A névoa pairava sobre a pequena cidade de Drakemont como um véu silencioso. Encravada entre montanhas cobertas por florestas densas, a cidade parecia isolada do resto do mundo, esquecida no tempo — um esconderijo perfeito para aqueles que queriam desaparecer.
Era exatamente o que Marina procurava.
O carro velho que ela alugara parou em frente a uma pequena pousada de madeira. Com os ombros curvados e a alma em pedaços, Marina desceu do veículo com uma mala surrada e um olhar que evitava o mundo. Os longos cabelos castanhos escondiam parte do rosto, e mesmo a brisa fria não conseguia afastar o peso que ela carregava.
A dona da pousada, uma senhora gentil chamada Dona Amália, a recebeu com um sorriso caloroso, mas preocupado.
— Você veio sozinha? — perguntou com doçura, entregando-lhe a chave do quarto.
— Vim. Só eu. — respondeu Marina, a voz baixa, como se ainda temesse ser ouvida por alguém que não devia.
Amália não insistiu. Havia algo nos olhos da jovem — um abismo de dor e sobrevivência que só quem já sofreu reconheceria.
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🍂 Algumas horas depois...
Marina caminhava pela estrada de terra que levava à floresta. Havia um instinto em seu peito, uma vontade de se afastar da cidade, da civilização, de tudo. Ela precisava respirar... precisava esquecer.
A floresta era viva, antiga, sagrada. Os galhos dançavam com o vento, e os sons dos animais noturnos começavam a se manifestar. Ela se sentou em uma pedra coberta de musgo e fechou os olhos.
Foi então que sentiu.
Um arrepio percorreu sua espinha. Um cheiro diferente, intenso, animal. Quando abriu os olhos, viu algo que não esperava — dois olhos dourados observando-a entre as árvores.
Seu corpo congelou. Por um momento, achou que estivesse delirando. Mas então ele emergiu da sombra.
Um lobo.
Mas não um lobo comum.
Ele era imenso, maior que um cavalo. Sua pelagem era negra como a própria noite, e seus olhos dourados brilhavam com uma inteligência selvagem. Ele deu um passo à frente... e parou.
Marina ficou paralisada, sem conseguir gritar ou se mover. Mas algo dentro dela sussurrou: Ele não vai te machucar.
O lobo encarou-a por longos segundos. Então, algo extraordinário aconteceu — ele recuou para trás das árvores e, no instante seguinte, um homem nu emergiu.
Musculoso, esculpido como uma estátua viva, cabelos escuros, olhos dourados. Um homem de beleza impossível.
Kieran.
Ele a olhou com intensidade. Seus olhos queimavam com algo feroz. O lobo dentro dele gritava.
> “Ela é nossa. É ela. Finalmente.”
Mas o rosto de Marina estampava puro pavor.
— Não tenha medo — disse ele, a voz grave, envolvente, quase hipnótica. — Eu não vou te machucar.
Marina deu um passo para trás, a respiração ofegante.
— Q-quê... o que você...?
— Meu nome é Kieran — disse ele suavemente, levantando as mãos, sem se aproximar. — Eu sou... um guardião dessa floresta. E você... você é diferente.
Ela tremia. Seu corpo inteiro gritava para fugir, mas os olhos dourados dele... eram como uma prisão feita de ouro líquido.
— Eu só quero ficar sozinha... — disse ela, com a voz falha.
Kieran pareceu sentir uma dor física com aquelas palavras. O laço estava se formando. O imprinting começava a gravar seu destino nela, mas ela... não estava pronta.
— Entendo. — Ele recuou, olhando para ela uma última vez. — Mas... não posso te deixar sozinha por muito tempo. Você corre perigo aqui.
— Eu já vivi o pior perigo da minha vida — ela respondeu, virando-se e correndo pela trilha, longe dele.
Kieran permaneceu onde estava, o peito arfando.
> “Ela não está pronta... mas é ela. É a nossa companheira.”
E pela primeira vez em anos, o lobo sentiu esperança.
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Enquanto Marina chorava sozinha no quarto da pousada, confusa e assustada, Kieran subia em uma colina da floresta, olhando para a cidade iluminada abaixo.
Um uivo longo e solitário cortou a noite.
A escuridão se agitava, e o destino dos dois estava apenas começando a se entrelaçar.
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