Mundo ficciónIniciar sesiónDellfiori, o Homem que Me Destruiu e Depois Pediu Perdão Após cinco anos de um amor intenso e cheio de promessas, Júlia Almeida vê seu mundo desabar quando Guilherme Dellfiori parte repentinamente para a Argentina sem sequer uma explicação. O que era um relacionamento sólido se transforma em silêncio, culpa e distância. Tentando se reconstruir, Júlia mergulha nos estudos e na carreira jornalística, transformando a dor em força. Anos depois, já uma mulher madura e reconhecida profissionalmente, o destino a coloca novamente frente ao passado que tanto lutou para esquecer. Um encontro inesperado, uma mensagem misteriosa e uma confissão tardia trazem à tona sentimentos adormecidos. Mas agora, Júlia não é mais a mesma — aprendeu a se amar, a recomeçar e a reconhecer quem esteve ao seu lado quando tudo desmoronou. Entre as ruas de Nova Petrópolis e as lembranças de Buenos Aires, Doce Lembrança é uma história sobre amor, perda, perdão e a coragem de seguir em frente — mesmo quando o coração insiste em olhar para trás.
Leer másO avião pousou em Buenos Aires pouco depois das dez da manhã. O céu, pesado e cinza, parecia anunciar o tom dos dias que viriam.Guilherme desceu os degraus da aeronave com passos firmes, mas o olhar cansado denunciava noites mal dormidas e pensamentos que não cessavam desde que recebera a notícia.O vento cortante do outono argentino trouxe de volta lembranças antigas — o primeiro escritório, os sonhos erguidos ali, os almoços rápidos em Palermo, a sensação de estar exatamente onde devia estar.Agora, tudo isso era fumaça. Literalmente.O carro o esperava na pista. Ele entrou sem dizer uma palavra.— Direto para o local do incêndio, senhor? — perguntou o motorista.Guilherme apenas assentiu.O caminho até Palermo foi silencioso.As ruas, molhadas pela garoa da madrugada, refletiam as luzes dos semáforos como pequenas feridas abertas.Enquanto o carro deslizava, ele olhava pela janela e via flashes do que construíra — a cidade que o acolhera, o trabalho que o definiu, o nome que tanto
O relógio marcava 8h12 quando Júlia chegou à redação. O ar da manhã ainda trazia um frio leve, desses que anunciam a chegada do inverno, e o café forte na caneca da recepcionista parecia um convite para começar o dia. As luzes brancas, o som dos teclados e o vaivém apressado de jornalistas davam ao ambiente um ritmo próprio, quase como um coração batendo fora do peito.Júlia estava diferente. O cabelo, antes solto, agora vivia preso em um coque improvisado. O olhar, que costumava se perder nas lembranças, aprendia a se fixar em pautas, fontes e prazos. Fazia dois meses que ela havia saído de casa, e desde então, tudo o que restou foi o hábito de sobreviver.A rotina havia se tornado sua trincheira.A pauta da manhã: uma grande reportagem sobre irregularidades em obras públicas — matéria que, se conduzida com a precisão que ela tinha, poderia levá-la à promoção que tanto esperava.Mas, mais do que isso, era algo que a mantinha respirando.Trabalhar era esquecer.Trabalhar era não senti
O tempo tem um som próprio.Não o som dos segundos em um relógio, nem o dos dias passando no calendário — mas um som interno, quase imperceptível, que vibra dentro de quem espera.Era esse som que Júlia ouvia naquela manhã nublada de domingo, uma semana depois de ter deixado a casa onde viveu por seis anos.A cidade ainda dormia.Amanda tinha saído cedo para resolver coisas do jornal, e o apartamento estava mergulhado em um tipo de silêncio que não era vazio — era cheio demais.Cheio de lembranças, de dúvidas, de tudo que Júlia ainda não sabia como colocar em palavras.Ela estava sentada na cama, as pernas cobertas por um cobertor leve, o cabelo preso de qualquer jeito, e os olhos fixos no nada.Na mesa de cabeceira, o celular virado para baixo.Fazia dias que ela não abria as mensagens.Nem de Marcos.Nem de Guilherme.O tempo passava, e ela deixava.Como se precisasse que ele a atravessasse inteiro antes de poder se mover de novo.O quarto estava escuro. A cortina deixava entrar ape
O vento daquela noite tinha gosto de lembrança.Soprava do sul, frio, com um leve cheiro de terra úmida e de tudo o que o tempo insiste em não levar embora.Guilherme estava parado na varanda da pousada, o copo de uísque na mão esquerda e o celular na direita.O som baixo do rádio velho que o dono do lugar deixava na cozinha atravessava as paredes e chegava até ele, junto com a voz rouca de Alexandre Pires cantando “Depois do Prazer.”“Tô fazendo amor com outra pessoa…Mas meu coração vai ser pra sempre teu...”A música o atravessou como uma navalha.Não porque fosse exatamente sobre ele e Júlia — mas porque era sobre o depois.E ele estava vivendo o depois.Deu um gole no uísque, devagar.O líquido queimou a garganta, desceu quente, mas o frio dentro dele continuou intacto.O celular brilhava na palma da mão, mostrando aquela última mensagem que ele havia enviado fazia mais de uma hora:“Você tá bem?”Nenhuma resposta.O visto nem azul ficou.Ele encostou o copo na beirada da madeira
O silêncio que se instalou entre Júlia e Marcos não era apenas silêncio — era uma sala inteira respirando junto, esperando a próxima palavra, como se qualquer movimento pudesse desmoronar o que restava entre eles.Júlia sentiu o ar pesado, quase visível. As paredes da sala pareciam menores, mais próximas, como se a casa estivesse escutando.Marcos continuava ali, sentado à frente dela, as mãos unidas, os dedos entrelaçados tão forte que os nós estavam brancos. Seus olhos não fugiam dos dela. Mas não eram olhos que pediam. Eram olhos que aguardavam.— Eu preciso… — ela começou, mas a voz falhou, como se a frase tivesse peso demais para existir inteira.Respirou de novo — tentando não chorar, tentando não dissolver tudo ali mesmo.— Eu não posso te responder agora.Marcos fechou os olhos, por apenas um segundo. Mas aquele segundo foi o suficiente para que Júlia percebesse: ele já esperava essa resposta. Talvez desde o momento em que ela disse sim ao hotel. Talvez desde o momento em que
A noite em Nova Petrópolis passava devagar. O vento frio que vinha das montanhas tocava a janela do quarto, batendo de leve, como se quisesse entrar, mas soubesse que ali dentro havia algo frágil demais para ser tocado. Júlia estava sentada na cama, os joelhos encostados no peito, a toalha ainda envolvida no corpo como se fosse uma armadura improvisada contra o mundo.Ela tinha passado tanto tempo tentando ser forte que agora, quando finalmente estava sozinha, tudo desabava.O celular estava ao lado dela, a tela apagada, como se fosse uma porta para um mundo que ela não queria abrir. Lá dentro existia uma vida inteira construída com Marcos. Conversas, fotos, risadas, planos, viagens, aniversários, datas lembradas. Um casamento que não tinha sido feito de restos — tinha sido feito de cuidado. Ele tinha sido bom para ela. Ele tinha sido amor. Ele tinha sido casa.Mas havia um amor que veio antes.Um amor que foi fogo antes de ser dor.E quando fogo reencontra oxigênio, ele reacende.Ela





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