Kieran, o herdeiro da alcateia de Drakemont, lida com o peso de seu destino. Um ser poderoso, belo e temido, mas profundamente solitário. Seu lobo interior permanece em silêncio, sem reconhecer uma parceira. Enquanto isso, Marina chega à cidade. Uma mulher quebrada, fugindo de um passado de abusos brutais. Carrega no olhar a dor e a desconfiança. Tudo que deseja é paz.
Ler maisO amanhecer chegou tingido de cinza, como se as nuvens carregassem o peso dos segredos que pairavam entre ela e o mundo. Marina despertou com o coração acelerado, a respiração curta e uma fina camada de suor colando os fios de cabelo à sua testa. A imagem da árvore sangrando ainda latejava em sua mente — as raízes pulsando como veias vivas, o cheiro metálico do sangue, o som abafado de algo respirando sob a terra. Mas havia algo mais. Um som... ou talvez não fosse som algum. Um sussurro, profundo e primal, que não vinha de fora, mas de dentro dela. Como se a floresta falasse através de sua pele, como se cada folha e pedra vibrasse em um idioma que ela estava começando a compreender. A varanda da cabana parecia mais fria que o habitual. Envolta pelo moletom largo de Kieran, Marina se sentou, abraçando uma caneca de chá fumegante. O vapor subia como névoa, acariciando-lhe o rosto. O vento da manhã tocava sua pele, cortante, mas incapaz de apagar o calor estranho que ardia em s
--- 🌕 Capítulo 10 — Segredos de Sangue A chuva havia cessado, e a floresta exalava um perfume denso de terra molhada. A noite era silenciosa demais. Era o tipo de quietude que precede tempestades. Na cabana, Kieran observava Marina dormir em sua cama. Ela estava exausta após o julgamento. Seu corpo carregava os traços da tensão, mas seu rosto... havia paz ali. Uma leveza que ele nunca havia visto em nenhuma fêmea. Seu lobo estava inquieto, porém. Algo no ar o incomodava. Algo antigo. Primordial. Foi quando ele ouviu. Um chamado. Vindo das montanhas. O uivo de um ancestral. Sem explicação, Kieran saiu, vestindo-se apressado. Precisava ir. Algo o chamava... e o fazia temer. --- Na montanha sagrada, Kieran entrou na caverna dos ancestrais, um lugar que nem mesmo os alfas costumavam visitar sem convocação. As paredes estavam marcadas com inscrições antigas. Luzes de fogo-fátuo dançavam ao redor. No centro, estava Elandra, a xamã da alcateia. Uma loba anciã, cega, com cabelos
A clareira estava envolta por uma luz pálida e espectral. A lua cheia pairava alta, testemunha silenciosa do que estava prestes a acontecer. Todos os membros da alcateia estavam reunidos em círculo. Lobos de todas as idades, peles eriçadas, olhos atentos. Havia uma tensão no ar que podia ser cortada com as garras. No centro, Marina estava de pé, com os braços cruzados sobre o peito. Usava roupas simples: calça preta justa, botas e uma blusa escura. O cabelo estava preso, o olhar firme. Não havia medo em sua postura. Havia desafio. Kieran estava ao lado dela, em sua forma humana. Os olhos dourados não deixavam de vigiar os rostos ao redor — cada expressão, cada ameaça silenciosa. O atual alfa, Jareth, subiu na pedra ritual, a "Língua da Lua", e ergueu as mãos. — Que comecem os ritos do julgamento. --- O Círculo da Lua exige que qualquer companheira humana de um alfa seja testada. Não para provar força física — os lobos sabem que humanos não se igualam em combate — mas para medi
--- Na manhã seguinte à entrega, Marina acordou envolta pelo calor de Kieran, seu corpo ainda arrepiado pelos vestígios da noite anterior. Havia uma calma estranha em seu peito, como se, pela primeira vez em anos, ela tivesse dormido inteira. Mas a paz foi interrompida por uma batida firme na porta da cabana. Kieran se levantou num salto — completamente nu, mas sem nenhum traço de vergonha. O instinto do lobo se acendeu nos olhos dourados. — Fica aqui — ele disse a Marina, vestindo rapidamente uma calça jeans. Ao abrir a porta, três membros da alcateia o encaravam: Dorian, seu primo e beta; Leilah, uma das lobas mais influentes; e Yara, filha do atual alfa, e a que mais ambicionava o título de companheira de Kieran. — Precisamos conversar — disse Dorian, seco. — Agora. --- Diálogo Tenso: A Alcateia Desconfia Do lado de fora, a chuva fina ainda caía. Os quatro lobos estavam em círculo, as expressões sérias. Marina observava da janela, o coração apertado. — Ouvi d
--- A chuva caía fina sobre a floresta. O som das gotas nas folhas, o vento entre os galhos e o crepitar da lareira criavam uma sinfonia hipnótica. A cabana de Kieran estava envolta por uma penumbra dourada. Dentro dela, o calor era suave. O lobo, em sua forma humana, preparava chá com um leve sorriso nos lábios, enquanto Marina o observava do sofá, enrolada em um cobertor. Havia algo diferente naquela noite. Não era mais apenas desejo contido, medo velado ou olhares furtivos. Era uma necessidade mútua, latente, de se pertencerem de verdade. Kieran se aproximou, ajoelhando-se à frente dela, oferecendo a caneca com o chá. — Você está tremendo — ele disse, baixinho. Marina sorriu. — Não é de frio. O silêncio entre os dois era elétrico. — Estou com medo — ela admitiu. — Mas não de você. Ele pousou a caneca na mesinha ao lado. — De quê, então? Ela respirou fundo, olhando nos olhos dourados que sempre pareciam enxergar sua alma. — De me perder nisso. Em você. Em nós. Kieran
--- O cheiro de madeira, terra úmida e lenha queimada preenchia a cabana de Kieran. Marina caminhava descalça sobre o chão de tábuas, observando o ambiente rústico, mas acolhedor. Era estranho como aquele lugar no meio do nada, cercado por floresta e silêncio, a fazia se sentir mais segura do que qualquer quarto de hotel ou apartamento onde já viveu. Kieran estava à cozinha, preparando chá com folhas colhidas da floresta. Estava sem camisa, como sempre, o corpo coberto por cicatrizes antigas e músculos que pareciam ter sido esculpidos pela própria natureza. Mas o que mais chamava atenção eram suas mãos. Fortes, mas sempre cuidadosas. Quando ela dormira ali dias atrás, ele cuidou dos arranhões dela com uma delicadeza que a fizera chorar em silêncio. Agora, ali de novo, Marina o observava com outros olhos. Desejo... e medo. --- Diálogo íntimo — Por que você sempre age como se fosse feito de porcelana? — ela perguntou, tentando disfarçar a inquietação. Kieran sorriu levemente.
Último capítulo