Kieran, o herdeiro da alcateia de Drakemont, lida com o peso de seu destino. Um ser poderoso, belo e temido, mas profundamente solitário. Seu lobo interior permanece em silêncio, sem reconhecer uma parceira. Enquanto isso, Marina chega à cidade. Uma mulher quebrada, fugindo de um passado de abusos brutais. Carrega no olhar a dor e a desconfiança. Tudo que deseja é paz.
Leer másA noite estava pesada, como se o céu inteiro tivesse descido um pouco mais sobre a floresta. Marina sentia a marca pulsar sob a pele, enquanto olhava pela janela. Cada batida era um chamado — não em palavras, mas em sensações: calor, pressão, desejo, alerta. O vento parou. Os sons da noite cessaram. E então ele surgiu. E Marina quando menos percebeu estava do lado de fora, como se suas pernas tivessem vida própria. Da penumbra entre as árvores, dois olhos âmbar se acenderam. Aos poucos, a silhueta tomou forma — alta, esguia, coberta por um manto escuro que se movia como fumaça. Mas não era humano. As mãos terminavam em garras finas e negras, e o cheiro que emanava dele era uma mistura intoxicante de musgo, sangue e algo que lembrava o calor de Kieran... mas mais antigo. — Finalmente — disse a criatura, a voz como o eco de muitas vozes ao mesmo tempo. — O sangue desperto. Marina deu um passo para trás, mas a marca queimou como se protestasse contra a distância. — Quem é você? —
Os olhos brilhavam no escuro. Fixos nela. Imóveis. Marina não sabia dizer se eram dourados ou âmbar — a luz da lua se refletia neles como se escondesse algo vivo, profundo e antigo. A marca no braço latejou forte, enviando ondas de calor pelo corpo. Ela não sentia medo... pelo menos, não o medo que deveria sentir. Era outra coisa. Uma mistura de reconhecimento e perigo. A criatura moveu-se. Não para frente, mas para cima, desaparecendo entre os galhos. Nenhum som de folhas quebradas, nenhum galho se partindo. Apenas silêncio. — Marina! — A voz de Kieran rompeu a imobilidade, urgente. Ela se virou e o viu vindo pela clareira, os olhos quase totalmente dourados, os músculos tensos como cordas esticadas. — O que viu? — perguntou ele, o tom mais de um alfa em alerta do que de um homem. — Olhos. — Ela ainda sentia a pulsação da marca. — E... eles me conheciam. Kieran a segurou pelos ombros, o toque firme, quase possessivo. — Você não pode sair assim sozinha. Não agora. — Eu não
O vento soprou forte, agitando as folhas da floresta como se um animal imenso passasse por entre elas, invisível. Marina apertou o braço, sentindo a marca latejar. Não era apenas dor. Era como se cada traço negro vibrasse no mesmo ritmo do seu coração, chamando-a para um lugar que ela não conhecia... mas que, de alguma forma, já fazia parte dela. — Marina! A voz de Kieran ecoou distante, mas carregada de urgência. Ela se virou e o viu vindo entre as árvores, rápido, quase correndo. Os olhos dele brilharam dourados quando notaram a marca. Ele parou a poucos passos, reparando na marca, a respiração pesada. — Quando apareceu? — perguntou, a voz grave. — Agora... eu acho. — Ela tentava falar, mas a língua parecia pesada. — Eu estava sonhando com a árvore. E havia uma voz... Ele se aproximou devagar, como se tivesse medo de tocá-la e desencadear algo. Seus dedos roçaram o contorno da marca, e ela arfou. Era como se cada nervo acendesse. Calor. Formigamento. Um desejo qu
O amanhecer chegou tingido de cinza, como se as nuvens carregassem o peso dos segredos que pairavam entre ela e o mundo. Marina despertou com o coração acelerado, a respiração curta e uma fina camada de suor colando os fios de cabelo à sua testa. A imagem da árvore sangrando ainda latejava em sua mente — as raízes pulsando como veias vivas, o cheiro metálico do sangue, o som abafado de algo respirando sob a terra. Mas havia algo mais. Um som... ou talvez não fosse som algum. Um sussurro, profundo e primal, que não vinha de fora, mas de dentro dela. Como se a floresta falasse através de sua pele, como se cada folha e pedra vibrasse em um idioma que ela estava começando a compreender. A varanda da cabana parecia mais fria que o habitual. Envolta pelo moletom largo de Kieran, Marina se sentou, abraçando uma caneca de chá fumegante. O vapor subia como névoa, acariciando-lhe o rosto. O vento da manhã tocava sua pele, cortante, mas incapaz de apagar o calor estranho que ardia em s
--- 🌕 Capítulo 10 — Segredos de Sangue A chuva havia cessado, e a floresta exalava um perfume denso de terra molhada. A noite era silenciosa demais. Era o tipo de quietude que precede tempestades. Na cabana, Kieran observava Marina dormir em sua cama. Ela estava exausta após o julgamento. Seu corpo carregava os traços da tensão, mas seu rosto... havia paz ali. Uma leveza que ele nunca havia visto em nenhuma fêmea. Seu lobo estava inquieto, porém. Algo no ar o incomodava. Algo antigo. Primordial. Foi quando ele ouviu. Um chamado. Vindo das montanhas. O uivo de um ancestral. Sem explicação, Kieran saiu, vestindo-se apressado. Precisava ir. Algo o chamava... e o fazia temer. --- Na montanha sagrada, Kieran entrou na caverna dos ancestrais, um lugar que nem mesmo os alfas costumavam visitar sem convocação. As paredes estavam marcadas com inscrições antigas. Luzes de fogo-fátuo dançavam ao redor. No centro, estava Elandra, a xamã da alcateia. Uma loba anciã, cega, com cabelos
A clareira estava envolta por uma luz pálida e espectral. A lua cheia pairava alta, testemunha silenciosa do que estava prestes a acontecer. Todos os membros da alcateia estavam reunidos em círculo. Lobos de todas as idades, peles eriçadas, olhos atentos. Havia uma tensão no ar que podia ser cortada com as garras. No centro, Marina estava de pé, com os braços cruzados sobre o peito. Usava roupas simples: calça preta justa, botas e uma blusa escura. O cabelo estava preso, o olhar firme. Não havia medo em sua postura. Havia desafio. Kieran estava ao lado dela, em sua forma humana. Os olhos dourados não deixavam de vigiar os rostos ao redor — cada expressão, cada ameaça silenciosa. O atual alfa, Jareth, subiu na pedra ritual, a "Língua da Lua", e ergueu as mãos. — Que comecem os ritos do julgamento. --- O Círculo da Lua exige que qualquer companheira humana de um alfa seja testada. Não para provar força física — os lobos sabem que humanos não se igualam em combate — mas para medi
Último capítulo