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Capítulo 4: O Tempo dará aulas com o Espaço

Yaskara prendeu os cabelos em um rabo de cavalo alto, deixando o pescoço exposto à brisa fria do ar-condicionado. Desabotoou o primeiro botão da camisa social branca, o gesto simples, mas preciso — como quem calculava até a maneira de respirar.

Parecia mais à vontade.

— Vocês aqui no Brasil têm muitos problemas com ecos catastróficos — mais do que qualquer outro país. — disse calmamente, o tom quase profissional.

— E os últimos acontecimentos com Amaruq ativaram um sinal vermelho na minha Organização.

Ela apoiou os cotovelos na mesa e entrelaçou os dedos, descansando o queixo sobre as mãos.

Os olhos azuis o fitaram sem pressa.

— Eu acho que acabaria por aqui — oficial ou não.

Voss observava cada movimento dela — o modo como prendeu o cabelo, o desabotoar discreto do colarinho, a calma que contrastava com o peso das palavras.

O ar frio do ar-condicionado soprava entre eles; pela primeira vez desde o caos em Liberdade, o silêncio parecia quase reconfortante.

— Hm… — murmurou, apoiando o queixo na mão, o olhar semicerrado de quem analisa e se diverte ao mesmo tempo. — Então o “sinal vermelho” te trouxe até nós. — disse num tom leve, mas com aquele brilho astuto nos olhos. — Isso quer dizer que ainda tem alguém lá fora acreditando que o mundo pode ser salvo antes de virar pó. Impressionante.

O café chegou, e ele o pegou, girando o canudo entre os dedos enquanto falava — o olhar ainda fixo nela.

— “Oficialmente ou não”, hein? — repetiu, dando um gole e fazendo uma breve careta ao sentir o doce exagerado — exatamente como pediu.

Deu um meio sorriso. — Soa como alguém que já decidiu se meter onde não devia, mas faz parecer coincidência.

Ele se inclinou um pouco à frente, os antebraços apoiados na mesa. O tom baixou — não ameaçador, apenas curioso.

— Então me diz, Yaskara Borh… quando você viu o Amaruq — não o garoto que ele possuía, mas o Soberano das Distorções — o que sentiu?

Uma pausa, o olhar dele se estreitou, atento.

— Medo? Raiva? — o sorriso voltou, enviesado. — Ou aquele impulso irresistível de testar o que acontece quando o tempo enfrenta o que diz ser eterno?

Eiran deixou escapar uma risada curta, cínica e encantada ao mesmo tempo.

— Aposto que foi a terceira opção.

Yaskara mexeu o café com o canudo, o som leve do gelo tilintando no copo.

Deu um gole e suspirou discretamente, grata pelo frescor.

— Eu vi algo que eu podia fazer — e fiz. — respondeu com calma, sem se justificar.

— Já enfrentei uma entidade parecida com Amaruq. — pousou o copo na mesa, o olhar voltado para ele. — Chamava-se Mago Negro. Um feiticeiro do século X, na Europa.

Ela fez uma breve pausa, o tom permanecendo sereno, mas firme.

— Foi naquela luta que aprendi que não existe nada nesse mundo que mereça o conceito de “eterno”. — girou o canudo entre os dedos, observando a reação dele.

— Porque tudo começou em algum ponto do tempo. Até o que acredita estar fora dele.

Voss ergueu uma sobrancelha, um leve sorriso surgindo nos lábios.

— O Mago Negro, hein? — repetiu, recostando-se na cadeira. — Então você lida com desastres do eco que sobreviveram séculos… interessante.

Por um instante, o tom brincalhão se dissipou. O olhar azul cristalino ganhou profundidade.

— Você fala do tempo como se ele fosse uma ferramenta, não uma prisão. — comentou, os dedos tamborilando de leve na mesa. — E talvez seja mesmo, pra alguém como você.

O sorriso voltou, mas agora com aquele toque provocador característico.

— Ainda assim… se tudo teve um começo, isso significa que até o seu poder tem um fim. — inclinou a cabeça levemente para o lado, curioso. — Ou estou errado, senhorita controladora do tempo?

Yaskara tomou um gole do café gelado, sem pressa.

O silêncio entre eles se prolongou o bastante para que o som do gelo tilintando no copo se tornasse a única resposta por alguns segundos.

Depois, ela pousou o copo e sorriu, o olhar tranquilo e indecifrável.

— Quem sabe… — disse por fim, a voz suave, quase brincalhona, mas impossível de ler.

Inclinou-se levemente para frente, apoiando o queixo nas mãos.

— Também não sei muito sobre os seus poderes, senhor Honrado.

O tom dela era calmo, mas a ironia estava ali, sutil — suficiente para fazer o jogo continuar, sem dar nada de graça.

Voss soltou uma risada baixa, recostando-se novamente na cadeira, o canudo ainda entre os dedos.

— “Senhor Honrado”? — repetiu, o tom carregado de ironia divertida. — Faz parecer que eu sou algum tipo de velho sábio… o que, convenhamos, eu não sou.

Inclinou levemente a cabeça, os olhos azuis faiscando com curiosidade genuína.

— E quanto aos meus poderes… bom — o sorriso curvou-se — dizem que é melhor ver do que ouvir falar.

— Mas tenho a impressão de que você já sabe disso.

Deu um pequeno gole no café, o sabor doce demais arrancando um breve franzir de sobrancelhas.

Quando voltou a encará-la, o sorriso ganhou um ar enigmático, quase desafiador.

— Afinal, alguém que brinca com o tempo deve ter percebido o que acontece quando se aproxima demais de mim.

Yaskara manteve o olhar por um instante, como quem pondera se deve responder à provocação.

— Tenho uma leve noção do que se trata seus poderes. — disse enfim, com a calma habitual.

O celular vibrou sobre a mesa.

Ela desviou o olhar, pegando o aparelho com discrição.

— Com licença, um segundo. — murmurou com educação, a atenção voltando-se à tela.

Enquanto lia, a expressão dela se alterava de forma quase imperceptível — primeiro surpresa, depois inquietude, até se fixar em algo mais sombrio.

O brilho tranquilo dos olhos azuis pareceu vacilar por um momento.

— Não pode ser… — murmurou, mais para si do que para ele.

Voss observou a mudança súbita na expressão dela.

O sorriso desapareceu devagar, substituído por um olhar curioso — e, pela primeira vez, um pouco mais sério.

Ele se inclinou para frente, apoiando os antebraços na mesa, os dedos entrelaçados.

— Huh… — murmurou, num tom quase pensativo. — Parece que até o tempo pode ser pego de surpresa, hein?

O olhar azul se encontrou com o dela; a postura, antes relaxada, agora carregava uma atenção genuína.

— Se for algo importante… posso esperar. — disse, a voz baixa e tranquila. — Ou, se quiser dividir, talvez eu consiga dar uma olhada sem precisar acelerar nem retroceder nada.

Yaskara ergueu os olhos, surpresa com a simplicidade do tom. Não era uma provocação nem um desafio — apenas presença. Ele falava como alguém que sabia existir dentro do tempo, não contra ele.

Um pequeno sorriso de canto surgiu nos lábios dele — ainda curioso, mas mais suave.

— Quer saber? Isso só me deixa mais interessado. — inclinou um pouco a cabeça, estudando-a. — Quem ou o que conseguiu te tirar do controle por um instante, senhorita Borh?

Yaskara respirou fundo, deixando o ar escapar em um suspiro cansado.

— Recebi uma nova ordem… — disse, sem esconder o desânimo. — Acho que serei professora na Academia Arcana de Estudos Etéricos de São Paulo…”Começo imediato”, alertaram.

Levantou uma das mãos e cobriu parte do rosto, completamente descrente.

— Aih… eu tinha planos pra esse fim de ano. — murmurou, num tom que misturava indignação e resignação. — Por que estão fazendo isso comigo?

Seguiu resmungando baixinho, frases curtas e quase inaudíveis, o tipo de desabafo de quem raramente se permite reclamar — o que, para Voss, só tornava a cena ainda mais interessante.

Ele arqueou uma sobrancelha, o sorriso torto voltando ao rosto — uma mistura de diversão e incredulidade.

— Professora na minha escola? — repetiu, balançando a cabeça devagar, o olhar azul faiscando com interesse. — Ah… então é isso que te tirou do ritmo? Que injustiça! — riu baixo, mexendo no café gelado.

— Você passa o ano inteiro salvando pessoas de distorções que deveriam nem existir, e agora vão te colocar… — fez aspas com os dedos — pra lidar com adolescentes instáveis, dever de casa e reuniões intermináveis?

Deu um gole no café e se recostou na cadeira, os braços cruzados, o sorriso ainda provocador.

— Sabe, acho que isso vai ser interessante… — olhou para ela com um toque de ironia. — Porque eu conheço aquele lugar melhor do que a palma da minha mão.

— E se alguém consegue dobrar o Éter como você dobra, provavelmente vai fazer até as aulas parecerem divertidas.

Com um sorriso de canto, os olhos azuis brilharam com curiosidade e malícia.

— Quer uma dica, professora recém-chegada? Sobrevivência entre adolescentes e anomalias de meia-idade: seja imprevisível… e nunca deixe ninguém descobrir o que você realmente pode fazer.

Yaskara suspirou fundo e bebeu o restante do café de uma vez.

— A Academia Arcana de Estudos Etéricos é do tipo internato, certo? — perguntou, já mais calma. — Os dormitórios são decentes? Professores têm alojamentos próprios, não é?

Enquanto falava, o tom dela oscilava entre resignação e ponderação — o olhar perdido em algum ponto da mesa, medindo o que a esperava nos próximos meses.

Voss deu um leve sorriso, inclinando-se para trás na cadeira, o cotovelo apoiado enquanto girava o copo de café entre os dedos.

— Ah… então você está preocupada com conforto, hein? — comentou, o tom provocador e divertido de sempre. — Sim, internato é mais ou menos isso. Dormitórios decentes, comida aceitável… e uma rotina que vai te fazer esquecer o significado de “descanso”.

Ele riu baixinho, balançando a cabeça.

— O problema não é o lugar — continuou, o olhar azul faiscando com humor. — É o tipo de gente que vive nele.

Cruzou os braços sobre a mesa, o sorriso de canto misturando malícia e sinceridade.

— Professores têm dormitórios próprios, sim. Mas não se engane: a Academia tem seu próprio ritmo. — inclinou-se um pouco para frente. — Lá dentro, todo mundo observa todo mundo. Os alunos adoram testar limites, e os magos veteranos são ainda piores.

Fez uma pausa curta, avaliando a expressão dela antes de concluir, num tom mais leve:

— Mas hey… considerando seus poderes, acho que vai se dar bem. — piscou, o tom provocador voltando. — Só não deixe ninguém descobrir que você pode literalmente dobrar o tempo. Isso assusta os mortais e deixa os estudantes curiosos demais.

Deu um gole final no café e voltou a encará-la com aquele sorriso desafiador de sempre.

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