— Eu poderia recitar cada lei, cada dever seu como minha esposa. — ele murmurou, os lábios perigosamente perto dos meus. — Poderia lembrar você de que é obrigação foder comigo todos os dias. Me satisfazer. Se entregar inteira. Minha garganta oscilou. Meu corpo respondeu antes mesmo que eu quisesse, quente, pulsando, frágil contra a firmeza dele. Ele se inclinou, o nariz quase roçando o meu. — Mas nada disso importaria. — sussurrou. — Porque você não faria. — Eu faria… — minha voz saiu baixa, rouca. — Se fosse um juramento. Os olhos dele escureceram. E naquele instante, senti: algo nele se quebrou. A respiração de Cassian acelerou, e eu pude sentir algo… duro, rígido, que pressionou minha barriga.
Ler maisAnos antes*
Era um dia ensolarado de primavera quando conheci Cassian Midas — um jovem lobinho de cabelos castanhos bagunçados e olhar afiado. — Venha, Cassian, esta é Elara Castro. Sua futura esposa e companheira. — o velho alfa, de cabelos grisalhos e postura imponente, o empurrou levemente em minha direção. Instintivamente, me escondi atrás do vestido de minha mãe, arrancando risadas dos adultos. — Diga olá para Cassian, Elara. — minha mãe insistiu. Após alguns segundos de hesitação, obedeci. Fiz um breve aceno e uma reverência, como uma jovem loba educada. Ele não sorriu. Eu também não. Mas seus olhos — castanhos claros, salpicados de pequenas pintas alaranjadas ao redor da íris — ficaram gravados em mim para sempre. Minha alcatéia, os lobos brancos, sempre fora aliada dos lobos castanhos da montanha. Unidos, éramos inquebráveis. Meu avô e o avô de Cassian reforçavam essa amizade constantemente. A aliança se tornaria ainda mais sólida quando, ao atingirmos a idade certa, eu e Cassian nos casássemos. Eles estavam quase sempre em nossas terras, e aos poucos comecei a me acostumar com a ideia de ser, um dia, a companheira dele. — Para você. — disse Cassian numa tarde, estendendo-me um pequeno colar de meia-lua. Estávamos sentados na grama depois de brincar. Olhei para o presente, intrigada. — Por quê? — perguntei, sorrindo ao segurar a peça entre os dedos. Ele desviou o rosto, emburrado como todo menino orgulhoso. — Para você guardar, é claro. Quando for minha esposa, já terá um presente meu. Sorri. Inclinei-me e depositei um leve beijo em sua bochecha. Ele corou como um tomate e limpou rapidamente o local. — Eu vou amar você, Cassian. Eu prometo. — falei, prendendo meus cabelos loiros e colocando o colar. Ele me olhou, ainda mais vermelho. — Eu também… eu acho. — respondeu. Na minha cabeça, aquelas palavras eram uma promessa. E eu a guardei, mesmo que, naquela época, fôssemos apenas duas crianças. Quando os Midas partiram naquele dia, me escondi na sala de leitura e ouvi, sem querer, uma conversa estranha. — Eu tenho medo, meu filho — disse meu avô ao meu pai. — Nosso inimigo, Beron, é invejoso. Ele odeia nossa aliança com os Midas. Hoje, os deuses me alertaram… algo vai acontecer ao meu velho amigo Midas. Meu pai tentou acalmá-lo, mas o medo era real. E meu avô estava certo. Dois dias depois, uma carta chegou. O velho alfa Midas fora morto por Beron. Um pedido de socorro havia sido enviado a nós — e respondido com uma recusa. Não por nós, mas como se fosse. A partir daquele dia, a amizade entre lobos brancos e lobos castanhos morreu. Um ódio alimentado por um mal-entendido cresceu, destruindo qualquer chance de reconciliação. Anos mais tarde, os ataques de Beron começaram. Não poupou ninguém — nem nós, nem os Midas. Sozinhos, éramos fracos. E ele aproveitou. Vieram mortes, perdas irreparáveis… como a do meu avô e do meu pai. ------ Anos depois* Com o passar dos anos, Beron se tornara cada vez mais forte e poderoso, atacando alcatéias com seus lobos renegados. A minha alcatéia lutava, mas o inimigo era implacável. Eu passava a maior parte dos meus dias nos campos, cuidando dos lobos feridos nas tendas. Muitos morriam… jovens que sequer haviam se casado. Era doloroso. Eu sempre me sentia inútil, fraca… incapaz de salvar meu povo. — É melhor dormir agora, querida — disse minha mãe, tocando minha testa enquanto eu me deitava na pequena cama improvisada. — Boa noite, mãe. — Ela sorriu, e logo adormeci. Já fazia uma semana que meus sonhos eram atormentados por visões. Não de qualquer coisa… mas dele. Cassian Midas. Seus olhos castanhos alaranjados sempre me perseguiam. E, quando eu acordava, estava suspirante e confusa, como se estivesse em transe, como se ele fosse aparecer a qualquer momento diante de mim. Eu não entendia por que ele havia voltado aos meus sonhos. Devagar, levantei-me da cama e caminhei até a entrada da tenda, mas parei ao ouvir uma conversa. — Milady, eu só estou dizendo… Jovem Elara está ficando velha. Se perdermos mais tempo, não conseguiremos casá-la com um lobo bom e forte que nos ajude. Ela precisa se casar. — Eu já disse que chega dessa história, Alastar — respondeu minha mãe, séria. — Elara não se casará com nenhum desconhecido. — E quanto a Cassian Midas? — Não ouse falar esse nome aqui. Você sabe que os lobos castanhos nos odeiam. Ele a mataria em segundos. Aquele lobo tem sede de vingança. Engoli em seco. Ela tinha razão… eu não ousaria dizer que Cassian Midas estava me assombrando em sonhos. ------ O dia passou intenso. Ajudei vários jovens… e perdi outros. Sentada na tenda, escutava a forte tempestade lá fora. Engoli em seco quando trouxeram mais feridos. Então, dois lobos guerreiros entraram apressados, carregando um rapaz nos ombros. Eu me sobressaltei. Ele tinha cabelos castanhos e agonizava. — O que aconteceu com ele? — toquei sua testa. — Foi atacado por três lobos de Beron. Eu me endireitei, com a estranha sensação de já tê-lo visto antes. — Tirem a roupa dele — pedi. Eles assentiram, e, quando terminaram de despir a parte superior, pude ver melhor o ferimento. Nesse momento, minha mãe entrou na tenda, molhada pela chuva e com o rosto confuso. Seus olhos se arregalaram e a testa se franziu em pavor. — Mãe? — chamei. — Esse… Esse lobo… — a voz dela saiu falha, rouca, assustada. — O que foi, mãe? — segurei seus ombros, e percebi que ela tremia. Seus olhos encontraram os meus, tomados pelo medo. — É o irmão… de Cassian Midas. Meu coração despencou no mesmo instante. Como se suas palavras não fossem reais, olhei para ele, deitado sobre a mesa. Não… não podia ser.Cassian*O castelo se destruía em chamas uma ruína viva, cuspindo brasas como um monstro moribundo. O calor era insuportável, as pedras estalavam, o ar queimava nos pulmões. Lá fora, o som distante das flechas incendiárias cortava o céu. Lá dentro, só restávamos nós dois. Eu e ele. Pai e filho. Lobo e fera.O acerto de contas inevitável.Ele avançava com toda a força que possuía — e ele era terrivelmente forte, o grande lobo que um dia fora respeitado e temido. Atacava sem hesitar: jugular, pernas, estômago. Cada golpe carregava ódio e prazer. Eu tentava resistir, mas o impacto era brutal.De repente, senti meu corpo ser lançado longe, chocando-se contra uma parede em chamas. A dor me rasgou por dentro, o gosto de sangue encheu minha boca. Arfei, tentando respirar.Meu corpo já estava dilacerado pelos ataques dos lupinos, mas ele surgia diante de mim novamente — envolto pelo fogo, o corpo dourado queimando à luz vermelha das chamas.Os dentes dele brilhavam cheios de sangue. Os olhos
Elara*Eu só tive tempo de desviar antes que os dentes de Cassian se fechassem a poucos centímetros do meu pescoço.O ar cortou minha garganta um rugido que me fez estremecer por inteira.Segurei Marius com força contra o peito, o coração batendo tão rápido que parecia escapar do meu corpo.Minhas pernas estavam fracas, trêmulas, e mesmo assim, eu me mantinha de pé apenas pela força do desespero.Beron assistia à cena como quem saboreia um espetáculo.Sentado, imóvel, mas com aquele brilho insano nos olhos o brilho de quem se alimenta do sofrimento alheio.Cassian sacudiu a cabeça, os músculos contraídos, e quando ergueu o rosto, vi que seus olhos já não pertenciam a ele.Eram amarelos. Frios. Selvagens.O olhar de uma criatura que não reconhecia mais amor, nem lembranças.— CASSIAN! — gritei, mas a voz saiu rasgada, impotente.Não havia resposta.Não havia nada além da escuridão e da monstruosidade que dominavam o homem que eu amava.Ele partiu para cima novamente.Desviei, me arras
Cassian*Eu não lembrava ao certo onde era o esconderijo de Beron, mas em minhas memórias havia um lugar.Semelhante a um castelo... e eu sempre lembrava do mar.Do cheiro da brisa fria batendo em meu rosto, o som das ondas se chocando contra as pedras o único eco que me restava enquanto apodrecia naquela cela.Castor, Lúcia e os últimos lupinos castanhos me acompanhavam.Mas minha mente era um campo de tortura.O pensamento de Elara e Marius amarrados, nas mãos dele, me corroía por dentro. Eu respirava, mas era como se o ar me queimasse os pulmões. Nem eu mesmo tinha certeza se voltaria vivo.Corremos o dia inteiro pela floresta.A terra sob nossos pés se tornava lama, e o cheiro do sal começou a ficar mais forte conforme o sol morria no horizonte.Quando os últimos raios tocaram as folhas, eu o vi.O palácio.Velho. Imenso.Cravado na encosta do mar, com muros partidos e torres retorcidas.Mas havia vida ali.Lupinos — dezenas deles espalhados por todos os cantos. Sentinelas respira
Cassian*Acordei pela manhã, os pequenos raios de sol entrando pelas frestas da janela, riscando o chão e a cama com uma luz morna e silenciosa. Toquei o espaço ao meu lado, como fazia sempre, procurando por Elara. Mas o lençol estava frio.Ela nunca levantava antes de mim.Franzi o cenho, um arrepio subindo pela nuca. Havia algo... diferente. O ar da casa parecia preso, pesado.Lentamente, coloquei os pés para fora da cama e segui até o quarto de Marius. Abri a porta devagar, o coração já inquieto.Vazio.Nem ele, nem a menina.Um silêncio estranho me envolveu, e então o senti o cheiro. Um odor doce, artificial, que não pertencia àquele lugar. Meu corpo inteiro se enrijeceu.Desci as escadas rápido, os passos ecoando pelo salão. Alguns lupinos passavam, confusos, mas o lugar parecia... vazio demais.Quando vi Castor ao longe, apressei o passo, o peito já apertado.— Castor, você viu Elara? Ou Marius? — ele se virou devagar, os olhos arregalados, a expressão tensa.— Cassian... preci
Elara*Cassian recebeu todos os lupinos de volta à casa Midas. O lar que, no fundo, nunca deveria ter sido abandonado.Aquela noite foi de celebração — fogo, risos e vinho, uma breve trégua antes do caos.Eu acordei com o calor de sua mão acariciando meu rosto. Abri os olhos devagar, e o encontrei me observando, um meio sorriso preguiçoso nos lábios.— Você fala enquanto dorme, sabia? — murmurou, a voz grave e baixa.— Sabia. — sorri sonolenta. — Era um hábito da infância... achei que tivesse passado.Ele se inclinou, roçando os lábios em minha bochecha.— O que eu estava dizendo exatamente?— Coisas indecentes. — respondeu contra minha pele.— Eu não digo coisas indecentes... — sussurrei, e ele sorriu, aquele sorriso que prometia perigo.— Diz sim. Ficou chamando meu nome, várias vezes. — a voz dele desceu como um sussurro rouco, enquanto os lábios passeavam pelo meu pescoço.Soltei um suspiro, sentindo o corpo reagir antes da mente. Ele se moveu sobre mim com uma calma provocante, o
Elara*A notícia sobre Marius não agradou à maioria dos lobos das ilhas do sul. Mas não havia o que discutir as palavras de Lucian estavam marcadas, e não havia retorno.— Os guerreiros lupinos estão à disposição do jovem lobo — disse um dos velhos conselheiros, contrariando o próprio orgulho.— Obrigada. Logo, precisaremos. — respondi firme.— Enfrentar Beron de cara... não é o que o alfa faria.— É por isso que ele passou anos acumulando aliados e perdendo tempo. — retruquei, sem paciência. — Beron precisa ser parado agora.Ele me fitou por um instante, e depois olhou para Marius.— Como desejar. Só espero que saiba o que está fazendo. — rosnou tenso, antes de passar por mim.Apertei Marius em meus braços e segui para fora.— E então? — perguntou Lúcia, com o olhar afiado.— Vamos voltar pra casa. Temos boas notícias. — respondi, e ela sorriu satisfeita antes de montar o cavalo.Não havia mais o que esperar.---A viagem de volta foi longa, cansativa, mas quando avistamos os muros
Último capítulo