Elara Castro e Cassian Midas foram prometidos em casamento ainda na infância, uma aliança que parecia destinada a unir dois clãs poderosos. Mas um mal-entendido sangrento — que custou a vida do avô de Cassian — ergueu um abismo entre eles. Desde então, o coração dele endureceu, alimentado por um ódio feroz contra os lobos brancos... e contra Elara. Agora, anos depois, um inimigo em comum ameaça ambos os lados. A união é inevitável, mas a ferida nunca cicatrizada entre Elara e Cassian torna tudo ainda mais perigoso. Ele não esqueceu. Não perdoou. E fará de tudo para provar a ela que pertence ao seu mundo — mas não da forma doce e inocente que um dia sonharam. Entre alianças frágeis, rancores antigos e uma paixão selvagem que resiste ao tempo, Elara descobrirá que o lobo que jurou odiá-la talvez seja justamente aquele capaz de destruí-la… ou de reivindicá-la por completo.
Leer másAnos antes*
Era um dia ensolarado de primavera quando conheci Cassian Midas — um jovem lobinho de cabelos castanhos bagunçados e olhar afiado. — Venha, Cassian, esta é Elara Castro. Sua futura esposa e companheira. — o velho alfa, de cabelos grisalhos e postura imponente, o empurrou levemente em minha direção. Instintivamente, me escondi atrás do vestido de minha mãe, arrancando risadas dos adultos. — Diga olá para Cassian, Elara. — minha mãe insistiu. Após alguns segundos de hesitação, obedeci. Fiz um breve aceno e uma reverência, como uma jovem loba educada. Ele não sorriu. Eu também não. Mas seus olhos — castanhos claros, salpicados de pequenas pintas alaranjadas ao redor da íris — ficaram gravados em mim para sempre. Minha alcatéia, os lobos brancos, sempre fora aliada dos lobos castanhos da montanha. Unidos, éramos inquebráveis. Meu avô e o avô de Cassian reforçavam essa amizade constantemente. A aliança se tornaria ainda mais sólida quando, ao atingirmos a idade certa, eu e Cassian nos casássemos. Eles estavam quase sempre em nossas terras, e aos poucos comecei a me acostumar com a ideia de ser, um dia, a companheira dele. — Para você. — disse Cassian numa tarde, estendendo-me um pequeno colar de meia-lua. Estávamos sentados na grama depois de brincar. Olhei para o presente, intrigada. — Por quê? — perguntei, sorrindo ao segurar a peça entre os dedos. Ele desviou o rosto, emburrado como todo menino orgulhoso. — Para você guardar, é claro. Quando for minha esposa, já terá um presente meu. Sorri. Inclinei-me e depositei um leve beijo em sua bochecha. Ele corou como um tomate e limpou rapidamente o local. — Eu vou amar você, Cassian. Eu prometo. — falei, prendendo meus cabelos loiros e colocando o colar. Ele me olhou, ainda mais vermelho. — Eu também… eu acho. — respondeu. Na minha cabeça, aquelas palavras eram uma promessa. E eu a guardei, mesmo que, naquela época, fôssemos apenas duas crianças. Quando os Midas partiram naquele dia, me escondi na sala de leitura e ouvi, sem querer, uma conversa estranha. — Eu tenho medo, meu filho — disse meu avô ao meu pai. — Nosso inimigo, Beron, é invejoso. Ele odeia nossa aliança com os Midas. Hoje, os deuses me alertaram… algo vai acontecer ao meu velho amigo Midas. Meu pai tentou acalmá-lo, mas o medo era real. E meu avô estava certo. Dois dias depois, uma carta chegou. O velho alfa Midas fora morto por Beron. Um pedido de socorro havia sido enviado a nós — e respondido com uma recusa. Não por nós, mas como se fosse. A partir daquele dia, a amizade entre lobos brancos e lobos castanhos morreu. Um ódio alimentado por um mal-entendido cresceu, destruindo qualquer chance de reconciliação. Anos mais tarde, os ataques de Beron começaram. Não poupou ninguém — nem nós, nem os Midas. Sozinhos, éramos fracos. E ele aproveitou. Vieram mortes, perdas irreparáveis… como a do meu avô e do meu pai. ------ Anos depois* Com o passar dos anos, Beron se tornara cada vez mais forte e poderoso, atacando alcatéias com seus lobos renegados. A minha alcatéia lutava, mas o inimigo era implacável. Eu passava a maior parte dos meus dias nos campos, cuidando dos lobos feridos nas tendas. Muitos morriam… jovens que sequer haviam se casado. Era doloroso. Eu sempre me sentia inútil, fraca… incapaz de salvar meu povo. — É melhor dormir agora, querida — disse minha mãe, tocando minha testa enquanto eu me deitava na pequena cama improvisada. — Boa noite, mãe. — Ela sorriu, e logo adormeci. Já fazia uma semana que meus sonhos eram atormentados por visões. Não de qualquer coisa… mas dele. Cassian Midas. Seus olhos castanhos alaranjados sempre me perseguiam. E, quando eu acordava, estava suspirante e confusa, como se estivesse em transe, como se ele fosse aparecer a qualquer momento diante de mim. Eu não entendia por que ele havia voltado aos meus sonhos. Devagar, levantei-me da cama e caminhei até a entrada da tenda, mas parei ao ouvir uma conversa. — Milady, eu só estou dizendo… Jovem Elara está ficando velha. Se perdermos mais tempo, não conseguiremos casá-la com um lobo bom e forte que nos ajude. Ela precisa se casar. — Eu já disse que chega dessa história, Alastar — respondeu minha mãe, séria. — Elara não se casará com nenhum desconhecido. — E quanto a Cassian Midas? — Não ouse falar esse nome aqui. Você sabe que os lobos castanhos nos odeiam. Ele a mataria em segundos. Aquele lobo tem sede de vingança. Engoli em seco. Ela tinha razão… eu não ousaria dizer que Cassian Midas estava me assombrando em sonhos. ------ O dia passou intenso. Ajudei vários jovens… e perdi outros. Sentada na tenda, escutava a forte tempestade lá fora. Engoli em seco quando trouxeram mais feridos. Então, dois lobos guerreiros entraram apressados, carregando um rapaz nos ombros. Eu me sobressaltei. Ele tinha cabelos castanhos e agonizava. — O que aconteceu com ele? — toquei sua testa. — Foi atacado por três lobos de Beron. Eu me endireitei, com a estranha sensação de já tê-lo visto antes. — Tirem a roupa dele — pedi. Eles assentiram, e, quando terminaram de despir a parte superior, pude ver melhor o ferimento. Nesse momento, minha mãe entrou na tenda, molhada pela chuva e com o rosto confuso. Seus olhos se arregalaram e a testa se franziu em pavor. — Mãe? — chamei. — Esse… Esse lobo… — a voz dela saiu falha, rouca, assustada. — O que foi, mãe? — segurei seus ombros, e percebi que ela tremia. Seus olhos encontraram os meus, tomados pelo medo. — É o irmão… de Cassian Midas. Meu coração despencou no mesmo instante. Como se suas palavras não fossem reais, olhei para ele, deitado sobre a mesa. Não… não podia ser.Ergui lentamente as mãos para o alto, sentindo o peso da lâmina próxima demais da minha pele. O jovem lobo atrás de mim parecia tão paralisado quanto eu.— O que significa isso, Calie?! — ele disparou, a voz entre o choque e o medo.— Isso não é com você, Francis! — ela gritou, os olhos cheios de lágrimas, mas queimando em ódio. — É com essa vadia ladra.Suspirei pesadamente, tentando manter a calma. A lâmina roçava de leve na minha pele, fria, cruel.— O que exatamente eu roubei de você? — ousei perguntar.— NÃO FALA NADA! — ela berrou, mas eu não me calei.— Eu só quero entender.Meu coração martelava, mas minha voz saiu firme. Ela, no entanto, parecia à beira de perder o pouco controle que ainda segurava.— Cassian era meu! — os olhos dela se encheram de desespero. — Meu! Ele… ele fez amor comigo, várias e várias vezes! Aqui, no casarão! Ele me ama! Ele é meu, não seu!Engoli em seco. A dor na voz dela era tão forte que, por um instante, me deu pena. Parecia uma criança cega pelo
Elara* O ar naquele instante parecia denso. Pesado como um iceberg prestes a rachar.Castor observava em silêncio, o incômodo estampado em seu rosto, enquanto eu mesma me sentia desconfortável com a cena. A moça, no entanto, não demonstrava nenhum pudor: agarrava-se a Cassian como uma pulga grudada na pele, sorrindo e murmurando coisas no ouvido dele.— Não tem noção de como senti sua falta… — ela sussurrou, quase manhosa.Cassian não respondeu de imediato, apenas manteve aquele olhar frio, impassível, que parecia não se abalar com nada.— Você sumiu por duas semanas. O que aconteceu? — ela insistiu, a voz oscilando entre preocupação e ciúme.— Calie, já chega. — ele finalmente disse, num tom seco.Ela franziu o cenho, como se não acreditasse que aquelas palavras fossem dirigidas a ela.— Chega. — repetiu ele, e sem aviso, segurou-a pela cintura, retirando-a do colo e colocando-a no chão.A expressão de Calie escureceu, a recusa do alfa parecia doer mais do que qualquer golpe.— Fala
Saímos do casarão e seguimos juntos a passos largos. A mão quente de Cassian, ainda segurando meu braço. Puxando-me. Ele fazia questão de me tratar da pior forma possível.Me levou até os estábulos, onde um lupino já o aguardava, montado em um cavalo. Ele não se deu ao trabalho de escolher nada especial para mim — apenas pegou o primeiro cavalo que viu e me entregou, sem qualquer instrução, antes de montar no seu.O fitei, tentando entender.— Não vamos de carruagem?— Não.— Mas seria melhor.— Melhor para quem?— Eu...— Suba no cavalo. Você queria vir, não é?Engoli a raiva e obedeci, montando às pressas. Ele lançou um olhar rápido em minha direção, depois para o amigo, e partimos.As florestas se desenrolavam diante de nós, e eu cavalgava logo atrás dele, com o corpo rígido de nervoso. Eu não fazia ideia do que se passava na cabeça de Cassian.— Vai acabar ficando para trás. E eu não farei questão de voltar para buscá-la — disse, ríspido, sem sequer olhar.Engoli em seco e apress
Acordei tarde da manhã. A claridade atravessava as cortinas claras, invadindo o quarto sem pedir permissão. O calor da luz me queimava a pele, forçando meu corpo a despertar. Respirei fundo. O peso daquela noite ainda latejava em mim - uma dor baixa, abaixo da cintura, que fez minha memória trazer de volta o que eu preferia esquecer.Levantei devagar, puxando os lençóis para o lado. A mancha estava lá. O sinal que deixaria a todos satisfeitos, menos a mim. Meus ombros se enrijeceram, minha respiração acelerou. Passei a mão no rosto, tentando me recompor, quando a porta se abriu de repente.Minha mãe entrou sem bater. Meu corpo reagiu sozinho, encolhendo-se no canto mais escuro do quarto, como se ainda pudesse me esconder dela. Bastou um olhar para que ela visse a prova no lençol.— Deuses... — murmurou, a voz trêmula. - Ele... ele te forçou?— Não. - engoli em seco. — Fazia... fazia parte da tradição deles.Ela fechou os olhos, suspirando fundo. — Ah, isso. É verdade,
Astrid olhava de mim para Cassian com um sorriso animado, quase de orelha a orelha.— Eu não sabia que isso era necessário.— Eu disse a ela que não era. — a voz de Cassian surgiu pela primeira vez depois de muito tempo.— É claro que é necessário. A consumação acontece com nosso povo há décadas. Vocês não iam ser especiais.— Mas é... Uma união não tão convencional. — disse nervosa.— Não importa. Vocês estão casados. Vou trazer os espectadores. — disse ela virando-se em direção à porta. Meu coração saltou ainda mais no peito.— Espectadores?— Sim, é necessário ter uma pessoa aqui para ter certeza de que vocês vão consumar.— Não, eu...— Uma pessoa, Astrid. — disse Cassian firme. Ela se voltou para ele.— Não quero três ou quatro pessoas aqui. Uma. Vai lá embaixo e chame o Kyle.— Mas Cassian... — ele olhou para ela novamente. E, aparentemente constrangida, ela saiu em busca desse Kyle.Quando a porta se fechou, senti minhas pernas bambas, como se fosse desabar. Cassian passou pert
Todos os olhos dos lupinos estavam voltados para Draco. O ar parecia vibrar com a raiva que emanava dele, cada músculo tenso, pronto para me atacar. A velha anciã sussurrou palavras estranhas, de origem desconhecida, encarando-o com intensidade. O peso de sua presença era sufocante.Devagar, Cassian se pôs à frente. O gesto foi suficiente para silenciar qualquer respiração mais alta.— Draco, irmão. Fico alegre, e agradeço aos deuses por você estar de pé. Mas o que está feito, está feito.Draco quase cuspiu as palavras, a voz carregada de fúria:— Não! Ainda pode ser revertido! Vocês não selaram, não consumaram.A mãe dele se aproximou com pressa, estendendo as mãos como se pudesse puxá-lo de volta para a razão.— Draco, venha por favor.Ele se desvencilhou com violência, o olhar voltando a me atravessar como lâmina.— Mande essa prostituta lupina embora com a mãe dela! Tire os pés dela da nossa casa! O que nosso pai acharia? O que nosso avô acharia?! Você mancha o solo de nossa casa
Último capítulo