A casa estava silenciosa.
Depois do abraço, depois das lágrimas, depois daquela conversa que parecia ter tirado o ar do mundo — Marcos se deitou.
Não porque estava cansado, mas porque sabia que Júlia precisava de espaço. Ele não perguntou se ela ia dormir ao lado dele. Não pediu. Não sugeriu. Apenas deixou a porta do quarto entreaberta, como alguém que diz sem falar:
Eu estou aqui.
Júlia ficou na sala por alguns minutos, sentindo o corpo leve e pesado ao mesmo tempo.
Era estranho como o choro conseguia esvaziar e ao mesmo tempo inundar.
Ela caminhou lentamente até o quarto de visitas — um espaço que quase nunca era usado.
Ligou apenas o abajur. A luz suave pintava sombras nas paredes.
Ali havia uma prateleira com livros, uma manta dobrada sobre a cadeira e, na gaveta da escrivaninha…
Ela sabia o que estava ali.
O caderno.
Aquele de capa azul-marinho desbotada, com cantos amassados e marcas de sol.
Ela o guardara ali não por querer revisitar — mas por não conseguir jogar fo