornabuoni? Não entendo como pode dar preferência a eles, mesmo com tantos nomes na mesa que poderiam ser uma boa escolha.Arthur a encarou firme.— Prudência, Giovanna, não é escolher o que brilha.
— Capítulo 17 —A carruagem dos Altoviti entrou no pátio com o ruído metálico das rodas sobre o cascalho úmido. O portão fechou-se atrás dela, e por um instante a casa pareceu conter a respiração. Giovanna desceu primeiro, recomposta, comentando em meia voz como os criados dos Tornabuoni “não sabiam mais lustrar prata como convém”. Arthur veio em seguida, sem pressa, e apenas um olhar atento perceberia que não era cansaço o que lhe vincava a fronte — era cálculo silencioso.O mordomo abriu a porta, e o vestíbulo recebeu-os com o perfume limpo da cera e o brilho das lamparinas. No alto da escadaria, Magnólia aguardava, serena como figura de tela: a postura ereta, o vestido simples de casa, e nos olhos um brilho que, para quem a conhecia, era sinal certo de perguntas.— Foram bem recebidos? — indagou ela, descendo dois degraus, como quem toca água com a ponta dos dedos.— Com a formalidade de sempre — respondeu Arthur, tirando as luvas. — Tornabuoni continua senhor de sua casa.Giovanna
— Capítulo 16 —A tarde já declinava quando a carruagem dos Altoviti atravessou os portões pesados da residência dos Tornabuoni. As grades, outrora símbolo de prestígio, rangiam ao se abrir, e o som ecoou pelo pátio silencioso como aviso de que a casa não ocultava suas cicatrizes. De longe, a fachada mantinha imponência, mas de perto o olhar mais atento revelava sinais de desgaste: brasões de pedra suavizados pelo tempo, janelas cujo vidro turvo pedia substituição, tapeçarias manchadas pela umidade visíveis atrás das vidraças. Não era apenas decadência material, mas metáfora de uma linhagem que lutava para sustentar o nome.Arthur desceu primeiro. O olhar frio percorreu cada detalhe como quem avalia não paredes, mas símbolos de poder e fraqueza. A cada rachadura, via uma oportunidade. Ao seu lado, Giovanna ergueu o queixo com altivez, como se a rigidez de sua postura fosse suficiente para compensar as falhas que os anfitriões não conseguiam esconder. Para ela, não eram apenas rachadur
— Capítulo 15 —O escritório dos Altoviti parecia mais um quartel de guerra do que um cômodo doméstico. As janelas altas deixavam entrar a claridade cinzenta da manhã, iluminando as pilhas de papéis que se acumulavam sobre a mesa maciça. O cheiro de pergaminho e de tinta fresca misturava-se ao leve odor metálico do sinete, ainda marcado de cera rubra.Arthur estava ali desde as primeiras horas, de mangas arregaçadas, a pena firme entre os dedos. Lia relatórios como quem examina armas, sublinhando cifras, traçando comparativos de safras, rabiscando notas nas margens. Entre um documento e outro, retomava as folhas entregues por Domenico semanas antes, agora revisitadas com a mente alerta ao que ouvira de Roberto Tornabuoni.— A queda deles não é apenas ruína… é abertura — murmurou, sem erguer os olhos.O patriarca pensava em silêncio, mas cada risco de pena era quase uma sentença. Pesava não apenas os números, mas o tempo: quanto demoraria até que outros banqueiros percebessem a fragili
— Capítulo 14 —A tarde em Florença caía dourada quando a carruagem dos Altoviti adentrou o portão da residência dos Bellini. O casarão, conhecido por sua elegância prática, não ostentava o esplendor das famílias mais antigas, mas exibia bom gosto em cada detalhe: colunas discretas ladeavam a entrada, e as janelas amplas deixavam escapar a claridade da tarde, revelando por dentro o reflexo de cristais bem polidos. A música de um piano, ainda em afinação, escapava em notas leves, como se testasse o ar para preparar o encontro daquela noite.Arthur desceu primeiro, oferecendo o braço à esposa. Giovanna trazia um vestido em azul-celeste, a gola enfeitada com renda clara que realçava seu porte digno. Magnólia, ao lado, trajava seda em tons de creme e rosa pálido, o tecido leve contrastando com sua postura ereta e segura. Seus cabelos castanhos claros estavam presos com delicadeza, deixando algumas ondas soltas que suavizavam o rosto. A harmonia do conjunto não era fortuita: havia nela um
Capítulo 13A casa dos Tornabuoni ergueu-se à frente como sombra imponente de glórias passadas. De longe, a fachada ainda mantinha a imponência de outrora, mas bastava atravessar o pátio para perceber as rachaduras: paredes que precisavam de cal, portões que rangiam ao fechar, uma fonte central que já não jorrava água com a mesma abundância. Os criados receberam pai e filho com a reverência de sempre, mas os gestos denunciavam certa pressa em esconder o que não podia ser escondido. A cada passo, o desgaste se revelava — tapeçarias que já haviam sido ricas em cor e agora pareciam desbotadas pelo tempo, móveis pesados sem o brilho do polimento frequente, janelas cujo vidro opaco pedia reparos urgentes. Era como se o nome sustentasse as paredes, mas não pudesse restaurar o que o ouro já não alcançava.No salão principal, os irmãos mais velhos os aguardavam. Lorenzo, o primogênito, alto, robusto e ostentador, endireitou-se assim que o pai entrou, a voz carregada de ansiedade mal disfarç





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