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O dia seguinte amanheceu com o céu encoberto. Drakemont parecia ainda mais silenciosa do que o normal. A brisa soprava entre as casas rústicas e o cheiro de terra molhada impregnava o ar. Marina acordou antes do sol nascer, o corpo dolorido e a mente girando.
“Era um lobo… não, era um homem. Ou os dois. Não pode ser real.”
Ela se sentou na cama, pressionando as mãos contra o rosto. A cena da floresta a assombrava como um sonho febril. Os olhos dourados. A presença... quase sufocante. E aquele corpo. Deus, aquele corpo. Mas o que a assustava não era a aparência de Kieran — era o que ele despertava nela.
Vontade. Desejo. Confusão. E medo. Muito medo.
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🌲 Do outro lado da floresta...
Kieran estava agachado diante da clareira onde havia visto Marina na noite anterior. A grama ainda carregava o cheiro dela, e isso o deixava inquieto, faminto, protetor.
Galen apareceu atrás dele, desleixado como sempre, com um sorriso debochado no rosto.
— Então é verdade? — ele provocou. — O grande e indomável Kieran finalmente sentiu o imprinting?
Kieran levantou lentamente, o olhar intenso.
— Sim.
— E... ela é humana?
Kieran fechou os olhos por um segundo, como se admitir isso em voz alta tornasse tudo mais complicado.
— É.
— Merda. — Galen assobiou. — O Conselho não vai engolir essa. Lysandra vai tentar arrancar os olhos dela. Ou os seus.
Kieran bufou.
— Ela vai tentar.
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🍵 De volta à cidade...
Marina caminhava pelas ruas de paralelepípedo, olhando as construções antigas com certo fascínio contido. Encontrou uma pequena livraria de esquina, com cheiro de poeira, café e livros velhos. A dona era uma mulher gentil chamada Isla, que usava vestidos longos e tinha um ar etéreo.
— Precisa de um emprego? — Isla perguntou após ver o olhar cansado de Marina.
Marina hesitou, mas respondeu:
— Preciso.
E assim, Marina passou a trabalhar ali, passando os dias em silêncio entre livros, tentando ignorar a sensação de que estava sendo constantemente observada.
Porque estava.
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🌑 Na noite seguinte…
Ela saiu da livraria já escurecendo. O frio cortava a pele. Enquanto caminhava pelas ruas, percebeu uma figura encostada em uma cerca, à sombra de uma árvore.
Kieran.
Ele estava ali, como se o tempo não tivesse passado. Vestia roupas simples, mas seu corpo parecia desenhado por escultores antigos, e os olhos... ainda ardiam com aquele brilho dourado.
— Você está me seguindo? — ela perguntou, mantendo distância.
— Estou cuidando de você — respondeu com honestidade desconcertante.
Ela riu, amarga.
— Já ouvi isso antes. Nunca acabou bem.
Kieran deu um passo à frente, mas se deteve ao ver a tensão nos ombros dela.
— Eu sei que você não entende o que está acontecendo... e eu também não esperava por isso. Mas meu lobo te reconheceu. Você é minha companheira, Marina.
Ela franziu o cenho.
— Você é louco.
— Talvez. Mas isso não muda o que é.
— Eu não te conheço. Você não sabe nada sobre mim. — Sua voz tremeu. — Não sou sua. Nem de ninguém.
Kieran assentiu, os olhos escurecendo com tristeza.
— Eu não quero te forçar a nada. Só quero que fique viva... e segura. Você está em território de lobos. E eles não vão gostar disso.
— Disso o quê?
— De mim querer você.
Ela engoliu em seco. Parte dela queria correr. Parte queria tocá-lo. E isso era aterrorizante.
— Então pare de querer.
Kieran não respondeu. Apenas observou enquanto ela se afastava, decidida, mas trêmula.
> “Ela tem medo… medo de mim. De ser tocada. De sentir.”
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🐺 Enquanto isso, na Casa do Conselho...
Um grande salão de pedra com tochas iluminando os rostos antigos dos líderes da alcateia. Entre eles, Althaia, a anciã, e Darian, o atual Alfa e pai de Kieran.
Lysandra estava ali também, os cabelos loiros presos em uma trança impecável, o corpo coberto por couro justo. Ela rosnava como uma fera contida.
— Uma humana?! — esbravejou. — O futuro Alfa da alcateia marcado por uma... uma aberração?
— Cuidado com suas palavras, Lysandra — disse Althaia, com voz gélida.
— Ela não pertence a nós! — continuou. — Eu pertenço. Eu sou filha do Beta! Eu fui criada para estar ao lado de Kieran!
Darian, o Alfa, observava em silêncio. Mas a tensão em seu maxilar era visível.
— Se ele a rejeitar, o vínculo morre? — ele perguntou à anciã.
Althaia suspirou.
— Não. Um imprinting verdadeiro não morre. Mas se for negado por muito tempo... pode enlouquecer o lobo.
Darian se levantou.
— Então precisamos resolver isso. Antes que nosso futuro Alfa se torne uma fera fora de controle.
E Lysandra sorriu. Um sorriso de guerra.
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Naquela noite, Marina sonhou com olhos dourados, um toque quente na pele e um lobo de pelagem negra deitado ao seu lado na floresta. Quando acordou, sentiu seu corpo formigar como se alguém a tivesse tocado.
E do lado de fora, no alto de uma árvore, Kieran vigiava a janela do quarto dela em silêncio.
Porque, mesmo rejeitado, o lobo nunca abandona sua companheira.
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